O grande compositor brasileiro foi destaque na Revista EDUCAÇÃO, da Editora Segmento, edição de dezembro 98, através de matéria de autoria de Irineu Franco Perpetuo.
O Centro Educacional Leonardo da Vinci, considerando a importância de Carlos Gomes para a cultura de nosso país, solicitou autorização à Editora e reproduz, na íntegra, o artigo citado.
Com a maior parte de suas obras escrita em italiano, autor é considerado o maior compositor latino-americano.
O maior compositor de óperas das Américas é um brasileiro. Ninguém no continente, antes ou depois de Antônio Carlos Gomes (1836-1896), conseguiu seu mesmo sucesso internacional ao escrever para o teatro.
Há uma discussão sobre se a música de Gomes deve ser considerada brasileira de verdade. Afinal, a maioria de suas óperas é cantada em italiano, e seu estilo musical, embora original, filia-se inequivocamente à tradição peninsular do século XIX - de Bellini, Donizetti e, principalmente, Verdi.
O fato é que, na época de Carlos Gomes, o Brasil era uma nação incipiente, que acabara de se tornar independente de Portugal. E o grande sucesso internacional do compositor, bem como a escolha deliberada de temas brasileiros para algumas de suas óperas - como Il Guarany e Lo Schiavo - acabaram por transformá-lo em um dos primeiros ídolos do país recém-formado, e, portanto, figura fundamental na construção de nossa nacionalidade.
Dadas as condições de seu início, o sucesso de Gomes toma hoje as feições de um pequeno milagre. Nascido na Vila de São Carlos (atual Campinas), ele teve rudimentos de instrução musical de seu pai, Manuel José Gomes, o Maneco músico, que tinha uma banda na cidade.
E foi contra a vontade do pai que ele se transferiu para o Rio de Janeiro, aos 23 anos, a fim de estudar no Conservatório de Música. O ensino musical por lá também não era dos melhores, mas Gomes evoluiu o suficiente para compor, em português, suas duas primeiras óperas: A Noite do Castelo e Joana de Flandres. O sucesso estrondoso de ambas garantiu-lhe, por parte do imperador Pedro II, uma bolsa para estudar na Itália.
Gomes chegou a Milão em 1863, com 27 anos - velho demais para ser aceito pelo conservatório local. Mas o diretor do estabelecimento de ensino, Lauro Rossi, concordou em dar-lhe aulas, permitindo que ele fizesse as provas finais três anos depois - com sucesso.
O êxito de duas comédias musicais - Se sa minga e Nella luna - serviu como preparação para Il Guarany, ópera baseada em José de Alencar que estreou no principal teatro lírico da época, o Scala de Milão, em 1870.
A abertura do Guarany virou uma espécie de segundo hino nacional brasileiro, conseguindo popularidade graças ao programa radiofônico Voz do Brasil. O fato é que a ópera foi um sucesso estrondoso - que o compositor passou o resto da vida tentando repetir, sem êxito.
Gomes já estava casado com a italiana Adelina Peri quando estreou Fosca, em 1873. Embora fosse sua ópera mais sofisticada, resultou em fracasso de público e crítica. No ano seguinte, o êxito de Salvator Rosa ainda deu alento à sua carreira italiana, mas o retumbante e irresistível fracasso de Maria Tudor, cinco anos depois, praticamente liquidou as atividades do compositor na península.
Já estava muito doente quando recebeu o convite para assumir o Conservatório de Belém - e ficou apenas três meses à frente do cargo, morrendo de câncer em 1896.
A música de Gomes sobreviveu com relativo sucesso até os anos 50 de nosso século, caindo depois em progressivo esquecimento. Nos últimos anos, os mais importantes esforços para resgatá-la foram feitos por um espanhol: o tenor Plácido Domingo, que cantou ao vivo e gravou Il Guarany."
Irineu Franco Perpetuo é crítico de música erudita da Folha de São Paulo, colaborador das revistas Bravo e Classic CD e correspondente no Brasil da revista Ópera Actual, de Barcelona.