Sexualidade: Fatos e Mitos, na escola Aristóbulo Barbosa Leão

Alunos voluntários da disciplina diversificada “Sexualidade – Fatos e Mitos” rompem os muros da Escola, dando consistência à integração do projeto ao ideário da UNESCO.

No dia 11/12/2001 (terça-feira), com o ano letivo já encerrado para a grande maioria de alunos, diversos participantes da disciplina diversificada Sexualidade: Fatos e Mitos deram um passo importante na extrapolação dos muros da Escola, dirigindo-se à escola pública municipal “Aristóbulo Barbosa Leão” para proferir palestras e realizar dinâmicas com alunos de outros segmentos sociais, moradores de diversos bairros da região da Grande Vitória.

A iniciativa decorreu de convite feito pela mãe da aluna Daniele Scherrer de Abreu (1º C), a professora Margareth Scherrer de Abreu, que atua na área de Ciências para o Ensino Fundamental e desenvolve, em caráter voluntário, projeto sistemático sobre sexualidade com subgrupos de alunos de sétima e oitava séries, na referida instituição de ensino da rede municipal. Ao observar/acompanhar a consistência dos trabalhos e pesquisas desenvolvidos no “Da Vinci” em relação à temática, a professora Margareth pensou em propiciar inter-ação entre adolescentes de diferentes segmentos sociais, uma vez que, em seu entender, a repercussão das abordagens de adolescentes para adolescentes pode alcançar resultados bem significativos, gerando comprometimento com a socialização do saber, olhar social mais intensivo e habilidades/competências múltiplas tanto nos debatedores quanto nos espectadores.

O encontro foi realizado no auditório da “Escola Aristóbulo Barbosa Leão”, contando com a presença de aproximadamente cem espectadores. Os alunos do “Da Vinci” presentes foram atores educacionais, mantendo a estrutura dos trabalhos já vivenciados na própria Escola com filhos e parentes de funcionários das áreas de limpeza/segurança/administração, objeto de matéria específica neste site, só alterando a seqüência das dinâmicas, priorizando, num primeiro momento, as abordagens mais integradoras e menos expositivas/conceituais. A educadora responsável forneceu-nos grande apoio, preparando previamente os espectadores e reservando recursos/espaços que favorecessem a integração.

Os momentos de “dramatização” (monólogo sobre gravidez na adolescência e dialogia de vozes masculinas e femininas), bem como as dinâmicas para discussão de estereótipos sobre a sexualidade e compreensão de palavras-chaves ligadas à temática, despertaram grande interesse nos “espectadores”, em especial no público feminino, bastante “antenado”. Já os momentos de sistematização teórica e debates não tiveram igual receptividade, pois alguns participantes mostravam-se dispersos e pouco envolvidos, o que também deve ser visto com naturalidade numa experiência em que partilhamos mais o produto de nossa disciplina diversificada (uma síntese redutora) do que o processo que a permeou (que se estendeu por onze semanas de ensaios, vivências interativas, dinâmicas, pesquisas em grupo).

A inter-ação também não foi tão significativa como a acontecida no interior do “Da Vinci”, porque, numa primeira oportunidade de contato no universo do “outro”, tanto os explanadores quanto os espectadores estavam um pouco tímidos, ainda conhecendo o “terreno”. Acredita-se que, com a extensão de vivências dessa natureza, educandos tanto de um lado como do outro desenvolvam uma maior proximidade e estreitem laços afetivos e interesses pela consolidação de saberes.

Fazendo um balanço entre pontos fortes e desfavoráveis, a educadora que atuou como elo de ligação apresentou um retorno bastante positivo, destacando o mérito de conseguirmos vivenciar uma socialização de praticamente 2 horas de duração em ambiente amplo, com coincidência de tempo em relação ao horário de recreio da Escola. Enalteceu a qualidade dos trabalhos realizados pelo “Da Vinci”, a linguagem empregada pelos nossos educandos, a consistência das pesquisas partilhadas e dos recortes teóricos feitos, além da diversidade das dinâmicas propiciadas. Deu-nos a conhecer também a realidade vivenciada por alguns de seus alunos, demonstrando confiar na prática educativa como mola propiciadora de transformação social, o que “encampamos” como ideário educativo.

Uma representante dos alunos da rede pública, que se destacou na condução dos trabalhos pela participação comprometida e consciente, também agradeceu aos alunos do “Da Vinci” a oportunidade de inter-ação e o trabalho realizado, pedindo que retornassem em outros momentos para ampliar o debate e a contribuição, e sugerindo que visitassem outros espaços (escolas públicas/centros comunitários) para “repetir a dose” e disseminar o espírito da sexualidade consciente (não banalizada), pois o acesso de adolescentes de outros segmentos sociais à pesquisa e à informação em torno da temática ainda é muito restrita, sem falar nos mitos que os rondam e nos equívocos que cometem, devido à falta de orientação permanente.

É importante destacar que, quando se extrapolam os muros da Escola para ir até o “outro”, é preciso estar aberto para as imprevisibilidades e outras interferências não previstas. Como atividade precursora, o encontro mostrou-se bastante produtivo, demonstrando para nós que há muitos públicos de adolescentes precisando receber orientações mais consistentes em torno da temática da sexualidade. Voltamos a ressaltar que nossa intenção inicial era integrar, ao grupo de pesquisa/produção, alunos da Escola Pública, para que a socialização da etapa final do processo pudesse contar com o apoio e o comprometimento de educandos de outros segmentos sociais, mais conhecedores das demandas e posturas de adolescentes de seu hábitat. Esse ideário continuará a ser buscado no próximo ano, quando o projeto será repetido e continuará integrado ao corpo de iniciativas vinculadas à UNESCO. Estaremos mantendo contatos com escolas públicas para propiciar uma integração mais sistemática entre nossos alunos e alunos de outras realidades sociais, para que os efeitos multiplicadores alcancem dimensões mais amplas.

Vale distinguir a importância deste momento na consolidação do “currículo oculto” do “Da Vinci”. Após o encerramento do ano letivo, contar com o envolvimento de alunos já aprovados, para vivenciar experiências ousadas e desafiantes, é sem dúvida um grande diferencial. Nesse mesmo dia, no horário da tarde, alunos do 2º ano do Ensino Médio, sob orientação/mediação do professor Luciano Machado Couto (projeto “Finanças Pessoais”), proferiram palestra para educadores do “Da Vinci” sobre planos de previdência, um assunto de grande complexidade e que demandou grande trabalho prévio de pesquisa, especialmente de campo (visitas a bancos). Os alunos, também nesse particular, mostraram-se preparados e interativos, dando forma a outras concepções de tempo pedagógico e estendendo o período letivo para além do propiciado pela Escola. Como reflexão de final de ano, um grande avanço e um alento na crença de que os educandos podem atuar como sujeitos do saber e interferir na revitalização e re-significação do cenário educativo.

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