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A técnica GV/GO em aulas sobre escrita e oratória
05/04/2002 · por Paulo de Tarso Rezende Ayub

Professor é mediador nesta atividade
Professor é mediador nesta atividade
As questões de ensino e aprendizagem de língua materna vêm sendo repensadas constantemente por especialistas, professores e formadores de opinião (neste caso, como um eco da voz da sociedade). Com isso, o ensino da gramática normativa passa a conviver com outras iniciativas, em que prevalece o cuidado com as habilidades de expressão e o despertar de senso crítico para o uso e a análise de estruturas lingüísticas.

Apesar dessa tendência favorável, há ainda algumas confusões conceituais precisando ser trabalhadas no universo escolar. O argumento de que se detesta português, por exemplo, não traduz uma realidade, visto que é direcionado para um tipo de abordagem em torno da disciplina: a nomenclatura gramatical e o excesso de regras lingüísticas, muitas vezes sem aplicação prática. As noções de superioridade de algumas variantes lingüísticas em relação às outras igualmente carecem de legitimidade, pois desconsideram que as noções de certo e errado são relativas, aplicando-se de forma diferente a uns e outros contextos.

A Mídia também vem se debruçando sobre tais questões com uma intensidade bem maior, nos últimos tempos. A pluralidade de programas televisivos e de colunas de jornais, em torno de questões da língua portuguesa (ensino e uso), são uma forte evidência disso. Não deixa de ser um bom sinal, mas é importante que os educandos – geralmente deixados de fora das discussões – sejam mais ouvidos e contribuam para o processo de mudança de perspectiva no ensino da língua.

Alunos são motivados ao debate
Alunos são motivados ao debate
Foi com essa filosofia que o professor de Língua Portuguesa do ensino médio, Paulo de Tarso Rezende Ayub, propôs às suas quatro turmas de primeiros anos montarem um debate em torno de artigo publicado na revista VEJA, edição 1725, de 07/11/2001, intitulado “Falar e escrever, eis a questão”, no qual são abordadas as dificuldades dos brasileiros em expressar-se com clareza e correção e as estratégias de ensino (não somente escolares) adotadas para inverter esse estado de coisas.

A matéria usada como referencial de discussão apresenta casos de celebridades e pessoas influentes na sociedade que demonstram dificuldade de expressão e vêm sendo trabalhados por especialistas para superá-las; procura quebrar “mitos” históricos em relação à superioridade de alguns falares; busca um quadro de razões para as limitações no falar e escrever, dando destaque à falta de investimento na competência leitora; faz uma crítica aos relativistas, que às vezes desconsideram a primazia da língua-padrão na configuração da sociedade. Além disso, sistematiza alguns problemas cruciais da linguagem escrita e oral e análises teóricas em torno deles; testes para verificação de conhecimentos gramaticais; demonstrações práticas de trabalhos com a falta de clareza, mediante reescritura de laudos médicos e contratos redigidos por advogados. É um material precioso para leitura coletiva, principalmente se submetido à apreciação crítica e à divergência de pontos de vista.

Num primeiro momento, o professor solicitou aos alunos que fizessem uma leitura aprofundada do texto, em seu tempo pedagógico individual, estimulando-os a posicionar-se criticamente perante as tantas abordagens ali existentes, buscando pontos favoráveis e discordâncias; aspectos incompreensíveis; associações com a realidade e relações com conhecimentos prévios; possibilidade de montar iniciativas concretas a partir do texto; indicação do material para outros leitores, etc.

Um grupo vivencia, outro observa
Um grupo vivencia, outro observa
Num segundo momento, os alunos vivenciaram uma prévia do que deveria ser o debate final, tentando eleger pontos para discussão e definir papéis de mediação/ coordenação, dentre os participantes. Nessa etapa, houve um ponto de conflito: um grande número de alunos não se preocupou em ler o material previamente, dificultando o diálogo com os que o haviam feito.

Para a realização efetiva do debate, as quatro turmas de primeiros anos foram divididas em dois subgrupos cada uma, sendo que a cada um deles caberia o papel de debatedores (grupos de vivência - GV) e observadores (grupos de observação - GO), alternadamente. A avaliação seria feita de modo partilhado pelo professor e pelos colegas que ocupassem o papel de observadores. Ficou estipulado que os grupos de observação não poderiam interferir o debate dos grupos de vivência.

