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Projeto Sexualidade
05/12/2000 · por Paulo de Tarso Rezende Ayub

Como parte da consolidação da perspectiva do currículo cultural, o CENTRO EDUCACIONAL LEONARDO DA VINCI vem oferecendo, para alunos do 1º e 2º anos do Ensino Médio, disciplinas optativas tratando de temáticas que, em verdade, constituem eixos transversais por diversas áreas do conhecimento. Todo brasileiro é louco por carro, Introdução ao Comércio Exterior, Ética e Cidadania estão entre as "disciplinas diversificadas" propostas em 2000.

É nesse contexto que a condução da disciplina diversificada "SEXUALIDADE: Fatos e Mitos" vem assumindo o espaço da pluridisciplinaridade, levando os alunos a internalizarem conhecimentos para depois poderem atuar como inspiradores/mediadores, bem como se manifestar sobre o assunto com poder de argumentação, coerência, senso crítico e sensibilidade/controle emocional.

# 2472# O professor mediador dos trabalhos – Paulo de Tarso Rezende Ayub – concebeu um planejamento de trabalho flexível, em quatro fases: Sensibilização; Conscientização; Problematização e Extrapolação, abrindo a possibilidade de essa proposta de pesquisa ser alterada por iniciativa dos alunos participantes. A apresentação do projeto se deu com o professor "dramatizando" um monólogo em que assumia o papel de um pai moderno, esperando a filha retornar da rua, a altas horas da madrugada, reconhecendo as dificuldades e limitações do adulto em "lidar" com a sexualidade dos filhos – leia aqui o texto do "Monólogo", que obteve grande reciprocidade por parte da maioria dos alunos que o assistiram. Abertas as inscrições, a disciplina SEXUALIDADE obteve 25 adesões entre os alunos dos 1os anos do Ensino Médio.

A seguir, é apresentada uma síntese das diversas fases dos trabalhos:


1ª SEMANA

No primeiro contato do grupo, foi aberto um espaço para que os alunos se manifestassem sobre as razões (de natureza pessoal, profissional e científica) que os levaram a optar pela disciplina diversificada, bem como para que apresentassem suas expectativas e inseguranças em relação ao andamento dos trabalhos. Cada participante preencheu uma ficha para sistematizar esses dados. Em seguida, houve oportunidade de alguns se exporem para os grupos, começando a instalar o espírito coletivo necessário para o bom êxito da disciplina.
O professor mediador dos trabalhos fez um levantamento estatístico dos dados fornecidos pelos alunos, que constitui um rico material para análise, pela leitura de linhas e entrelinhas que pode suscitar.
Na segunda etapa do dia, os alunos assistiram ao filme A OSTRA E O VENTO, que trata do desabrochar da sexualidade de uma forma poética e instigante – narrando a história de uma adolescente confinada numa ilha (sob a vigilância de um pai repressor), despertando para o vulcão da sexualidade sem referências, o que a faz usar a fantasia como sustentação do viver, criando um amante imaginário, personificado no vento. Após assistirem ao filme, os alunos foram estimulados pelo professor a lerem as metáforas empregadas; a tecerem suas interpretações pessoais; a revelarem pontos de não-entendimento; a partilharem suas angústias e a apresentarem críticas. Ao final, o professor sugeriu que os alunos que quisessem produzir um ensaio, resenha ou texto poético a partir do filme que o fizessem para a próxima semana.
No primeiro encontro, uma primeira impressão favorável: o tempo de 4 horas/aula "voou" e houve grande envolvimento dos participantes com o andamento dos trabalhos.

2ª SEMANA

O encontro foi iniciado com a leitura e interpretação de dois poemas produzidos pelas alunas Gabriela e Marcela, belíssimas leituras do filme "A ostra e o vento". Começou-se, assim, a dar corpo a uma intenção relevante da disciplina diversificada: produzir vôos individuais, em caráter de ensaio. Os poemas das alunas foram socializados para os demais participantes, valorizando-se a produção das alunas, até para estimular novas iniciativas.
Num segundo momento, o professor trabalhou com os alunos o texto "Nunca aos Domingos", de Carlos Eduardo Novaes, que institui uma dialogia com as diversas linhas de pensamento em torno da sexualidade, mostrando como são relativas e jamais devem ser encaradas como verdades absolutas (e os participantes são estimulados a tecerem suas percepções e ensaios, ao longo do projeto). Os alunos aprofundaram-se na leitura de entrelinhas, na descoberta de ironias e outros recursos de linguagem, na extrapolação do texto para articulá-lo com a realidade. Foi um momento valioso de inter-ação/leitura coletiva.
Em seguida, os alunos discutiram, a partir de uma planilha fornecida pelo professor, a projeção de custos para a realização de cursos e encontros com especialistas na área. Foi mostrado a eles a importância de realizar treinamentos extraordinários para aumentar seu aparato teórico/emocional e permitir-lhes uma leitura mais crítica/aprofundada sobre a SEXUALIDADE. Os alunos foram estimulados a tomar decisões a propósito da relação custo/benefício e a pensar em estratégias de relativização de gastos. Houve sugestão no sentido de, em algumas etapas do trabalho, serem convidados alunos de 8ª série, que vêm manifestando grande interesse pela temática, o que representaria pulverização de gastos. Ao final da discussão, os alunos acolheram todas as sugestões de cursos oferecidas pelo professor, inclusive a vinda de profissional de São Paulo para tratar de Sexualidade e Mídia. Um grupo de alunos assumiu a condução de assuntos financeiros e a negociação com alunos não integrados ao grupo de pesquisa, mas que eventualmente poderiam participar dos trabalhos.
A última etapa deste dia consistiu na divisão do grupo em dois grandes subgrupos: um para cuidar de pesquisa na Mídia Impressa e outro para viabilizar apresentação das linhas gerais do projeto para alunos de 8ª série. O professor discutiu em profundidade a essência de um trabalho de pesquisa para mostrar aos alunos como produzir material pertinente, que gere interesse para o público-alvo; o roteiro para condução de pesquisa qualitativa foi fornecido pelo professor, a fim de balizar a pesquisa dos alunos.
Além disso, um subgrupo, exercendo autonomia de pensamento e iniciativas, viabilizou um esquema para alicerçar a interação com os alunos de 8ª série, planejando uma minidramatização e as bases do discurso a ser levado para a sala de aula.

3ª SEMANA

O dia se iniciou no Laboratório de Informática, para que os alunos pudessem receber orientações do professor sobre a abordagem da sexualidade na INTERNET. Foram consultados alguns sites específicos (já de conhecimento do professor e de outros alunos, com ênfase para um ícone do UOL destinado a adolescentes) e criado um endereço eletrônico para o grupo.
Ficou combinado que o grupo deveria continuar a pesquisar ao longo da condução dos trabalhos, visando a fornecer "dicas" para outros alunos, a respeito de sites interessantes. A INTERNET já é uma ferramenta bastante utilizada pelos alunos do projeto, especialmente para fins de pesquisa e bate-papo, o que ficou evidente nessa etapa dos trabalhos.
Uma parte do grupo deslocou-se para as 8ª séries, a fim de dar-lhes a conhecer as etapas do projeto SEXUALIDADE. Num primeiro momento, apresentaram um monólogo, na verdade uma dialogia entre aspectos contraditórios da personalidade de uma adolescente em vias de iniciar-se sexualmente. Em seguida, foi sintetizado o nosso cronograma de trabalho e "verbalizada" a intenção de, ao final dos trabalhos, os grupos de 8ª série serem contemplados com uma oficina e cursos de formação ministrados por nós. Além disso, deixou-se, em cada sala, uma caixa-coletora, para que os alunos expusessem suas dúvidas em torno da sexualidade, sem precisarem se identificar.
Enquanto isso, outro subgrupo cuidava de pesquisar dúvidas de adolescentes em torno da sexualidade. Um grupo escolheu como corpus de pesquisa diversos suplementos do jornal FOLHATEEN, um dos mais conceituados em matéria de acesso do público adolescente a temas de seu interesse. Esse grupo foi orientado pelo professor para produzir uma pesquisa instigante, mais que uma mera coleta de dados estatísticos. O professor analisou com eles diversos dados tabulados e levou-os a construir considerações e pareceres sobre o material de pesquisa. Um subgrupo preparou uma planilha para consolidação do resultado de seu trabalho.
Outro subgrupo fez uma pesquisa estatística sobre dúvidas em torno da sexualidade que aparecem na Imprensa e decidiu verificar se, na Escola, a incidência de temáticas segue uma mesma linha de pensamento. O material foi organizado e feita uma comparação relevante (em termos quantitativos).

