O conhecimento transforma-se em humanidade.

“Aquele que não dá valor à vida não a merece”
Leonardo da Vinci

O estudo do Corpo Humano, conteúdo de Ciências para as 7as. séries, desdobra-se em atividades várias, construídas na realidade da vida cotidiana: estudos sobre os sistemas componentes do corpo humano, palestra sobre envelhecimento saudável, visitas ao asilo, envolvimento em projeto sobre educação alimentar. Fortifica-se a razão do educar: aprender o saber das ciências para transformar o sentido da existência humana em ‘humanidade’.

Um gosto superior poderia ser o título da matéria que se segue; o “consciente coletivo” poderia resultar do vivenciado neste Projeto (Pedagógico?): encontro de gerações – visitas ao Asilo dos Velhos pelos alunos das 7as séries e professores acompanhantes.

O conteúdo escolar específico da Ciência propõe para a 7ª série o estudo da fisiologia da ‘máquina’ humana: do nascimento à morte; do desenvolvimento ao envelhecimento. No Centro Educacional Leonardo da Vinci vimos privilegiando esse conteúdo, não como ciência ‘dura’, dogmática, força do poder. As dimensões alternativas para o existir na contemporaneidade oferecem-se cotidianamente aos nossos sentidos – temos tentado fazer dessa realidade que nos cerca a razão do educar: aprender o saber das ciências para transformar o sentido da existência humana em ‘humanidade’.
Os processos físico-químicos que ocorrem em nosso organismo começaram a ser estudados, desde o início letivo de 2002, em aulas magistrais e interativas, sempre mediadas pela professora titular. Profissionais da área, que atuam no mercado, pais de alunos, sempre muito colaboradores, propiciaram a nossos alunos uma visão dos conteúdos relacionados.

No dia 29/05, Dra. Regina Viana Mesquita, médica geriatra, proferiu palestra “Como envelhecer com saúde”, abriu espaço para questionamentos, ofereceu dados reais para pensamentos e reflexões.

Em linguagem adequada à faixa etária do público, a palestrante abordou questões como o ciclo vital, as possibilidades de envelhecimento saudável, as hipóteses que tentam explicar porque envelhecemos e os fatores que interferem no envelhecimento.


Os alunos tiveram muito a perguntar. Todos os colegas ouviam atentamente as perguntas uns dos outros, bem como as respostas da palestrante sobre qualidade de vida, promoção de saúde, preconceitos em relação aos idosos. Dra. Regina trouxe informações da Conferência da ONU, realizada na Espanha, sobre diretrizes para o envelhecimento e dos muitos locais municipais, em Madrid, onde idosos passam o dia, em atividades que se assemelham às nossas escolas.

A alimentação é um dos fatores influentes no funcionamento ideal da ‘máquina’ do homem e em sua qualidade de vida. O Leonardo da Vinci oferece aos seus alunos, professores e funcionários, a possibilidade de lanches e almoço na escola. Sem a tradicional cantina escolar, lugar em que o ‘gostoso’ imediato é chamariz para os que o consomem e benefício aparente e temporário ao usuário, a escola optou por uma dieta saudável, variada nos nutrientes necessários à saúde e não aos olhos do ‘consumidor’, sem propagandas enganosas. Muitas e contínuas ‘brigas’ com pais e responsáveis.

Cleide Alves Pena, responsável pelo serviço de alimentação do Da Vinci, economista doméstico, esteve com os alunos da 7a série, partilhando seus conhecimentos na área de educação alimentar e oferecendo seu local de trabalho para observação pelos alunos: da despensa, passando pela cozinha ao refeitório – da higienização à qualidade da dieta. A finalização desse momento culminou com o trabalho dos alunos na ‘linha de frente’ – servir alimento ao ‘consumidor’.