Além de verificar a capacidade dos educandos no sentido de extraírem a essência do texto e a capacidade de construir/ extrapolar conceitos, em vez de repetir dados e memorizá-los, a experiência serviu para demonstrar as diferenças do trabalho coletivo em relação às práticas individuais. Ao longo dos debates, alunos muito colaboradores e dispostos a se expor conviveram com outros ausentes e silenciosos; alunos posicionaram-se como leitores críticos, mas outros não se mostraram despertos para a importância da leitura; alguns mostraram preocupação com a formação de sua habilidades e competências, ao passo que outros ainda caminham para um maior nível de consciência; um bom número procurou superar limitações de linguagem e postura para alguns contextos formais, enquanto que outros ainda precisam ser monitorados/ ”pajeados”. Toda essa diversidade de percepções contribui para um grande crescimento dos grupos-classe.

Não é objetivo desta partilha detalhar os desdobramentos da vivência, até porque muitos dos aspectos tratados são específicos e interessam mais de perto à sala de aula, numa visão de processo. Mas esse tipo de atividade (comum no processo de seleção de empregados), em que há um tempo de preparação e um compromisso com a avaliação coletiva, guarda muitos méritos, devendo ser estimulado no cenário escolar. Os critérios considerados para avaliação foram:
a - organização do debate (papéis definidos de coordenação e mediação; postura pessoal dos debatedores e cooperação entre eles; ocorrência ou não de conversas paralelas;
b - distribuição da fala entre todos os participantes (sem centralização excessiva em alguns debatedores);
c - aprofundamento de temas e apresentação de pontos de vista diferentes;
d - referências ao texto oferecido e enriquecimento com outras leituras e conhecimentos prévios.

Professor estimula troca de idéias
Professor estimula troca de idéias
A maior competência demonstrada pelos grupos foi a preocupação em não recair no terreno dos achismos; para isso, os debatedores buscaram sustentação para suas falas no material distribuído e naquilo que estava escrito/ demonstrado no artigo. Por outro lado, a maior limitação deu-se em relação ao quarto item, já que apenas dois grupos, dentre oito, não se limitaram ao material oferecido, posicionando-se criticamente em relação aos dados estatísticos e às iniciativas da Mídia no sentido de potencializar as habilidades de expressão e leitura dos cidadãos (muitas vezes, segundo eles, mais estratégias de marketing que contribuições efetivas), além de demonstrarem formação de aparato teórico na literatura e em outras contribuições teóricas.

Avaliando-se uns aos outros, alguns subgrupos evidenciaram que, em certos debates, houve aprofundamento no tema e no delineamento de pontos de vista diferentes, mas faltou emoção e sensibilização dos espectadores. Outros grupos criticaram a tendência de alguns adolescentes no sentido de falarem todos ao mesmo tempo, demonstrando uma postura pouco apropriada em situações de preparação para o trabalho e competitividade no mercado.

Também ficou evidente a necessidade de muitos se espelharem uns nos outros para aperfeiçoar as habilidades de leitura crítica/ argumentação e uso da linguagem em diferentes contextos comunicativos. Alguns debatedores posicionaram-se contrariamente aos testes aplicados pela revista VEJA, alegando que pouco contribuem para a melhoria das habilidades de expressão dos usuários da língua, uma vez que se limitam à gramática da frase, e sugerindo que, em seu lugar, se adotem como principais referências a gramática do texto e a produção do aluno. Uma aluna teve a iniciativa de aplicar os testes perante pessoas de diferentes grupos sociais, para verificar os reflexos da formação escolar na superação de limitações lingüísticas.

Há participação total da turma
Há participação total da turma
Como contribuição mais decisiva, a divisão dos grupos de debate em dois grandes subgupos: um contingente de alunos que consegue se enxergar nas críticas formuladas pela revista e resolve questionar suas próprias posturas na valorização da língua materna e na superação de suas limitações para lidar com ela; outro grupo de alunos que prefere cometer a responsabilidade ao outro, ausentando-se da reflexão pessoal e não buscando interferir no processo de mudanças. Sem dúvida, essa dialética é significativa e reflete os rumos da sociedade. Os efeitos individuais, para cada aluno, não podem ser sentidos diretamente, mas é lícito afirmar que, proporcionalmente, o número de favorecidos supera em muito o de não tocados/ inalterados.

Para especialistas e professores, atividades dessa natureza geram uma grande contribuição teórica, pois os alunos trazem seus anseios e contribuições e ajudam a enriquecer o acervo existente, além de desenvolverem outras percepções, além da recepção e transposição de conhecimentos acadêmicos. Muitos são os temas instigantes que ainda se ausentam da sala de aula, entretanto é importante considerar a necessidade de a escola da modernidade envolver-se mais diretamente com questões que interessam de perto a toda a configuração da sociedade, sob pena de tornar-se obsoleta e acrítica.


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