4ª SEMANA

Os alunos receberam material da revista VEJA (textos Geração Perigo e Os pais estão confusos) para analisar em forma de seminários. O professor distribuiu um roteiro para fichamento dos artigos, estimulando os alunos a se manifestarem sobre idéias principais da matéria; pontos positivos e discordâncias em relação à abordagem; aspectos não assimilados; idéias interessantes a partir da leitura e recomendação para futuros leitores; aspectos como pertinência, originalidade, redação técnica e uso da linguagem e relevância. As leituras se mostraram críticas e os alunos permitiram-se ensaiar suas próprias interpretações sobre o assunto. A participante Larissa inteligentemente tratou da questão da GRAVIDEZ PRECOCE, demonstrando que antigamente as adolescentes também viviam esse dilema, só que com apoio "institucionalizado" da família, o que não significava estarem preparadas para o difícil papel de "ser mãe", com as alterações corporais e psicológicas que a gravidez não planejada gera. Os subgrupos inferiram que, às vezes, a Mídia trata até com um certo artificialismo de temas que geram bastantes polêmicas e diversidades de pensamento, como se algumas situações retratadas pudessem mesmo ser consideradas uma referência "linear".
Na segunda parte dos trabalhos, os alunos foram para o auditório e tiveram oportunidade de assistir a um Globo Repórter sobre SEXUALIDADE. A aluna Júlia Vasconcellos, consolidando por escrito suas impressões a respeito, destacou que a SEXUALIDADE FEMININA é mais abordada e discutida do que a SEXUALIDADE MASCULINA; que muitas mulheres estão mais preocupadas em satisfazer o prazer masculino que o seu próprio; que é possível ser feliz sem uma vida sexual ativa; que o mercado hoje trata dos problemas de impotência masculina e frigidez feminina com bastante flexibilidade, oferecendo mecanismos de tratamento impensáveis até tempos atrás. O grupo valorizou algumas iniciativas apresentadas no programa, quando adolescentes e jovens atuam como orientadores sobre sexualidade (a exemplo do que estamos pretendendo) e se impressionou com a tradição de alguns países da África e da Ásia, em que se mutilam mulheres para impedir que sintam prazer, garantindo futura fidelidade aos maridos. Chamaram a atenção do grupo os aspectos psicológicos e socioculturais que envolvem a SEXUALIDADE, e que acabam gerando uma série de mitos, distorções e angústias que uma conscientização mais aprofundada minimizaria.

5ª SEMANA

O professor parou com o grupo para fazer um levantamento do andamento dos trabalhos, apresentando assuntos para tomadas de posição e implementação de providências. Pensou-se em criar um subgrupo para verificar a possibilidade de criar uma home-page sobre o projeto, mas foi tratada da dificuldade de viabilizar a atualização desse instrumento, pois o grupo se separará ao final do ano letivo. De qualquer forma, ficou a sugestão de transmitir, pela INTERNET, todos os ensinamentos e experiências vivenciados.
Em seguida foi feita abertura das caixas-coletoras das oitavas séries. Os alunos tiveram posturas heterogêneas no contato com o projeto, alguns apresentando questionamentos pertinentes, outros optando por "brincadeiras" e perguntas sem fundamento. Foi feita uma consolidação das perguntas, tendo sido consideradas as mais relevantes.
Deu-se continuidade ao tema "O Sexo na Mídia". Os alunos assistiram a uma nova versão do GLOBO REPÓRTER, tratando sobre a vida de garotos de programa e da dissimulação de pessoas a respeito de suas vivências sexuais, bem como da indústria de filmes pornográficos. A aluna Clarissa consolidou suas impressões a respeito do programa, destacando a angústia e os riscos que marcam a vida pessoal dos sujeitos retratados. O professor estimulou os demais participantes a manterem uma postura mais atenta no contato com programas de caráter educativo, anotando dados, fazendo observações pessoais e registrando posições críticas. Em seguida, foi-se para o auditório e assistiu-se a uma edição do MTV Erótica, ficando a aluna Thaís responsável por consolidar os dados e impressões. A aluna foi incentivada a produzir um ensaio, diante da riqueza de suas observações.

6ª SEMANA

Na primeira parte dos trabalhos, os alunos realizam uma pesquisa em torno de revistas eróticas. Apareceram, como material de pesquisa, as revistas Playboy, Íntima e Capricho. A aluna que havia ficado responsável por levar a revista Ponto G não pôde comparecer por motivo de doença. Os alunos que analisaram a revista Playboy perceberam que a revista varia o uso da linguagem de acordo com a "manequim" que posa: Vera Fischer e Angela Vieira, em padrão mais para o erótico; Feiticeira e Tiazinha, em versão mais para o pornográfico. O subgrupo que pesquisou esses materiais fez uma rápida síntese das estratégias utilizadas pela revista para seduzirem o público leitor.
O subgrupo que analisou a revista Íntima concluiu que se trata de uma revista dirigida ao público feminino, que contempla temas de interesse mais amplo que o sexo propriamente dito. Os ensaios de nus masculinos não contam com a complementação da linguagem (como ocorre em Playboy) e há uma forte incidência de "dicas" para aumentar o prazer sexual, com relato de casos que não se sabe até onde reproduzem fatos verdadeiros.
O grupo que analisou a revista Capricho criticou o tom "utópico" da revista, tratando geralmente da sexualidade como algo perfeito, que não gera grandes conflitos.
Essa etapa surpreendeu, pois se esperava outro impacto. Os alunos não se interessaram muito em se aprofundar na leitura crítica das revistas, talvez por que não se trate de material rico para efeito de pesquisa, em contar na "padronização" de linguagens e estilos.
Num segundo momento, as alunas Natália e Tharcila foram debatedoras em torno do subtema: Limites e Permissividade em matéria de sexualidade na adolescência. O debate foi rico e contou com a participacão de todos. Alunos trouxeram suas experiências pessoais para ilustrar suas percepções e foram incentivados a observarem criticamente o universo que as cerca.
Tratou-se, em especial, dos riscos de uma convivência não saudável entre adolescentes e seus familiares, criando uma atmosfera de dissimulação e "mentira". Os alunos mudaram de posição: de receptores do conhecimento para debatedores e problematizadores.
Ficou faltando realizar o debate sobre PORNOGRAFIA e EROTISMO, adiado para uma próxima etapa.

