Como co-partícipe de uma parceria bem-sucedida, que remonta à fundação da escola, o Da Vinci vem brindar mais um êxito obtido por Leila Rentroia Iannone, nossa assessora pedagógica e consultora educativa permanente, reconhecendo os méritos de uma pessoa que parece ter nascido “doutora em educação”. A professora Leila, já conhecida de tantos educadores, pais e alunos da comunidade Da Vinci por causa de palestras e contatos freqüentes mantidos ao longo de nossa história educativa, galgou mais um degrau em sua sólida trajetória de práxis, tornando-se agora doutora em educação, com abordagem em currículo.
Quem tem oportunidade de manter contatos com a professora Leila, mesmo sem o privilégio que detemos de doze anos de trabalho conjunto, observa que se trata de uma pesquisadora/especialista com visão prática e contextualizada da educação, que não concebe teorias “ensimesmadas”. Lendo-se a síntese de sua tese de doutoramento, ora disponibilizada, percebe-se que surgiu de suas tantas inter-ações com instituições educativas, em que jamais se coloca como detentora da verdade, mas como uma parceira atenta na concepção de ideários educativos, gestões escolares e práticas pedagógicas, pautando suas pesquisas e sistematizações teóricas pela flexibilidade e diversidade de pensamento.
Ao longo de todos esses anos de parceria, as funções exercidas por Leila Iannone, perante o da Vinci, passaram por diversas perspectivas que podem ser sintetizadas em quatro alicerces: formadora; agente de feedback; fonte de conhecimento; interlocução crítica. No que diz respeito a abordagens teóricas, o leque de contribuições propiciado por Leila é igualmente abrangente, tendo transitado por variadas dimensões, com destaque para: gestão escolar, ideário educativo, formação de professores, inovações curriculares, avaliação institucional, currículo oculto.
Sabemos que Leila nutre um apreço especial pelas escolas que assessora, estimulando transformações educacionais, mas recomendando prudência e cuidado com modismos. Especificamente no caso do Da Vinci, é grande incentivadora de nossas inovações curriculares e publicações institucionais. Em relação ao periódico “Leonardo em Revista’”, no qual exerce as funções de revisora e consultora, alega considerá-lo como um produto de sua gestação, tendo experimentado, no contato com o primeiro número da revista, sensação parecida com a sentida quando da circulação de sua primeira obra literária.
A partir de 05/06/2002, Leila assumiu a Diretoria de Projetos Especiais da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE – da Secretaria de Educação de São Paulo. Com sua larga experiência em instituições de ensino público e privado, Leila Iannone tem muito a dizer e a contribuir para o repensar e revitalizar do sistema educativo. Sabemos que nossa assessora pedagógica terá bom ânimo para continuar com suas tantas empreitadas na educação, permanecendo como interlocutora de tantas instituições; ponto de contato entre as esferas pública e privada; porto seguro para as escolas que, como o Da Vinci, não querem se limitar à mesmice e à repetição de modelos.
Leia, a seguir, curriculum vitae resumido e síntese da tese de doutoramento defendido pela professora Leila Inannone.
LEILA RENTROIA IANNONE - PROFESSORA DOUTORA
* DOUTORA EM EDUCAÇÃO – CURRÍCULO, PELA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO.
* MESTRE EM EDUCAÇÃO – SUPERVISÃO E CURRÍCULO, PELA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO.
* PALESTRANTE EM VÁRIOS CONGRESSOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS, ENTRE ELES: VIII CONGRESSO NACIONAL DE PEDAGOGIA , EM SANTIAGO DE COMPOSTELA – ESPANHA; CONGRESSO INTERNACIONAL “ UM OLHAR SOBRE PAULO FREIRE” , EM ÉVORA – PORTUGAL.
* AMPLA EXPERIÊNCIA COMO PESQUISADORA EM DIVERSOS PROJETOS LIGADOS À EDUCAÇÃO.
