Uma escola voltada para a formação integral do indivíduo privilegia, na amplitude das atividades que compõem/descompõem o currículo de perspectiva cultural, o que poderia ser denominado “diferentes inteligências”, “competências”, “diferentes níveis de complexidade de operações mentais”, “pensamento analítico”, “pensamento complexo” ... dentre tantas outras taxionomias. O convívio entre os diversos componentes do ensino/aprendizagem, que está para atender às individualidades de quem ora é ensinante, ora aprendiz, gera o reconhecimento daqueles a quem o ensino é dirigido e a legitimidade do objeto de ensino. Tudo acontece de forma aparentemente contrastante, mas significativamente compatibilizada. Disciplinas diversificadas, projetos didáticos, oficinas variadas, High School são algumas das atividades que se transdisciplinarizam no currículo de estudantes do Da Vinci, que as selecionam de acordo com seus interesses e necessidades e que, metodologicamente diferenciadas, oferecem ao aluno um intenso e produtivo trabalho de pensamento para a reorganização, reestruturação ou transposição didática.
No Infantil e nas primeiras séries do Fundamental, valores sociais (formação, informação e cultura: educação) são trabalhados exaustivamente, para posteriores relações com as humanidades: alimentação; ambiente familiar/escolar/comunitário; adaptação; diferentes comunidades; acervos históricos e artísticos de diferentes espaços; meio ambiente; trânsito, etc. Neste tempo pedagógico, mais do que em qualquer outro da vida, exercita-se o aprender a conviver: maior sabedoria humana. Nas últimas séries do Fundamental, grande tem sido o desenvolvimento sociocultural dos alunos no mundo das artes – em diferentes configurações. No Ensino Médio, os projetos pretendem estimular o empreendedorismo, mas não o que beneficia apenas o empresário (visão ultrapassada), e sim aquele que pretende contribuir para o bem-estar de toda a comunidade, muito mais coerente com as demandas atuais da sociedade. Pela presença de todos esses elementos, consideramos ter hoje uma escola, além de técnico-científica, humanista.
Tento agora colocar-me no lugar dos alunos. Afora uns poucos inquietos e ansiosos, a maioria parece conviver bem no ambiente escolar. Para quem está acostumado a ditar regras numa sociedade que cada vez mais os idolatra; antenados com a informação e a tecnologia; freqüentando ambientes e fazendo uso de linguagens que o adulto não consegue acompanhar; convivendo com uma sociedade meio que desprovida de coerência e ética, essa pacificidade é meio que ficcional.
Imagino quantos deles não estão como Alice a percorrer os labirintos da memória/lembrança, a entrar por túneis e túneis do acaso/pensamento, a beber do conteúdo da garrafa e a romper as portas fechadas. É provável que muitos não estejam nos ambientes escolares e tenham desenvolvido a competência de fingir-se presente, estando ausente. Aparentando concentração, mas na essência vivendo a dispersão.
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A escola situa-se além de um mosaico de pessoas, convicções, valores e atitudes, pois a simetria não se realiza. Há uma linha de conduta que permeia toda essa uniformidade, mas as contradições são inevitáveis.
Maria Helena Salviato Biasutti Pignaton
Extraído de “Leonardo em Revista.” Publicação pedagógica do Centro Educacional Leonardo da Vinci.