7ª SEMANA

Na primeira etapa dos trabalhos, foi distribuído aos alunos material produzido pelo GASS, um grupo local de pesquisa sobre sexualidade formado por alunos de Sociologia da UFES, que vem obtendo projeção nacional devido à qualidade de seus trabalhos e à consistência de suas pesquisas. Os alunos leram uma carta elaborada pelos integrantes do grupo e puderam ter acesso à filosofia de atuação, linguagem própria e marcas de irreverência "séria". O professor vem procurando estimular os alunos a cohecerem previamente o pensamento dos palestrantes, para melhorar a inter-ação no dia do encontro propriamente dito.
Na segunda etapa, foi realizada palestra do Professor Marco Antonio Araújo sobre MÍDIA E SEXUALIDADE. Um marco no projeto. O professor e os alunos tomaram boa nota dos aspectos trazidos pelo palestrante e depois os discutiram para internalizar o conhecimento.
Ao final, foi feita uma apreciação da atuação do palestrante. Pediu-se aos alunos integrantes do grupo de estudo que produzissem pareceres críticos pessoais sobre a palestra pertinente, enviando-os via e-mail. O professor elaborou seu parecer e remeteu para o palestrante. Enfatizou a maestria deste em conseguir juntar cientifidade e poesia, tanto em termos de conteúdo quanto no uso da linguagem e na inter-ação com o público ouvinte. Além disso, ressaltou a transparência do expositor ao falar de tema tão delicado (e aparentemente gasto, mas com superficialidade), pois os adolescentes de hoje são bombardeados por iniciativas "manipuladoras" da Mídia e fazer enxergá-los isso com clareza e senso crítico, sem desconsiderar suas percepções pessoais, não é tarefa fácil.
O professor Marco Antonio fez um passeio histórico pelas questões da Sexualidade, além de trazer dados específicos sobre diversas ciências que abordam profundamente a temática (Psicologia, Antropologia e Sociologia, em especial). Tratou da sexualidade não com falso moralismo, mas com sensibilidade e conhecimento de causa – sem parecer dono absoluto da verdade.
Usou metáforas bastante apropriadas e fez uma integração entre diversas áreas do conhecimento. Abordou os riscos de se querer que a SEXUALIDADE INFANTIL siga o parâmetro da SEXUALIDADE ADULTA, criticando a "ideologia da era silicone" e o endeusamento de partes corporais (bunda e seios), sem considerar o todo da pessoa. Houve até espaço para declamação de poema de Fernando Pessoa (o palestrante já foi ator profissional). O professor e os alunos embeberam-se da palestra e certamente poderão retransmitir muito do que internalizaram.

8ª SEMANA

Na oitava semana dos trabalhos, os participantes receberam os quatro integrantes do Grupo GASS, já citado anteriormente. Compareceram quatro integrantes, atribuindo-se a cada um deles a função de tratar de um subtema, de modo amplo. O aluno Zander, por sua própria iniciativa, produziu um ensaio crítico-teórico sobre o encontro mantido com o grupo GASS.
Quem quiser conhecer melhor a filosofia do grupo GASS, ou manter contatos mais estreitos com seus integrantes, deve utilizar o endereço eletrônico gass@bol.com.br.
Além das explanações propriamente ditas – em que ficou evidente o aparato teórico dos integrantes e conhecimentos de causa decorrentes dos trabalhos de pesquisa e vivências práticas -, o grupo soube manter uma ótima inter-ação com os espectadores, abrindo espaços para a constante dialogia. Além disso, realizou dinâmicas que atraíram os participantes pela profundidade e envolvimento/interiorização. Ao final, alguns alunos comprometeram-se a enviar e-mail para os grupos, a fim de apresentarem pareceres críticos sobre os trabalhos desenvolvidos, enquanto outros preencheram ficha de avaliação fornecida pelo professor, para avaliar domínio de conteúdos, aprofundamento das abordagens, clareza e correção na comunicação, uso de recursos didáticos e dinâmicas empregadas pelo grupo expositor, inter-ação com os alunos participantes, administração de tempo e emprego da linguagem. No geral, as avaliações foram bastante favoráveis, permitindo-se alguns integrantes fazer sugestões para aperfeiçoamento da atuação do grupo, o que afinal deveria ser propósito de toda atividade interativa.

9ª SEMANA

Na primeira parte dos trabalhos, os alunos Ariana Rocha e Bruno Vial fizeram um interessante debate sobre PORNOGRAFIA E EROTISMO. Os debatedores tentaram sistematizar os dois conceitos, mas encontraram dificuldade devido à relatividade que marca sua percepção e à dificuldade de obter uma unidade de pensamento em torno de adjetivos tão "polêmicos". Bruno Vial chegou a pensar em construir uma tabela para sistematizar as seguintes impressões: +ERÓTICO; +ERÓTICO-PORNOGRÁFICO; +PORNOGRÁFICO-ERÓTICO; +PORNOGRÁFICO, concluindo posteriormente que seria difícil realizar uma sistematização desse tipo devido à indefinição que marca as questões da SEXUALIDADE. A aluna ARIANA fez uma análise da Revista Ponto G e de como é permeada pela pornografia, mais que pelo erotismo. Foi gratificante perceber os alunos tratando com propriedade de questões tão difíceis de serem abordadas, principalmente pela "banalização" com que a sociedade vem tratando das questões de sexo e sexualidade.
Na segunda parte dos trabalhos, os alunos tiveram acesso ao filme ALMAS GÊMEAS, um clássico do Cinema Americano que relata o drama de duas adolescentes neozelandesas que se envolvem numa relação homossexual por não darem conta da realidade em que são inseridas, marcada pela decadência das instituições e pela hipocrisia nas relações humanas. As amigas criam um "Quarto Mundo", em que a fantasia prevalece e a realidade é reconstruída. Os alunos impressionaram-se muito com o filme e manifestaram interesse em revê-lo. É uma boa indicação para quem aprecia obra-de-arte e nutre sensibilidade para as práticas de contação de histórias e criação de roteiros. Além disso, o filme pode estimular uma boa discussão acerca dos impactos da formação global do homem nas vivências da sexualidade. Fica como uma boa sugestão de entretenimento e reflexão.

10ª SEMANA

O grupo recebeu as profissionais Cláudia Márcia (ginecologista e obstetra) e Cláudia Cristina (psicóloga), uma "dupla" que já realizou atividades integradas em torno da SEXUALIDADE em outras Instituições e que desenvolve uma proposta interessante de construção do conhecimento.
As profissionais realizaram dinâmicas de "quebra-gelo" e "despertar de sensibilidade" perante os alunos e não adotaram a iniciativa de transmitir informações, mas sim de propor "estudos de caso" em que se conjugassem abordagens de aspectos físicos, socioculturais e psicológicos em torno da sexualidade. Foi interessante que ambas as profissionais (obviamente que com cuidado ético) consideraram os conhecimentos prévios dos alunos e, ao se pronunciarem, trouxeram suas experiências de consultório para enriquecer os debates e elucidar dúvidas trazidas pelos participantes. O tempo revelou-se pouco suficiente, não dando para fechar o "ciclo" dos estudos de casos, o que não invalidou a proposta e a potencialização do conhecimento por ela trazida. A dinâmica final foi emocionante, pois os alunos foram estimulados a idealizar uma situação em que abririam mão de um objeto material, sentimento, pessoa e parte corporal, para verificar a que estado chegariam. Tudo isso para demonstrar como a sexualidade deve ser descoberta num esforço individual, em que busquemos o que está fora de nós como ponto de apoio, mas jamais como nossa sustentação definitiva.

11ª SEMANA
Foi realizado um curso do SENAC (institucionalizado, com direito a certificado oficial de participação) sobre MÉTODOS CONTRACEPTIVOS; DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS e GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA. O instrutor: João Carlos, enfermeiro com larga experiência na ministração de cursos e em situações de atendimento a pacientes com uma dessas problemáticas.

O instrutor preparou um material didático de fácil compreensão e soube repassar conhecimentos teóricos de uma forma integrada e com uma linguagem acessível (sem ser banalizada). Os alunos participantes acompanharam atentamente as explanações do professor e interferiram com perguntas e colocações pertinentes. Não se tratou apenas dos temas sob um ponto de vista técnico, o que valorizou as abordagens.

