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Texto de José Outeiral
12/03/2010 · por Centro Educacional Leonardo da Vinci · Tags: Expressão e Pensamento

Adultos: uma espécie em extinção


José Outeiral



Uma questão que tenho levado aos pais e professores é a importância da existência do papel (ou função) do “adulto” na família e na escola. O adulto assume responsabilidades, cuida e protege, serve de exemplo e estabelece limites para que as crianças e adolescentes possam se desenvolver sadiamente. Os adultos são os responsáveis pelo nascimento psíquico das crianças e adolescentes através da tradição (transmissão da cultura) e da autoridade. O bebê humano, como sabemos, de todos os “bebês mamíferos” é o que nasce em maior estado de desamparo, físico e psíquico, necessitando, portanto, de uma família que o cuide; uma família, evidentemente, composta também por adultos. Uma família não é uma “turma”, um grupo de adolescentes e crianças. Nossa personalidade para se construir necessita de um Outro, um adulto, modelo de identificação. Os pais não são “amigos”, os pais são pais.


Crianças sempre existiram, é lógico, mas o conceito de infância, como período de desenvolvimento com direitos e necessidades específicas, surge em torno do século XVIII, com a Modernidade e o Iluminismo. A adolescência é bem mais recente; começa a se delinear no século XX, acompanhando o crescimento dos centros urbanos que ocorre neste período e com o ingresso crescente das mulheres no mercado de trabalho, dentre outros fatores. Até então a passagem da infância ao mundo adulto se dava rapidamente, através de alguns rituais de iniciação. Na cultura contemporânea ocorre um fenômeno singular: a adolescência avança sobre a infância e, inclusive, sobre o mundo adulto. A infância está sendo des-inventada, através, por exemplo, da erotização precoce das crianças (o leitor sabe que existe soutien, com enchimento, para meninas a partir dos cinco anos, assim como linhas de cosméticos para esta idade?), com a transformação das crianças em grandes consumidores (como eles influenciam as compras dos pais!) e com a des-invenção do brincar, quando o prazer é deslocado do brincar para a compra do brinquedo, depois da compra vem um grande tédio do qual escapam através de nova compra. Uma possibilidade para fugir do tédio é usar a violência. Não devemos esquecer que brincar vem do latim vinculum. Brincar significa criar vínculos e então a droga e a violência terão maior dificuldade de chegar até nossos filhos e alunos.


A organização Mundial da Saúde define adolescência como compreendida entre 10 e 20 anos e o Estatuto da Criança e do Adolescente como entre 12 e 18 anos. Hoje, entretanto, observamos crianças de 7 ou 8 anos com comportamento adolescente, contestando regras e com um forte interesse sexual. Mas a adolescência não está apenas invadindo a infância, mas também o mundo adulto! No mundo contemporâneo, ocidental e urbano, muitos adultos querem, ao menos, parecer adolescente. Surge então, já em dicionário, a palavra “adultescente”, contração de adulto + adolescente. Além dos adultescentes contamos também com os “kidadults”, adultos que agem e se vestem como se fossem crianças.


Com o progressivo “desaparecimento” da adultez faltam adultos com os quais crianças e adolescentes possam estabelecer identificações estruturantes e saudáveis. O que encontramos então são indivíduos onde predominam aspectos narcísicos, onde a impulsividade é alta e a capacidade de frustração é pequena, onde o pensamento concreto predomina sobre o abstrato, onde a palavra é substituída pela ação e onde a outra pessoa é, apenas, uma pessoa-coisa, não um sujeito. O último censo do IBGE nos revela que a primeira causa de morte em nosso país de jovens é homicídio, a segunda acidentes e a terceira suicídio e só depois temos as mortes pelas doenças orgânicas. Na cidade de São Paulo, a primeira causa de morte de meninos entre 5 e 15 anos é homicídio. No embate entre civilização e barbárie, esta última está com evidente vantagem.


Quem sabe solicitamos ao IBAMA que declare, assim como acontece com o mico-leão-dourado, o tatu-canastra, a ararinha-azul, o boto-rosa e tantas outras espécies, que os adultos são também uma espécie em ameaça de extinção? O que escrevi faz algum sentido ao leitor?


Médico. Psiquiatra. Psicanalista, membro da Associação Internacional de Psicanálise. Ex-professor da Faculdade de Medicina da PUC-RS e autor de livros e trabalhos publicados no Brasil e no exterior.



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