Os alunos – trabalhadores puderam observar e verbalizar nesta etapa do trabalho hábitos da ciência e da humanidade bem construídos por alguns e nada por outros. Alguns depoimentos destes alunos:

“Com esse projeto, tive a oportunidade de estar no lugar de uma funcionária da escola. Muitas vezes me encontrei em situações complicadas ou engraçadas. Além de tudo, eu aprendi a ter uma relação de igualdade com os funcionários da escola – que, confesso, não tinha antes”.– Renata, 7ª I.

“Para mim essa experiência foi muito interessante, porque durante o projeto conhecemos o trabalho das servente e os hábitos alimentares das pessoas” – Fabrício, 7ª I

“Durante o Projeto Educação Alimentar participamos de uma experiência que, antes de ser iniciada, parecia ser banal e sem sentido: os alunos serviram almoço nos dois refeitórios do Da Vinci, no lugar das serventes que trabalham nesses locais diariamente. De uma simples brincadeira (era o que achávamos que seria), aprendemos que muitos alunos não respeitam essa profissão, muitos nem “boa tarde” dão aos funcionários, além de não terem bons hábitos alimentares. Terminado o projeto, passamos não só a nos alimentar melhor, mas também a respeitar mais as pessoas.” – Rafaela, 7ª I.

“Com esse projeto eu aprendi a respeitar as pessoas, independente de sua função ou condição social, pois eu vi como há falta de respeito com as pessoas que trabalham na escola.” – Marco, 7ª I.

A professora titular, Raquel Tavares, levou os alunos interessados ao Asilo dos velhos, local que recebe diariamente parte da alimentação de seus internos do Da Vinci, para que num contato direto, o estudo científico até então feito pudesse ser observado. Nem tudo parou aí. A ciência não explica o real, humano.

Em meio a tudo isso havia um ‘combinado – desejo’ (desde a visita anterior ao Asilo) dos alunos participantes do Projeto: fazer Festa Junina no Asilo dos Velhos. E quando há auto-motivação, levada por motivos quais, o que menos importa, tudo acontece. Sem muito movimento diferenciado observável no cotidiano escolar, tudo aconteceu: no dia 19 de junho de 2002, três ônibus saíram do Da Vinci para o Asilo. Levavam alunos vestidos a caráter para uma quadrilha; alimentos saborosos e propícios para pessoas de 3ª idade.


A aparente falta de movimento nos corredores escolares do Da Vinci tem razão em ser: Ana Neves, professora de espanhol com formação acadêmica em Nutrição, trabalhou junto aos alunos, em sala de aula, em sua própria casa, no Asilo, dando receitas culinárias, confeccionando com os alunos as receitas, decorando o ambiente do Asilo. Emílio, professor de Educação Física, ensaiando e informando aos alunos passos de danças de quadrilha adequadas à faixa etária, sem movimentos bruscos, sem riscos para a integridade física. Da arrecadação do material – dos faldrões geriátricos ao leite; dos alunos vestidos a caráter dançando e/ou servindo; das mães de alunos do Da Vinci no Asilo para um trabalho social que realizam semanalmente; da “sempre-aluna” do Da Vinci em estágio de fisioterapia; da chegada de alunos pequenos de outra escola que juntaram-se aos nossos e aos ‘velhinhos’ na dança... um momento de conhecimento e também de humanismo de todos os que participaram.

“Eles estavam ansiosos pela nossa visita, e pareciam estar muito felizes por nos ver. Um senhor ficou até tonto de tanta ansiedade. No começo eles ficaram observando a gente, mas depois eles começaram a se soltar ao poucos. Alguns se intimidaram em falar de dança, porque não sabem dançar, outros já tomam a iniciativa e nos tiram para dançar.”

“D. Perina queria muito dançar, estava muito feliz, mas usa muletas.”

“Mariazinha está no asilo há 6 anos. Dançou sem parar, chorou bastante quando estávamos para partir. Disse que si tem um irmão e que o asilo é tudo para ela. Pediu que a escola voltasse para fazer mais visitas.”

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