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Mostra de fotografias - Um olhar sensível e crítico em relação à cultura indígena
13/06/2000 · por Paulo de Tarso Rezende Ayub

pelo olhar ... com o olhar ... a interpretação de uma cultura em abandono."
Alunos do 1º Integral da Oficina de Fotografias.

"Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba. / E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer."

(Vinícius de Moraes)

A sublimidade desses versos ressoou em mim de imediato, quando me deparei com a mostra de fotografias produzida, em oficina, pelos alunos do 1º Integral, sob orientação das professoras de Artes. A temática: um olhar sensível e crítico em relação à cultura indígena. O alvo: a reserva indígena sitiada em Aracruz (ES), com toda a sua dualidade –mosaico de tradições indígenas e assimilações "branquígenas". A intencionalidade (se é que pode haver apenas uma num trabalho desse vulto): sensibilizar o leitor/interlocutor para a preservação de nossas memórias culturais e para a reflexão sobre o processo de aculturação que tanto "mancha" a história brasileira.

As fotografias, por si só, já comporiam um templo de expressividade, merecendo um ensaio à parte. Cada nuança registrada nos olhares de adultos e crianças pode desvelar uma ideologia. A preciosidade das tiradas fotográficas passa a sensação de que alguns momentos foram captados em processo de longa espera, a fim de refletir o melhor ângulo, a melhor expressão, a sensibilidade mais fluida. Não deve ter sido em vão o cuidado de pluralizar as cenas do cotidiano indígena, misturando traços físicos e psicológicos dos habitantes da aldeia, dando vida a "detalhes" aparentemente sem importância.

Enquanto "passeava os olhos" pelo produto da mostra, inquietava-me com o processo que a permeou – e que na verdade nunca fica em evidência. As inferências foram surgindo gradativamente ... A vitalidade dos ensaios fotográficos, revitalizados a cada exposição por artistas consagrados ou nômades / mambembes. O poder da arte da imagem, que os alunos muitas vezes dominam de forma intuitiva, precisando ser estimulados para deixá-la florescer em potencialidade. O casamento da função estética da linguagem com a função problematizadora. A arte apontando uma resposta, ainda que ela não saiba - ainda que o leitor / interlocutor é que a tenha de construir.

Embora o projeto não se tenha limitado a trabalhar a fotografia, o jogo de imagens edificado pelos alunos revela uma plurissignificação contundente. A oficina revela-se um recorte da "Literatura sem palavras". Por trás de tantos textos não-verbais, o interlocutor automaticamente constrói textos verbais significativos. E a leitura da imagem assume, para quem a visualiza, uma feição ideológica e comprometida, uma negação à neutralidade.

Depois de trabalharem a arte da fotografia, em suas especificidades, os alunos preocuparam-se em dar vida às imagens por uma outra vereda - a da palavra. E os dois códigos – palavra e imagem - fizeram-se uma coisa só, numa mesma linha discursiva. Quem "escreveu" a fotografia não necessariamente a concebeu/materializou. E a inter-ação entre sujeitos tornou a exposição ainda mais viva, surpreendente. E até mesmo imprevisível, em algumas associações construídas.

"Passeando os olhos" (e a mente) agora no reino das palavras, em muitos momentos conseguimos visualizar as fotografias que as inspiraram, como se uma fosse parte intrínseca da outra. A língua não aparece para transmitir informações, e sim para expor visões críticas de sujeitos que não se fazem assujeitados, apesar do esforço da sociedade em calá-los, pela via do pensamento manipulador.

Manifestando-se pela palavra polissêmica, os educandos posicionam-se com sensibilidade e racionalidade em relação ao aniquilamento da cultura indígena. Registraram o aculturamento progressivo de uma raça; a miscigenação de culturas que não raro tende a aniquilar uma em benefício da outra; a necessidade de conscientização de nossa gente para os riscos de estarmos repetindo a história de nossos antepassados, a partir da nossa subjugação a outros interesses e culturas. Nem todos os enunciados mostram-se definitivos. A língua é um processo em construção/constituição. Mas, não há dúvida, em todos os dizeres subjaz a consciência do vigor da palavra e da necessidade de elaboração do discurso, para instaurar um sujeito-locutor que quer "atingir" um interlocutor, enredando-o numa teia significativa.

Tivemos o prazer cuidadoso de reservar uma aula de língua portuguesa para visitar a mostra, juntamente com os alunos-produtores e outros alunos de 1º ano do Ensino Médio. Em cada visita, a percepção de traços diferentes tanto nas imagens quanto nas palavras. Os não-ditos, tanto em um código como no outro, internalizados e transformados em ditos. E, embora a palavra pareça efêmera, quando oralizada, em muitos de nós ecoou profundamente. A tessitura de interpretações que vivemos em cada oportunidade mostrou a relatividade das leituras, olhares, percepções. Só que as diferenças de enfoque, mais do que incomodar quem não as comunga, deve fazer-nos apropriar de novas perspectivas de análise/apreciação do mundo.

Quando estive observando a mostra com os alunos do 1º ano Integral – os criadores das fotografias e das palavras -, alertei-os para os riscos e/ou méritos de uma exposição dessa natureza. A imagem pode servir apenas para ilustrar - mas pode também problematizar – e eu acredito que essa tenha sido a pretensão da turma. A palavra pode ser apenas uma questão de retórica - mas pode também revelar concepções próprias de mundo, a fim de mudar estados de coisas que nos incomodam. Como professor dos meninos-artistas, quero crer que não hajam concebido uma exposição desse vulto apenas para cumprir um trabalho escolar. Por detrás das tantas imagens e palavras que nos legaram, penso que há uma polifonia de vozes a nos fazer refletir sobre o curso da História, a fim de modificá-la naquilo que nos for possível.

Às professoras que mediaram o trabalho, em sua habilidade e doçura, e aos alunos-fotógrafos/escritores, fica o reconhecimento de toda a comunidade escolar. A quem ainda não havia parado para analisar a mostra em profundidade, fica o convite e a sugestão. Permita-se inebriar pela pujança das imagens e pela ousadia das palavras. Analise criticamente cada fotografia e cada enunciado. Com certeza, você, como eu, sairá modificado. Permita-se desvendar esse tesouro que a Escola, metamorfoseada em organismo vivo e contextualizado, nos propicia.

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