12ª SEMANA

Neste período, o grupo foi subdividido para organizar a oficina de finalização, destinada a alunos de oitavas séries, e com a qual se fecharia o Projeto. Os alunos foram conscientizados para a necessidade de elaborar roteiros; delimitar tempos para cada atividade; definir linhas de argumentação e estratégias de interatividade.
Um subgrupo optou por fazer uma minidramatização, mostrando "flashs" de vivências em torno da Sexualidade: a dor de uma namorada traída ao descobrir que seu namorado é bissexual; o dilema de uma adolescente em dificuldades com o namorado, por este pressioná-la para transar, sem que ela esteja preparada; a gravidez na adolescência e os conflitos entre os pensamentos masculino e feminino na vivência da sexualidade e suas conseqüências; relacionamento homossexual entre "meninas" – e reafirmação de tabus/preconceitos em torno das diferenças de opção sexual.
Mais um sugbrupo preparou outra minidramatização, em que uma aluna representando a SEXUALIDADE seria rodeada por cinco outras, representando sentimentos outros: INVEJA, REPRESSÃO, RELIGIÃO, SEXO e EGOÍSMO, todos a impactar desfavoravelmente as percepções da sexualidade. Os alunos escreveram as "falas" de cada uma dessas personagens (personificação de sentimentos).
Decidiu-se que os alunos Bruno Vial e Ariana repetiriam o debate sobre PORNOGRAFIA e EROTISMO, e atribuiu-se às alunas Marina Pompeu, Mariana Miotto e Larissa Cid o desafio de explanarem sobre obras clássicas da sexualidade, a saber: DEPOIS DAQUELA VIAGEM (autoria de Valéria Piassa Polizzi - Ed. Ática); O TERCEIRO TRAVESSEIRO (autoria de Nelson Luiz de Carvalho - Ed. Mandarim) e LUXÚRIA: A casa dos budas ditosos (Coleção Pecados Capitais, autoria de João Ubaldo Ribeiro). Para a aluna Gabriela Miranda, ficou definido que faria uma abordagem para sugerir o filme "A ostra e o vento", oportunidade em que declamaria poema de sua autoria em torno da pélícula. Por fim, o encontro seria fechado com uma dinâmica para "responder" às perguntas formuladas pelos alunos das oitavas séries na fase inicial do projeto.
Esse dia foi marcado por um intenso trabalho de equipe e colaboração, com claras definições de papéis e um trabalho integrado de linguagens, sem falar na elaboração de roteiros e na organização de "discursos".

13ª ETAPA:


Como previsto na semana antecedente, foi realizada a oficina com alunos de oitavas séries, no anfiteatro da Escola. As apresentações e dinâmicas realizadas conquistaram a atenção da "platéia", especialmente na fase final, quando os alunos participantes do projeto convidaram os próprios espectadores para responderem às perguntas formuladas.
Ao final, uma dinâmica em que se propunha que os alunos demonstrassem como usariam um objeto "guardado" no interior de diversas caixas, em se tratando de sexualidade. Os alunos esperavam que tivessem de se posicionar quanto a algum preservativo ou vibrador, mas foram surpreendidos com um "bombom". Verificou-se, então, como a repressão da sociedade impacta as mínimas coisas da sexualidade, pois os alunos ficavam "temerosos" em receberem tal objeto e terem de se expor para os demais. Fechou-se a discussão demonstrando a diferença entre SEXO e SEXUALIDADE.

As minidramatizaçãoes cumpriram os objetivos para os quais haviam sido concebidas e as dinâmicas para sugestão de livros/filmes em torno da sexualidade se destacaram pela abordagem ao mesmo tempo leve e aprofundada.

A interação com os espectadores foi bastante favorável, surpreendendo o grupo organizador, que pensou que faria mais uma transmissão de conhecimentos e informações, quando na verdade experimentou uma troca e uma discussão de aspectos ideológicos e socioculturais em torno da SEXUALIDADE.

CONCLUSÕES

Em todas os contatos com palestrantes, notamos uma mudança no perfil das relações entre emissor/receptor (conceitos questionáveis), pela interatividade com os alunos. Os expositores fizeram uma constante dialogia com os ouvintes, que souberam se posicionar com clareza e tempestividade, para não interromper o fluxo das palestras. Todos os convidados elogiaram o nível de consciência do grupo e avaliaram positivamente a interação mantida. Em nenhuma das palestras, os alunos atuaram como receptores passivos: polemizaram, questionaram, apresentaram propostas. Os palestrantes, por sua vez, foram receptivos e acolhedores. Talvez o êxito da etapa de PROBLEMATIZAÇÃO não tivesse sido tão grande se o projeto se iniciasse a partir dela. Na verdade, a primeira etapa dos trabalhos foi rica porque enfatizou um processo de construção, fazendo os alunos se apropriarem do conhecimento; analisarem discursos e programações com conotação sexual; atuarem como debatedores; assistirem a filmes e lerem/discutirem textos publicitários e científicos; realizarem pesquisa para verificar dúvidas e consolidar dados obtidos na Imprensa Especializada. Quando foram para as palestras, tinham um aparato teórico e um preparo emocional razoáveis.
A disciplina diversificada gera novas concepções para o conhecimento. Os alunos internalizam, sem sombra de dúvida, múltiplos saberes e, mesmo que não os manifestem em formas tradicionais (especialmente na expressão escrita), deixam isso evidente quando atuam como debatedores, quando se posicionam criticamente perante o que lêem e o que ouvem, quando constroem casos práticos e se posicionam como sujeitos de todas as etapas. Alguns alunos se aventuram a produzir seus ensaios individuais, mas a grande maioria ainda é tímida nesse aspecto. Talvez seja pela pouca idade (e talvez essa expressão final do conhecimento venha a reboque, numa outra perspectiva temporal). Há uma resistência ao uso da escrita, pois parece que o que se escreve terá um impacto maior tanto para quem escreve quanto para quem lê. Os alunos ficam "inseguros" em mostrar suas percepções formalmente, apesar das demonstrações do professor no sentido de que muito do que se aborda, em matéria de sexualidade, é traço pessoal de pesquisadores, encontrando vertentes de pensamento totalmente divergentes. Não há dúvida de que a oralidade foi muito mais desenvolvida do que a escrita, o que não deixa de ser um mérito representativo do projeto, nessa época em que o "falar" passa a ser muito mais do que apenas "usar palavras".
Os alunos puderam conhecer o que o mercado oferece em matéria de treinamento. Foram estimulados também a se posicionar criticamente perante cada oportunidade de contato com profissionais externos. Compreenderam a responsabilidade que caberia a cada um, em matéria de pulverização de custos – mesmo quando não puderam participar de um treinamento, arcaram com os custos proporcionais calculados. Estabeleceram comparações e fixaram parâmetros para análise.
É preciso investir numa iniciativa de avaliação diferenciada, para valorizar o espírito das disciplina diferenciadas. Seria utópico considerar que todos os participantes se envolvem da mesma forma, com o mesmo comprometimento – e que todos os alunos são lineares num espaço de tanta problematização e construção. Há diversidade de posturas, procedimentos e atitudes – e uma clara primazia de aspectos favoráveis sobre os desfavoráveis. Mas é preciso incorporar as disciplinas diversificadas ao tratamento dado à grade curricular da Escola, para evitar a sensação de que se trata de um momento estanque e desvinculado das disciplinas da base comum.

A oportunidade de socializar conhecimentos e vivências emocionais adquiridos ao longo do projeto, com alunos de oitavas séries, foi sem dúvida um marco do projeto. Não se investiu em amplitude de eventos, mas se cuidou da essência do que seria partilhado. Os alunos integrados ao projeto se mostraram conhecedores de causa, preparados para "desfiar" percepções e capazes de realizar seus próprios ensaios. Ficou nítido, ao final do processo, que o êxito da disciplina diversificada (ou fracasso, se fosse o caso) seria da responsabilidade de todos os envolvidos. A grande maioria, numa avaliação final, enalteceu a iniciativa e sugeriu sua extensão para os próximos anos. No Anexo nº 10, estão expostos alguns pareceres representativos de alunos participantes. Vale a pena examinar esse material, fazendo-o objeto de reflexão e estímulo para iniciativas revigoradas de educação.
Volta

PARECERES DE ALUNOS PARTICIPANTES DO PROJETO

"Durante todo o percurso em que estivemos reunidos, tivemos uma visão ampla de como a sexualidade ainda é um mistério entre as pessoas. Ela é diversificada, pois cada um possui diferentes formas de sentir e proporcionar o tão esperado "prazer".
A cada encontro, a cada vivência, aprendemos como lidar com este fato. A dificuldade dos integrantes do grupo em falar sobre o tema foi superada e o fechamento do curso, surpreendente.
As experiências com psicólogos, ginecologistas, o GAAS (Grupo de Adolescentes sobre Sexualidade) foram bem estimulantes e trouxeram situações bem interessantes para os alunos resolverem.
Os debates realizados e as dinâmicas de grupo também foram bem originais.
Agora, sabemos que a sexualidade não é o mesmo que sexo, pois engloba tudo. O desejo, o modo de vestir-se, o jeito de andar, falar, sorrir e, obviamente, o ato sexual. Todos nós apresentamos um certo tipo de sexualidade; é só demonstrarmos.
Depois desse projeto, posso dizer que crescemos um pouco mais e que, por ser uma experiência completamente nova, foi extremamente gratificante ver seu resultado."

