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Entendendo o Renascimento - Teto da Capela Sistina
17/05/2000 · por Ana Cláudia Nahas

Todos os dias, no caminho para as salas de aula, os alunos do Centro Educacional Leonardo da Vinci passam por uma abóbada que reproduz, pela colagem de fotocópias ampliadas, um dos mais admirados exemplares da arte renascentista: as pinturas do teto da Capela Sistina. Construída entre 1475 e 1483 na cidade do Vaticano (Roma – Itália) e assim chamada por ser contemporânea do Papa Sisto IV, a Capela Sistina foi decorada por vários artistas do Quattrocento Italiano: Botticelli, Perugino, Ghirlandaio e Rosseli, entre outros, que ali retrataram cenas da vida de personagens bíblicos. O teto foi pintado entre 1508 e 1512, por ninguém menos que Michelângelo Buonarotti (1475-1564), e impressiona pela perfeição.

A reprodução exposta no corredor do DA VINCI, que estendeu a toda a comunidade escolar a possibilidade de conhecer um pouco da obra, é o produto final do Projeto "Entendendo o Renascimento", desenvolvido no segundo semestre de 1999, pelos alunos dos 1os anos do Ensino Médio, na Oficina de Artes. Assim, o acesso diário dos alunos à sala de aula pode tornar-se uma experiência estética: vinda do grego, a palavra "estética" significa "sentir" e remete à sensibilidade, à percepção – numa palavra, ao humanizar-se.

Segundo as orientadoras, professoras Maria Eliza de Vargas Lima Biasutti, Mazinha Tristão e Luciana Teresa Biasutti Chequer, o Projeto pretendeu levar os alunos à compreensão do momento social, político e cultural denominado Renascimento, bem como à observação das características e temas das obras artísticas do período e das técnicas então utilizadas. Mas não ficou apenas por aí: os alunos também puderam identificar os produtores de arte como agentes sociais, reconhecer em suas obras tanto semelhanças (características do período) quanto diferenças individuais e, discutindo a diversidade de sentidos existente em um mesmo tema, trazer toda a história retratada no teto da Capela Sistina para um pensamento crítico social contemporâneo. Afinadíssimo com a tendência pedagógica atual, que entende como necessária a "compreensão da Arte como um conhecimento humano sensível-cognitivo, voltado para um fazer e apreciar artísticos e estéticos e para uma reflexão sobre sua história e contextos na sociedade humana." (Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. v.2, p. 90).

Inicialmente, Eliza, Mazinha e Luciana discutiram com os alunos questões referentes à arte em diversos períodos da história humana. A partir de uma apresentação de power-point contendo imagens de obras significativas da Pré-História até o Barroco, os alunos puderam visualizar uma cronologia das Artes, que os auxiliou a situar o Renascimento enquanto movimento resultante das transformações ocorridas na vida econômica, social e política da Europa do século XV: o estabelecimento da burguesia comercial, o desenvolvimento técnico, a dinamização social e a construção de uma nova mentalidade, que propiciou o renascimento comercial, urbano, cultural e artístico. Os alunos discutiram ainda a relação entre arte e ideologia religiosa na Idade Média, os conceitos de ruptura e permanência na passagem da Idade Média para o Renascimento e compreenderam o fenômeno do Mecenato – o apoio de ricos mercadores e famílias aristocráticas às realizações culturais.

No segundo momento do Projeto, a proposta foi trabalhar com leitura de imagens do Renascimento e, através da observação de características, temas e técnicas, chegar à construção de conceitos sobre a arte desse período. As imagens foram selecionadas pelas professoras de forma a possibilitarem a identificação da perspectiva, do claro-escuro (efeito da luz no Renascimento), do sfumato, da arte como estudo de anatomia e botânica e de outros princípios estéticos do Renascimento, inclusive a visão antropocêntrica que o caracterizou.

A proposta de comparar dois artistas renascentistas – Leonardo da Vinci e Michelângelo – contribuiu para que os alunos pudessem reconhecer em ambos o ideal humanista, compreendendo ainda as diferenças entre o espírito científico de um Leonardo que, entendendo a arte como instrumento de estudo, não hesitava em abandonar uma obra quando esta já lhe tivesse fornecido a informação que buscava, e as inclinações religiosas de Michelângelo, cuja arte, concebida em plena renascença, prenuncia a exuberância do Barroco.

Chega, então, o momento de trabalhar com os temas do teto da Capela Sistina: Sibila de Delphos, Serpente de Bronze, Suplício de Amã, Os profetas, Davi e Golias, Judite e Holofernes, Separação da Luz e das Trevas, Criação dos Astros, Separação das águas, Criação de Adão, Criação de Eva, Dilúvio, Sacrifício de Noé, entre outros. Divididos em grupos, os alunos leram textos bíblicos e mitológicos referentes a cada um dos temas do teto. Depois de identificarem a correspondência entre textos e imagens, passaram a observar tanto as características renascentistas na obra do artista quanto peculiaridades de Michelângelo na representação dos temas.

Cada grupo apresentou o tema estudado para os demais, com informações e discussões sobre os aspectos mais relevantes.

A última etapa do Projeto "Entendendo o Renascimento" foi a colagem de fotocópias ampliadas de imagens da Capela Sistina sobre a estrutura de madeira, de aproximadamente 3 X 8 m, providenciada pela escola.

Os alunos trabalharam a três metros do chão e por apenas três meses, mas conseguiram imaginar como deve ter sido para Michelângelo pintar a abóbada de aproximadamente 40 m por 13, a uma altura de 20 metros. (Michelângelo levou 4 anos para pintá-la no século XVI, e, mais recentemente, um grupo de especialistas levou 15 anos – de 1979 a 1994 – para restaurá-la, principalmente devido à dificuldade de acesso à abóbada da capela). A constatação dessa "mão-de-obra" foi muito interessante para os alunos, e levou-os a valorizar ainda mais o trabalho do artista.

Em dezembro de 1999, as famílias foram, então, convidadas para conhecerem o trabalho. Os alunos apresentaram palestra sobre o desenvolvimento do Projeto e os pais puderam visitar a já concluída reprodução do teto da Capela Sistina. Junto às imagens, foram expostos textos dos alunos, resultantes de suas leituras e apropriação de conhecimentos sobre o Renascimento. Os alunos dos 1os anos do Centro Educacional Leonardo da Vinci colocaram a teoria em prática: "Por meio de práticas sensíveis de produção e apreciação artísticas e de reflexões sobre as mesmas nas aulas de Arte, os alunos podem desenvolver saberes que os levem a compreender e envolver-se com decisões estéticas, apropriando-se, nessa área, de saberes culturais e contextualizados referentes ao conhecer e comunicar arte e seus códigos." (Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. v. 2, p.94)

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