Maria Helena Salviato Biasutti Pignaton
A cada ano, com a incorporação de “novas” mães à nossa comunidade escolar (sempre em número expressivo; no ano letivo de 2002, aproximando-se de 200), surgem questionamentos a respeito do estilo adotado pelo Da Vinci para celebrar o Dia das Mães; não é diferente em relação à comemoração do Dia dos Pais ou a outras datas, frente às quais a escola busca um diferencial de atuação.
Desde sua fundação, esta instituição faz dessas datas uma oportunidade de usufruto pessoal para os principais homenageados, propiciando-lhes alternadamente festas dançantes; chás; almoços/jantares regados a boa música; coquetéis, etc. Tudo é concebido de forma aprofundada, contemplando a elaboração de convites e a seleção/elaboração de textos em forma de homenagem; a escolha de núcleos temáticos diversificados; a conscientização dos alunos no sentido de assimilarem a importância de a escola reservar um momento singular para suas mães, ficando eles mesmos nos “bastidores”.
A cada ano, vem se consolidando a impressão de quão importante é oferecer, aos membros da comunidade familiar, momentos para estarem com seus parceiros, celebrando suas vidas e partilhando impressões a respeito da maternidade/paternidade e de outros aspectos da existência, por vezes tumultuada e sem espaço para paradas reflexivas / sensitivas. Como se trata de um ponto de vista que diferencia do padrão adotado pelas instituições escolares ao lidarem com tais datas comemorativas, é esperado (e até saudável) que se gere uma polêmica na comunidade escolar Da Vinci, fazendo-nos refletir em conjunto.
Afora as questões pedagógico-educativas, que constituem nossa prioridade de atuação perante os pais, o Da Vinci trabalha as relações afetivas entre nossos alunos e suas famílias permanentemente, oferecendo alguns momentos de interação significativos ao longo do ano letivo. Assim o é quando acontecem os “churrascos na piscina”, as mostras de trabalhos na escola - exposição de artes; saraus musicais; teatro dos segundos anos - ou ainda eventos culturais que agregam alunos/filhos, educadores e pais/parentes em torno dos sensos estético e crítico. Nas festas de encerramento do ano letivo, em especial para o segmento do Infantil, e nas festas de formatura, é significativo o espaço reservado às mães e pais, como alvo de homenagens.
Especificamente em relação ao Dia das Mães, o Da Vinci abre espaço, durante o tempo pedagógico escolar da semana que antecede a data, para que cada aluno/filho homenageie, de forma individualizada, sua mãe. Homenagens ímpares surgem nesse contexto, em que a tônica é o aproveitamento das habilidades dos alunos e a consideração de suas individualidades/afetividades. Em matéria de celebração coletiva, optamos pelo modelo de homenagem que considera outros papéis desempenhados pela mãe na sociedade, em especial os de mulher e cidadã. Isso não pretende invalidar outras vias comemorativas ou concepções familiares e sociais em torno da função materna, mas somar-se a elas, ampliando o leque de oportunidades de convívio e de linhas de pensamento.
Ao optar pela perspectiva de homenagear coletivamente as mães, sem a presença dos filhos, a escola leva em consideração que a homenagem individual é a que mais ecoa na alma materna, bem como que muitos alunos já têm oportunidade de, em outros ambientes educativos (não escolares/formais), exercitarem a homenagem de caráter coletivo.
Sabemos que dificilmente haverá total consenso no trato da questão, entretanto nossa proposta tem sido compreendida e assimilada por um contingente significativo de mães/pais, em função do retorno favorável que recebemos ao final de cada evento comemorativo. Além do mais, o fato de algumas mães preferirem as homenagens prestadas em âmbito coletivo, com a presença de seus filhos, não significa que não possam usufruir / vivenciar bons momentos, pautados em pontos de vista diferentes dos seus, como acontece no Da Vinci. Dentre os principais papéis que cabem à escola da Modernidade, talvez esteja o de despertar para a diversidade de pensamento, fazendo conviver saudavelmente a multiplicidade de pontos de vista e a superação de radicalismos de opinião.