A princípio, um filme sobre a Guerra de Canudos poderia ser ‘apenas’ um recurso didático para a aprendizagem de parte do currículo de História da 8a série. Para os alunos da 8a série A/2002 do Centro Educacional Leonardo da Vinci, no entanto, tornou-se muito mais.
Depois de alguns dias de trabalho acadêmico sobre informações históricas, os alunos assistiram ao filme “Guerra de Canudos”, de Sérgio Rezende, grande produção do cinema brasileiro lançada em 1997. A partir da obra cinematográfica, surgiram questões – mais humanas que históricas – que não podiam deixar de ser abordadas. Assim, os professores Felipe Ferreira Paes, de História, e Paulo de Tarso Rezende Ayub, que trabalha a Língua Portuguesa com o Ensino Médio, prepararam o encontro do dia 14/06.
A entrada no “clima” necessário à reflexão foi garantida pela introdução: as canções Lamento Sertanejo (Gilberto Gil), Romaria (Renato Teixeira) e Sobradinho (Sá e Guarabyra) propiciaram o início do envolvimento com o tema. Para iniciar a primeira parte do encontro – “O homem, na visão de Euclides da Cunha” – , o mediador Paulo de Tarso trouxe alguns trechos da obra “Os sertões” para leitura individual, também convite à reflexão. O professor Felipe reviu alguns fatos históricos e questões ideológicas que não podem ser esquecidas na reconstrução do contexto: relações entre Monarquia e Igreja, entrada do país no período republicano, relatividade de pontos de vida versus inflexibilidade de opiniões, (des)encontros entre vida civil e vida religiosa.
O olhar para as diferenças entre o homem litorâneo e o sertanejo, com a evocação de imagens trazidas pelo texto e conhecidas dos alunos – Hércules, Quasímodo –, trouxe o pensamento sobre alguns aspectos da vida em Canudos. O debate construiu-se através da interação de leituras dos alunos, mediadas por Paulo de Tarso e Felipe.
No segundo momento do encontro, o debate retomou o filme “Guerra de Canudos”. A princípio, foi lido e discutido o seguinte comentário escrito pelo professor Paulo de Tarso:
Merece destacar a originalidade de abordagem, que traz todo o drama da Guerra de Canudos sob uma nova perspectiva, enfatizando a saga de uma família sertaneja, retrato de tantas outras. Singular a “fragmentação” do núcleo familiar, a partir da postura da personagem central (Luíza), que se nega a aderir à causa do conselheiro.
É visível a manifestação de diferentes pontos de vista tanto em torno de Antonio Conselheiro como do Exército, os dois grandes eixos da Guerra e da Resistência.
Também é significativa a “poeticidade” e a “criticidade” que marcam tantas cenas do filme, demonstrando habilidade para reler a História, aproveitando dados factuais, mas dando-lhes outra roupagem, em que a “interpretação” ( e não a “compreensão”) é o principal alicerce.
Em seguida, Paulo solicitou que os alunos fizessem, a partir de recortes transcritos da obra, a interpretação de algumas falas de Antônio Conselheiro, Luíza e outros ‘personagens’ de Canudos. O entendimento de situações e cenas do filme torna-se mais verdadeiro depois da reflexão empreendida pelo grupo, fazendo com que desperte nos alunos uma emoção compreensiva que ultrapassa tanto história quanto ficção para localizar-se no sentimento de humanidade.