Clarissa Gerhardt

"No meu ponto de vista, o projeto SEXUALIDADE: Fatos e Mitos foi uma iniciativa que deu certo principalmente pela interação do grupo e pela forma como este tratou do assunto. Quando falo o grupo, nele incluo o professor, que durante um semestre não atuou somente como professor, pois ele estava ali para aprender muitas coisas, como todos nós. Percebi que o campo da sexualidade é muito amplo e amplo o suficiente para, mesmo depois de tanto tempo de trabalhos e pesquisas (apesar desse tempo ter passado com uma velocidade surpreendente), perceber que ainda não sei muita coisa sobre sexualidade. Muito do que aprendi e principalmente o que mais me tocou foi a forma não física com que tratamos do assunto: podemos perceber a sexualidade num simples toque, num simples perfume. O projeto se desenvolveu de uma forma surpreendente, que eu não esperava. Espero que todas as vivências que juntos aqui tivemos possam ser repassadas, para que outras pessoas possam ter a oportunidade que tivemos. Espero também que todos os outros alunos que junto comigo estiveram durante esse tempo compartilhem da minha opinião."

Natália Martins Pimenta

"O projeto SEXUALIDADE muito me comoveu, me ensinou, me interessou. Desde o princípio estava certo de que este seria um dos melhores; estava certa de que projeto conseguiria atingir metas tanto pelo lado dos aprendizes quando pelo lado do mediador.
Além de garantir satisfação para os componentes do projeto, aumentou em muito o conhecimento dos pequenos incertos.
Foi uma grande fonte de aprendizagem, revelações, amizades, do que muita falta sentirei com o tempo. As palestras foram recebidas com entusiasmo, mesmo que muitas vezes o cansaço tenha batido de frente e os problemas e discussões, é claro, tenham se mostrado pouco objetivos, às vezes. Porém posso dizer que, ao final, transpassamos todos esses muros, que impediam nosso trabalho, sendo levados pela asa da sabedoria.
Agora só nos resta a pequena expectativa de uma continuidade, pois, se formos no fundo de nós mesmos, não seremos poupados do desafio do sofrimento de tudo ter se acabado."

Thais Silva Vescovi

"Sexualidade. Ao entrar nesse projeto, eu não imaginava quantas coisas estão relacionadas a esta palavra. Ela está conosco o tempo todo, sendo o modo de olhar, de encarar o mundo ... estando dentro de cada um de nós. Esse projeto me deu a oportunidade não de entender a sexualidade, mas sim de vê-la como algo que deve ser explorado, nunca reprimido.
Pude me surpreender com a naturalidade do grupo, discutimos sobre sexo e sexualidade abertamente, nos envolvemos com as propostas, participamos das dinâmicas.
Com certeza, posso dizer que tenho, hoje, uma visão diferente sobre a sexualidade. Aprendi muito com todos do grupo e espero que eles tenham aprendido algo comigo."

Marina Pompeu

"O projeto SEXUALIDADE foi uma oportunidade de se aprender e compreender um pouco mais sobre esse amplo universo; em grande parte cumpriu seu objetivo, trazendo especialistas para nos elucidar sobre o assunto, promovendo debates e trocas de idéias. Porém, ele tornou-se um pouco disperso; os assuntos eram, por vezes, tratados de forma superficial e, apesar da boa interação do grupo, a timidez e a repressão da sociedade "falaram" mais alto e certos temas eram pouco abordados. Tivemos alguns assuntos desinteressantes e algumas partes de palestras realmente entediantes. Ainda assim valeu a pena participar de tudo isso, pois toda experiência é válida."

Bruno Vial

"Começo meu parecer reclamando da falta de tempo. Creio que uma vez na semana é pouco: apesar de termos tirado o máximo do projeto, aprendi a "usar melhor" minha sexualidade; e apesar das poucas conversas sobre a sexualidade feminina, o pouco já me valeu para aprendizagem.
O projeto ajudou-me a perder um pouco da vergonha enorme que possuía e tirou-me dúvidas.
Finalizo meu curto e nobre parecer dizendo que não gostaria de que terminasse este ano, pois a sexualidade é um assunto quase infinito."

José Roberto Frigini Pinto Filho

"Na minha opinião, o projeto SEXUALIDADE serviu de base para realizações futuras, pois palestras que foram ministradas servirão de encaixe para, no futuro, utilizar questões e debates feitos nesse projeto.
O que mais me marcou, no entanto, foi perceber, em uma das palestras, que sexo não está diretamente relacionado a sexualidade, sendo que esta abrange desde o ato do andar até o sexo em si mesmo."

Mariana Miotto

"Sexualidade ... Um tema aparentemente comum, porém bastante diversificado. Algo que pode mudar radicalmente, dependendo apenas da área do enfoque. Nesse projeto, tentamos enxergá-la de várias formas, principalmente do ponto de vista social.
A escolha da disciplina diversificada se deu de forma mais fácil para alguns; eu já tive um pouco mais de dificuldade. Havia várias propostas interessantes a princípio, mas este me chamou a atenção em especial, por motivos que só fui entender ao fim do projeto. A abrangência e a beleza do tema são coisas únicas no mundo e com certeza merecem nossa atenção e estudo.
O envolvimento com a proposta veio aos poucos. Mais rápido para uns; mais lento para outros. Eu me incluo no segundo grupo e lamento por isso; afinal, poderia ter tido um maior aproveitamento do conteúdo. Porém, apesar disso, acredito ter conseguido contribuir com o rendimento do grupo e, com este, colher os frutos do nosso trabalho. Frutos estes que nos ajudaram a compreender melhor a sexualidade de forma geral, e inclusive entender melhor situações atuais de nossas próprias vidas.
Que o projeto foi uma experiência marcante no 1º ano, não tenho dúvidas. Embora a "parte escrita" não tenha sido muito desenvolvida, todos os participantes agora entendem bastante do assunto, são capazes de formar idéias e defender seus pontos de vista de forma plausível.
Em resumo, foi uma atividade recomendável. Trabalhada com seriedade e prazer ao mesmo tempo. Espero que a Escola (e o mediador) mantenha a proposta para o ano que vem, pois queremos que outros possam ter o prazer de desfrutar de agradabilíssimas semanas."

Saulo Salvador Salomão

MONÓLOGO

Vídeo de Elis Regina cantando a canção "Aos nossos Filhos".

