No meio pedagógico, é hábito iniciar os anos letivos com a veiculação de textos acerca de intenções educativas e desafios a enfrentar. Apesar do mérito dessas iniciativas (educação qualitativa não se constrói sem proatividade), gostaríamos de fazer o caminho inverso, traçando um retrospecto do que representou 1999 para o Centro Educacional Leonardo da Vinci. Não fizemos tal balanço no findar do ano pedagógico pela necessidade de vivenciar uma "parada reflexiva" , a fim de edificar nossas percepções com maior pertinência.
O ano comemorativo do decênio da Instituição foi um marco para a nossa história e, por extensão, para a educação no Espírito Santo. Combatemos a tradição cristalizada da Escola reprodutora, denunciada por Montaigne no ensaio filosófico "Da educação das crianças" (século XVI), e até hoje de forte incidência no universo escolar. Os "10 anos de Da Vinci" tiveram um brilho especial: sem perder de vista a veia cognitiva própria da instituição escolar, transitamos em outras searas, potencializando a criação, o pensamento crítico e a vivência de conteúdos procedimentais e atitudinais. A sala de aula movida pelo espírito sociointeracionista.
O Espírito Santo procede de forma incipiente na socialização de saberes, embora tenha, nos últimos anos, angariado premiações pela excelência do ensino aqui desenvolvido, em âmbitos particular e público. Muitas de nossas Escolas são feudos que pouco se inter-comunicam com seus pares, possivelmente pela falta de investimento em registro e intercâmbio, o que temos de nos empenhar em transformar. Contrapusemo-nos a essa tendência, lançando o "Leonardo em Revista", periódico semestral cuja intenção maior é o relato de experiências educativas; a circulação de ensaios teóricos e a divulgação de produções escolares, em especial dos educandos. Já distribuímos vasto número de exemplares, mas pouco retorno recebemos em torno da validade de nossa iniciativa. Como uma cultura não se muda num "passe de mágica", esperamos, progressivamente, contar com adeptos outros, a fim de instituir o partilhamento como um dos alicerces da educação local.
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Nossa performance, em projetos de cunho social, está longe do ideal vivenciado por outras Escolas do país, segundo divulgações em revistas especializadas. De qualquer forma, 1999 representou uma ruptura para o Da Vinci, nesse particular. Levamos a efeito uma gincana beneficente, cuja essência foi atribuir à cultura e à educação responsabilidade pela transformação social. Praticamos o assistencialismo (em forma de doações), mas também nos preocupamos em propiciar às crianças assistidas acesso a bens culturais, atividades esportivas e serviços de saúde, inclusive em medicina preventiva.
A praça de Vitória recebeu outdoors produzidos na comunidade escolar, com críticas à disparidade social e sugestão de estratégias para mobilização da sociedade. Oportunizamos intercâmbio de experiências e percepções entre nossos alunos e as crianças assistidas, conseguindo um avanço significativo no olhar social, mas ainda "um primeiro passo", que precisa alargar-se e percorrer novas veredas.
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As produções culturais da Escola foram férteis. Nossos alunos de Ensino Fundamental foram co-partícipes da construção de um relógio de sol, experimentando evolução científica. No campo das artes, houve a reprodução, por alunos do Ensino Médio, de um fragmento da Capela Sistina no interior da Escola (aberto à visitação de toda a comunidade escolar), tudo precedido por pesquisas sobre a arte renascentista. Concebemos um projeto de resgate da memória cultural na região de Santa Teresa, visando à restauração de Igrejas e casarios locais. Sem falar no investimento na socialização do conhecimento produzido na Escola: a comemoração do dia do estudante, além da tradicional apresentação de "bandas" e performances artísticas dos alunos, evoluiu para a divulgação, em forma de oficinas, de trabalhos de excelência elaborados pelos educandos.
Alunos fixando as pastilhas que compõem a base do Relógio de Sol.
Alunas colando as partes integrantes do Teto da Capela Sistina.
Igreja Matriz de Santa Teresa.
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A implantação de fóruns permanentes de discussão e pesquisa, envolvendo os profissionais da Escola, tornou-se prática sistemática em 1999. Aprofundamo-nos no estudo dos conteúdos da reforma e avaliamos o funcionamento da Escola como um todo. A construção coletiva foi a tônica desses encontros, a ponto de iniciarmos o planejamento de 2000 numa visão seqüencial, sem oportunizar contatos com especialistas em educação, como sempre fizéramos ao início dos anos letivos.
A "leiturização" foi uma das evidências mais marcantes do ano findo, contemplando diversos segmentos estudantis. O compromisso de formar a competência leitora, em diversas áreas de conhecimento, deu tom a muitos projetos pedagógicos. Como reflexo, a premência de reformular o papel da Biblioteca: de depositária de obras a espaço de consultoria. Além de enriquecer o universo de pesquisa (transformando a "biblioteca" em "midiateca"), pretendemos intensificar a oferta de feiras culturais e o intercâmbio entre bibliotecários e educandos. Um combate maciço aos riscos de "analfabetismo funcional", tão em voga nos dias de hoje.
Experiências pedagógicas pioneiras foram testadas, e bem. No Ensino Fundamental, a incorporação dos conteúdos procedimentais e atitudinais à sistemática de avaliação e a flexibilização na rigidez de disciplinas, por vezes distanciadas do contexto de vida dos alunos e dos avanços da sociedade de informação. No Ensino Médio, implementação de projetos de pesquisa relevantes, dentre os quais o Projeto Habitar (que mereceu ampla repercussão na Imprensa) e o Teatro (nossos alunos demonstraram senso empreendedor, montando encenações densas, de índole filosófica, existencial ou histórica, uma das quais incorporada à programação da FAFI).
Ao se tratar dos conteúdos da Reforma, chegou-se a pensar no sistema de parcerias com outras Instituições e de contratação de assessoria especializada para subsidiar a oferta de disciplinas diversificadas (25% da grade curricular), como propõe o texto institucional. Ocorre que, buscando ruptura ante a compartimentação do saber, nossos professores de ensino médio propuseram, por sua iniciativa, oito disciplinas diversificadas, contemplando diferentes habilidades e conhecimentos. A Escola está adentrando a reforma com ousadia e consciência de sua identidade.
Após tantas vivências de peso em 1999, o ano em curso apresenta uma quantidade de frentes de trabalho que nos desafiará continuamente. Entretanto, não temos dúvida de que será enriquecedor para todos. Os corredores da Escola estão pulsantes e as atividades pedagógicas já apontando para uma transformação salutar. É continuar investindo, buscando, socializando ... Formando aparato teórico e prático para um novo decênio, ainda mais significativo.