AOS NOSSOS FILHOS (Ivan Lins / Vítor Martins)

PERDOEM A CARA AMARRADA / PERDOEM A FALTA DE ABRAÇO
PERDOEM A FALTA DE ESPAÇO / OS DIAS ERAM ASSIM ...
PERDOEM POR TANTOS PERIGOS / PERDOEM A FALTA DE ABRIGO
PERDOAM A FALTA DE AMIGOS / OS DIAS ERAM ASSIM ...
PERDOEM A FALTA DE FOLHAS / PERDOEM A FALTA DE AR
PERDOEM A FALTA DE ESCOLHA / OS DIAS ERAM ASSIM ...
E QUANDO PASSAREM A LIMPO / E QUANDO CORTAREM OS LAÇOS
E QUANDO SOLTAREM OS CINTOS / FAÇAM A FESTA POR MIM
E QUANDO LARGAREM A MÁGOA / E QUANDO LAVAREM A ALMA
E QUANDO LAVAREM A ÁGUA / LAVEM OS OLHOS POR MIM.
QUANDO BROTAREM AS FLORES / QUANDO CRESCEREM AS MATAS
QUANDO COLHEREM OS FRUTOS / DIGAM O GOSTO PRA MIM (BIS)

"Já vi esse vídeo não sei quantas vezes – ele é como um pedaço de mim. Eu aqui na sala de nosso apartamento me sinto como se estivesse naquele salão frio onde a Elis Canta, ou naquele corredor escuro onde ela se encosta na parede. É tudo tão impessoal e tão pessoal. Essa música – "Aos nossos filhos" – é como uma prece que rezo diariamente. Tenho vontade de pedir perdão aos meus dois filhos, mas confesso que às vezes tenho também vontade de desaparecer. Por não dar conta da função de pai. Por não conseguir ser tão transparente para como eles como eles são uns com os outros.
Eu e minhas madrugadas – com essa maldita insônia. Minha mulher dorme no quarto; já fui olhá-la algumas vezes e às vezes ela me lembra A Bela Adormecida. É como se ela fosse uma cortina de ferro; pouca coisa abala seu sono – que ela qualifica de sagrado. Meu filho também dorme no seu canto, "espremido" como se fosse o mesmo menininho de cinco anos que só dormia abraçado no papai, com medo do escuro (e seus fantasmas) – ele me preocupa, mas por outras questões. Só eu e minha filha estamos agora no mundo dos vivos – ou dos mortos-vivos, quem sabe o que se passa com cada um? E eu aqui, mais uma vez, às quase quatro horas da manhã, esperando a hora combinada para buscá-la na porta da boite. Minha filha de novo na rua. De novo no mundo. Eu, seu motorista particular. Hoje ela saiu com seu namorado. É o segundo namorado de sua vida – pelo menos é o que ela me diz. Quando se trata de minha filha e dos que convivem com ela, eu procuro seguir os conselhos de Mariana, minha mulher, sendo afável, amigável, sociável - são tantos "áveis" que já perdi a conta. Nunca tive desses privilégios com meu pai, mas tenho que superar tudo que vivi ou que não vivi ou que deixei de viver. Ah, ser pai é não saber ...
Meu filho dorme no quarto – acho que já revelei. Tenho dificuldade em compreendê-lo. Tem quatorze anos e às vezes parece mais maduro do que eu. Sua cabeça não oscila como a minha; ele sabe o que quer e já tomou algumas decisões que eu, em sua idade, sequer poderia imaginar que existissem. Já sabe por exemplo que quer perder sua virgindade (homem é virgem como mulher?) com a primeira namorada. Já conversei com ele para explicar que isso é romântico demais para um homem, mesmo que ele tenha quatorze anos. Ainda mais para os representantes de uma geração que costumava se iniciar com prostitutas, às vezes levado pelas mãos de estranhos; que sempre ouvia dizer que homem tinha que ser macho, ter várias parceiras, não se ligar a essa história de sexo com amor. Ah, minha primeira vez! Mara, era um doce de pessoa. Bonita, tinha o corpo quente, parecia um vulcão quando me abraçava. Eu não sabia direito o que fazer – até hoje, às vezes não sei como agir com minha mulher quando ela explode de prazer a um simples toque meu. É tão diferente a sexualidade feminina! É mais misteriosa, desafiante ... Eu me sentindo o último dos seres, porque o tempo passava rapidamente e eu ainda não havia descoberto os segredos do sexo. Quanta inocência roubada! E em casa o gelo. Não se tocava no assunto. Quando cheguei da minha primeira experiência, cabelos desalinhados, mãos trêmulas, olho brilhante e amedrontado, ninguém olhou em minha direção. De novo voltei a me sentir o último dos seres. Sexo era mesmo pecado.
Uma vez, nunca vou me esquecer disso, perdi o sono (ah, essa maldita insônia já me acompanha de há muito) e fui parar na porta do quarto dos meus pais. Eles estavam lá, um sobre o outro, outro sobre o um. Foi um choque para mim, mas não pude resistir à visão. Minha mãe falava palavras que eu não compreendia; meu pai resfolegava como um animal. De repente, ele percebeu minha presença. Tomei uma surra que até hoje dói na minha alma. Sexo era mesmo pecado. Ninguém nunca tocou no assunto comigo. Nunca mais saí de meu quarto para perambular pela casa durante a noite. A não ser quando conquistei minha própria casa.
Ah, minha filha, meu xodó. Dezesseis anos completos. Uma adolescente adorável. Daqui a pouco me ligará e a encontrarei com aquele sorriso que faz quebrar todas as resistências. Conversaremos frivolidades no caminho de volta para casa e ela entrará no apartamento como se nada de importante estivesse acontecendo em sua vida. Sei que se iniciou recentemente no mundo do sexo – como ela deixou transparecer numa conversa comigo. Conversa mais com sua mãe – que me garante que ela tem uma cabeça boa; que está vivendo os conflitos da sexualidade com serenidade; que está se preservando e informando; que, apesar de ter perdido a virgindade (ah, maldito tabu!), não é vulgar nem perde noites de sono por conta disso. Ela entrará aqui em casa e eu ficarei procurando uma prova do crime – para saber se rolou uma "transa" hoje com o namorado. Às vezes, me sinto ridículo nesses meus "grilos" e volto a me sentir o último dos seres. Já sonhei algumas vezes que ela e eu olhávamos para o fundo de um túnel e não conseguíamos visualizar a mesma luz. Na vida real, não consigo ter acesso ao mundo de minha filha. Tenho vontade de puxar assunto, mas me faltam palavras. Queria poder aconselhá-la, ajudá-la a superar os dramas do início da vida sexual, ser tão próximo dela quanto o fui na infância. Mas sinto raiva de ela ter se iniciado sem pedir minha permissão. Eu, que sempre tentei ser tão presente. Ela não me pediu autorização – e isso me machucou, embora eu tivesse proposto para mim mesmo que não seria um pai cobrativo, autoritário, repressor. Tento abafar essa raiva cumprindo bem meus compromissos paternos. Geralmente são as mães que vão buscar seus filhos e filhas nas madrugadas da vida, mas aqui em casa, como eu aprecio a noite e não tenho um sono bem resolvido, decidimos, eu e Mariana, que eu faria o papel do anjo noturno.
Vocês devem estar estranhando a minha vestimenta – já estou pronto desde as duas. É que amanhã (ou melhor, hoje ainda) minha filha está completando seus dezessete anos. E eu decidi agradá-la usando uma camisa que ela me deu – estamos meio distantes. Quando tinha dez anos, ela e sua mãe fizeram uma viagem para Goiânia e troxeram de presente para mim esta camisa que visto. Não sei se ela ainda é apropriada para um homem de 45 anos (talvez esteja muito "modernosa", na linguagem dos meus dois filhos), mas gosto em especial dela porque sei que foi minha filha quem a escolheu (minha mulher não gosta de mim com estampado). Ela passou a ser para mim uma espécie de talismã. Dentro de mim, sei que ela vale mais pela imagem que revela: duas crianças (um menino e uma menina) se dando um beijo casto. É como se ali estivessem congelados meus dois filhos na infância. É como se eu desejasse, no meu interior, que eles não crescessem, que não fossem para o mundo. Justo eu que tantas vezes desejei crescer logo, para me libertar das amarras dos pais. O ser humano é mesmo incoerente ...
Confesso que meu grande dilema é prepará-los para lidar bem com sua sexualidade. Eu nunca fui treinado para isso, vivi meus conflitos e dramas sozinho, às vezes descobrindo na rua o que não descobria em casa. Ora, se nunca fui treinado para isso, como dar conta desse desafio? Ouço tantos psicólogos a dizer que os pais precisam conversar com seus filhos sobre sexo – como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Eu só recentemente parei para refletir que sexualidade não é a mesma coisa de genitalidade. Sempre imaginei que sexualidade fosse a relação sexual – agora as coisas estão muito mais complexas. Espanta-me ao chegar numa locadora e ver tantos filmes pornográficos expostos – e tantos adolescentes a percorrer aquelas fileiras, como tanta naturalidade como se estivessem a buscar a história de Romeu e Julieta. Eu que só fui conhecer um filme pornográfico no cinema, bem em segredo, para que não fosse "pego no flagrante" pelo meu pai – correndo o risco de receber de presente uma outra surra na alma. Espanta-me ouvir falar de pedofilia com tanta naturalidade, pois na minha infância, quando acontecia de uma criança ser violentada, a família punha o assunto na surdina e deixava a pobre criança jogada à própria sorte. Quantos traumas devem se espalhar por aí! Espanta-me saber que minha filha já conhece os métodos contraceptivos, as doenças sexualmente transmissíveis – que até faz parte de grupos de orientação sexual, de adolescentes para adolescentes. E eu aqui, ainda sem saber lidar com tantas questões – os limites entre sexualidade e fantasia, público e privado, virgindade masculina e feminina, tabus, preconceitos. Leio muito sobre o assunto – porque hoje temos o privilégio de poder ler sobre tudo, a qualquer hora, em qualquer lugar. Mas não consigo aplicar na prática o que vejo na teoria. Sou um reprimido? Não sei, talvez seja apenas um despreparado. Minha mulher é mais "light", como nossa filha alega. Tá bom, mas ela teve uma história de vida que facilitou isso – uma família mais presente, menos repressora, que não encarava o sexo como pecado. Para mim as coisas não foram tão fáceis. Olho para meu filho e ele me parece um estranho com essa história de iniciação sexual com a namorada, de classificar de vulgaridade algumas coisas que para mim são absolutamente normais. Olho para minha filha e ela me parece decidida demais para lidar com sua própria sexualidade, seus fantasmas e mitos. Angustia-se, pois é impossível não se angustiar com as questões da sexualidade, mas busca ajuda, lê autores adultos e jovens, procura na obra-de-arte respostas para suas perguntas, questiona. Só não é muito aberta no assunto comigo. Eu nada fiz para criar essa barreira – mas acho que nada fiz também para abrir as comportas.
Eu penso que a geração de hoje terá uma outra relação com seus filhos – mas será que eu, com a minha postura de repetição, estarei contribuindo para isso? Quero que meus filhos não precisem cantar a música de Elis Regina como um álibi para pedir perdão aos seus filhos. Pelo menos quero ter esperança nisso. Agora tenho que ir. São quatro horas e minha filha me aguarda.
Tentarei ser natural com ela. De novo, não tocarei nos assuntos da sexualidade. Mas tudo o que gostaria de dizer para ela (e que não consigo) é que, se precisar de mim, eu estou aqui. Sou seu porto seguro. Mesmo que tenha que quebrar mundos dentro de mim e ter que ouvir da boca de minha filha histórias e situações que nunca imaginaria. É pena que eu só consiga falar isso aqui no meu canto, na minha insônia, no meu universo. É pena que os pais às vezes não consigam ser tão transparentes para com seus filhos.

DISCIPLINA DIVERSIFICADA SOBRE SEXUALIDADE

SONDAGEM FEITA NA AULA INAUGURAL – TABULAÇÃO DE DADOS

Da opção pela disciplina diversificada
ITEM Qt. assinalamentos)
Motivações de natureza pessoal: Interesse e curiosidade pelo tema e intenção de discuti-lo coletivamente, partilhando conhecimentos e dúvidas 17
- Identificação com a pessoa do professor, suas aulas e o método de trabalho desenvolvido 12
- Iniciativas adotadas pelo professor para apresentar o projeto foram motivadoras 2
- Falta de afinidade com demais disciplinas diversificadas 1

Motivações de natureza científica:
- Aprofundamento em pesquisa 12
- Discussão da sexualidade sob vários enfoques, com liberdade, e envolvendo diferentes pessoas 4
- Não houve manifestação a respeito 4
- Possibilidade de acesso a palestra de especialistas 2
- Oportunidade de realizar atividades extracurriculares 1
- Administração melhor do tempo pedagógico a ser dedicado à pesquisa 1
- Os outros temas de projeto já estão meio "batidos" e a sexualidade é assunto pouco discutido abertamente 1
- Sensação de que as pessoas pensam saber muito sobre o assunto, mas só conhecem o básico 1
- Desenvolver projeto de orientação para alunos do Ensino Fundamental 1
- Combater o constrangimento e as barreiras que envolvem a sexualidade 1

Motivações de natureza profissional:
- Não houve motivação profissional de qualquer natureza 8
- Item não preenchido 7
- Não têm perspectivas no momento, mas pensam que o projeto pode ajudar no exercício profissional ou despertar vocações 4
- Interesse em formar-se em áreas vinculadas: Psicologia/Psicoterapia; Ginecologia e Obstetrícia; Urologia 4
- A sexualidade é muito abordada na área cinematográfica, carreira que pretende seguir 1
- Interesse em atuar na área de Sexologia, mas ainda sem um ramo definido 1
Nos dizeres de uma aluna: ‘Gostaria de ser filósofa também, embora meus pais falem que não dá muita coisa’ 1

DAS EXPECTATIVAS E INSEGURANÇAS EM RELAÇÃO AO PROJETO:
- Boas perspectivas de aprendizagem com o professor e o grupo (até para transmitir depois) 10
- Entrosamento no grupo; perspectivas de novas amizades; expectativa de abertura e transparência nas discussões 9
- Que o grupo tenha vontade de produzir e atue com seriedade 3
- Criar um espaço agradável para discutir sexualidade entre pessoas da mesma idade, porém com orientação e direcionamento 2
- Envolvimento do grupo com os rumos do projeto 1
- Ampliar competência leitora e desenvolver habilidades interpretativas 1
- Apagamento da distância que costuma haver entre "mestres" e discípulos 1

Das inseguranças:
- Pioneirismo do trabalho e insegurança natural no início de atividades pedagógicas 3
- Tratar de assunto pessoal e íntimo com pessoas que não se conhece direito, gerando constrangimentos e timidez 3
- Não há inseguranças de qualquer ordem 3
- Em relação ao andamento do projeto e às abordagens e discussões 3
- Falta de opiniões masculinas, devido à pouca quantidade de meninos participantes 2
- Falta de entrosamento com boa parte do grupo 2
- Quantidade de trabalhos (pesquisas e produções individuais) a serem solicitados para casa 2
- Impossibilidade de se conseguir debate aberto em torno do tema 1
- Não conseguir cumprir metas pessoais traçadas 1
- Existência de "panelinhas" dentro do grupo 1
- Resistência do grupo em realizar idéias produtivas 1
- Não atingimento dos objetivos traçados pelo grupo e professor 1
- Administração do tempo por parte do professor, em relação ao projeto 1
- Falta de compromisso e seriedade, com riscos de vulgarizar tema tão interessante 1
- Atuação pessoal não corresponder à proposta do projeto 1

DAS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
O que já se possui, e que pode contribuir para o êxito do projeto:
- Oralidade desenvolvida 7
- Boa capacidade de comunicação e nível de participação em grupo 4
- Poder de escrita 3
- Capacidade interpretativa 3
- Criatividade 3
- Interesse pela leitura de livros com temáticas interessantes 2
- Bom nível de conhecimentos em relação ao tema objeto da pesquisa 2
- Senso crítico apurado 1

O que pretende potencializar:
- Elaboração de textos escritos 7
- Habilidade para pesquisa e formação de senso crítico 5
- Habilidade de discussão em grupo (expor mais as próprias opiniões) 2
- Capacidade interpretativa 2
- Diminuir nível de exigência em relação a si próprio e ao outro 2
- Aumentar senso de integração 2
- Aprender a ouvir o outro e a aceitar opiniões divergentes
1
- Combate à timidez 1
- Comunicação em momentos mais formais 1
- Poder de oralidade 1
- Exercer a autocrítica 1

POEMAS PRODUZIDOS POR ALUNAS PARTICIPANTES DO PROJETO, TENDO POR REFERÊNCIA O FILME "A OSTRA E O VENTO"

ILHA DE MIM MESMA

O vento que me segue
Me alucina, me confunde
Desejos proibidos desperta
em meu corpo
Corpo já tão feminino
Que procura em si próprio
Um esconderijo para se achar
Achar o que eu não poderia
Que estaria longe daquela ilha
Ilha que eu não queria
Onde escondo minha insanidade
Que eu não percebera até então
Que não poderia jamais ser feliz
Se me deixassem por ali, comigo
Naquela ilha de ventos e ostras
Em que eu vivera até o dia
Em que decidi viver apenas do
vento
Que me desiludiu
E me transformou
Na ilha de mim mesma ...

(Gabriela da Silva Miranda)


TEMPESTADE DE MIM

Ventos, trovões, relâmpagos
Enfim, tempestade em mim
Tempestade de mim mesma ...
Olhares, cheiros, sentimentos
Assumem formas, sentidos,
Intenções
Eternamente acalentados
No meu coração – ostra cerrada
Receosa de abrir e espatifar-se.
Se não receara a dor do
desencanto
Permitiria que a tempestade
Fluísse tempestuosamente ...
Porém quem seria capaz de
penetrar minha alma
E ventar amor
Trovejar palavras de mel
Relampejar carinhos
Congraçar sua tempestade à minha
Para então "tempestejarmos"
Perenemente?
Seria indizivelmente indescritível!...
Porém mais seguro é fechar
meu coração
Que não viver a utopia
Do "tempestejar" tempestuosamente.

(Marcela de Azevedo Bussinger)

ROTEIRO PARA CONDUÇÃO DE PESQUISA QUALITATIVA

1) Especificar o corpus de pesquisa utilizado.

2) Separar as consultas em grandes blocos, escolhendo o critério a ser seguido:

aspectos psicológicos da Sexualidade;
aspectos físicos da Sexualidade;
aspectos socioculturais da Sexualidade.
Ou então:

inseguranças na primeira relação sexual;
dúvidas quanto à masturbação;
forma e tamanho dos órgãos genitais;
outros (procurar especificar bem)
Ou outros critérios, por decisão do grupo de pesquisa, desde que fique claro para o leitor.

Feita a separação em blocos de pesquisa, tentar definir percentuais de dúvidas ou temáticas; aspectos mais ou menos relevantes que aparecem em cada situação. Por exemplo, listar, dentro dos aspectos socioculturais da Sexualidade, as dúvidas que aparecem com maior freqüência, as ocorrências que quase nunca aparecem, os lugares-comuns. Destacar consultas inteligentes.

Além disso, procurar se situar criticamente perante o objeto de pesquisa, fazendo comentários quanto à abordagem, à linguagem empregada, à articulação de pensamento, etc. Sugere-se separar um bloco para questões não procedentes (falta de informação; dificuldade de assimilar os enunciados das consultas, etc.)

3) Ao final da pesquisa qualitativa, procurar tecer algumas considerações sobre aspectos observados. E aí surge o grande mérito da pesquisa: o posicionamento crítico do grupo e a construção de ensaios.

4) Pensar em formas mais interessantes de divulgação/socialização na Escola. Com uma pesquisa bem construída, podemos visitar grupos de 7ª a 8ª séries; promover bate-papos na hora do recreio; manter contatos com alunos que não estão integrados à disciplina diversificada sobre SEXUALIDADE.

Volta


PROJETO SEXUALIDADE – Fatos e Mitos

Consolidação de dados

Fontes de pesquisa:

40 fragmentos do jornal FOLHA TEEN, selecionados aleatoriamente durante o período de 1999.
Pesquisa de campo – entrevistados alunos da Escola (em caráter formal/informal), nas 7ªs séries A/I; 2ºs anos "A" e "I-2". Obtidas 71 consultas.
Itens verificados:

A - Dúvidas relacionadas a tamanho, forma e desenvolvimento dos órgãos genitais
B – Inseguranças sexuais (se o gozo pessoal está sendo prazeroso; se o parceiro sente prazer; o que é e como acontece o orgasmo; vivência do ato sexual na época da menstruação; insegurança quanto à gravidez precoce, etc.)
C – Dúvidas sobre Métodos anticoncepcionais e Doenças Sexualmente Transmissíveis (modelos e usos de preservativos; formas de transmissão das doenças; eficiência de camisinhas (inclusive colocação dupla); período fértil da mulher, relação entre uso de absorvente e perda de virgindade, etc.)
D – Ejaculação precoce
E – Inseguranças na primeira vez (sensações de dor na relação, momento ideal para se iniciar a vida sexual, etc.)
F – Dúvidas relacionadas ao ato sexual em si (modalidades de penetração; dor na relação, etc.)
G – Vínculos entre sexo e afetuosidade;
H – Dúvidas relacionadas aos vínculos entre sexo, droga, bebida e hormônios artificiais;
I – Outros – Dúvidas diversas, com menor incidência em caráter individual (enquadramentos amplos: dúvidas em torno de beijos e seus efeitos sexuais; sadomasoquismo; polução noturna; aumento de prazer por causa da dança do ventre; pedofilia, zoofilia, dentre outros)
J – Dúvidas relacionadas à masturbação (os efeitos da masturbação sobre a perda da virgindade e o desenvolvimento dos órgãos sexuais; vínculo entre masturbação e homossexualidade)
L – Dúvidas relacionadas a homossexualidade (aspectos científicos, épocas de manifestação);
M – Perguntas não relacionadas a sexualidade.

PROJETO SEXUALIDADE – Fatos e Mitos

Em nosso projeto sobre SEXUALIDADE, fizemos uma pesquisa no jornal "Folha de São Paulo", entre abril/99 e julho/2000, em torno de dúvidas encaminhadas aos profissionais da área sexual Jairo Bouer e Rosely Sayão. Nosso objetivo era verificar quais as dúvidas mais freqüentes dos adolescentes e jovens a respeito desse assunto.

Aspectos psicológicos da SEXUALIDADE: 25% DE DÚVIDAS
Muitos jovens têm dúvidas relacionadas à insegurança pessoal na hora da transa, ou curiosidade quanto à vontade do parceiro no sentido de ter uma relação sexual. O medo da gravidez é outro fator que aparece de modo significativo.
Aspectos físicos da SEXUALIDADE: 51% DE DÚVIDAS
As dúvidas mais freqüentes em torno de aspectos físicos envolvem os seguintes temas: doenças sexualmente transmissíveis; alergias e métodos anticoncepcionais; inseguranças em ir a um especialista (os homens, por medo de uma ereção inesperada); ejaculação precoce e masturbação.
Aspectos socioculturais da SEXUALIDADE: 15% de dúvidas
As perguntas mais relevantes são relacionadas ao tamanho do pênis e à questão do homossexualismo, já que a sociedade atual impõe um "padrão". Os jovens estão preocupados também em saber se a transa com amor é a melhor opção para viver a sexualidade, ou como fazer o(a) parceiro(a) satisfeito(a) com seus atos.
Aspectos NÃO PROCEDENTES: 9% de dúvidas
Foram feitas perguntas que não podem ser levadas em consideração, pelo fato de serem sem nexo, como por exemplo: é possível engravidar sem o parceiro ter ejaculado; se uma adolescente pode cometer um aborto; se as espinhas são resultado de masturbação, etc.


Conclusões do grupo de pesquisa:

Notamos que os adolescentes de hoje em dia estão procurando um molde, um estereótipo a respeito do sexo: sobre como fazer, quantas vezes, ...

Muitas perguntas improcedentes, feitas por pessoas extremamente desinformadas, numa época onde a informação é de fácil acesso e farta.

Mesmo vivendo em um mundo cada dia mais individualista, reparamos que os jovens fizeram muitas perguntas em relação à satisfação do parceiro, o que mostra que eles não são tão egoístas.

As perguntas relacionadas a homossexualismo não abordam mais o preconceito: eles não estão mais preocupados em esconder sua identidade sexual, e sim com a preservação de doenças.

Componenetes do grupo:

Cláudia da Luz
Larissa Pinto


E-mail cadastrado no site

Senha

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