* ATUAÇÃO EM PROJETOS DE AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL, DE CURSOS E CURRÍCULOS NO ENSINO MÉDIO E SUPERIOR.
* RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO DE PROJETO E ASSESSORIA PARA A IMPLANTAÇÃO DO CURSO DE PEDAGOGIA DAS FACULDADES DOMUS , SÃO PAULO; COLÉGIO MIGUEL DE CERVANTES, SÃO PAULO; CENTRO EDUCACIONAL LEONARDO DA VINCI, VITÓRIA, ES;
* PROFESSORA CONVIDADA PARA SEMINÁRIOS DE PÓS-GRADUAÇÃO NA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO ; NA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO E OUTRAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR.
* ASSESSORA E CONSULTORA EDUCACIONAL PARA A REDE PRIVADA E PÚBLICA DE ENSINO
* AUTORA DE DEZESSETE PUBLICAÇÕES NA ÁREA EDUCACIONAL , DIDÁTICA E INFANTO-JUVENIL.
* PREMIADA COMO MELHOR AUTOR/MELHOR TEXTO PARA JUVENTUDE PELA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE CRÍTICOS DE ARTE – PRÊMIO APCA 1988 , COM A OBRA “ EU GOSTO TANTO DE VOCÊ...”E PRÊMIO ALTAMENTE RECOMENDÁVEL PARA A OBRA “ O MUNDO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS” – 1994 – FUNDAÇÃO NACIONAL DO LIVRO INFANTO E JUVENIL.
REORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CAMINHOS DE INTERVENÇÃO
Leila Rentroia Iannone*
O trabalho como assessora em escolas privadas deu-me a oportunidade de atuar na avaliação institucional e, sobretudo, na avaliação de currículo, providências preliminares à intervenção curricular com introdução de inovações, visando à mudança.
Aproveitando essas experiências, desenvolvi minha tese de doutorado que descreve e analisa caminhos de intervenção no currículo de três escolas, a partir da construção do projeto político-pedagógico, da introdução de projetos de trabalho, da adoção de livros didáticos, respectivamente. Nos meus estudos, busquei a interpretação dos movimentos que se instalam na vigência dos processos de reorganização curricular no intuito de oferecer subsídios para os que têm a tarefa de desencadear e acompanhar trabalhos nessa direção, tanto na escola particular como no sistema público de ensino.
Os diferentes percursos adotados pelas escolas em que atuei ofereceu-me farto material documental do qual extrai recortes para análise. O fato de eu ter coordenado as avaliações e assessorado reorganizações propiciou a observação participante e a investigação na ação, condições privilegiadas para a posterior compreensão dos movimentos de mudança, os impasses, os conflitos de interesses, a emergência do discurso pedagógico inovador e a concretude da ação.
A reorganização do currículo envolve aspectos de grande complexidade, acrescidos de expectativas da comunidade de pais, alunos e professores em relação à eficácia de processos e consecução de objetivos que se definem em razão de uma cultura local e de cenários globais.
A opção pelos possíveis caminhos de intervenção no currículos, está portanto, diretamente ligada às necessidades da unidade escolar, à conformidade com a legislação em vigor, às construções sociais de cada comunidade e às representações que os sujeitos alimentam diante do que é educar e do que é educar-se no mundo contemporâneo.
Nesse contexto há que se dar relevo ao papel do professor, protagonista de possíveis mudanças na sala de aula, e do aluno, sujeito ativo na construção de conhecimentos e processos de aprendizagem.
A escola, onde se consuma o currículo, é um universo complexo e múltiplo em que as inúmeras faces não podem ser ignoradas, por isso apoiei minha análise na “visão alargada da escola” (Benavente, 1992), na “abordagem multireferencial”, descrita por Ardoíno (1977) e nas pesquisas de Hutmacher (1992), Nóvoa (1992), Canário (1996) e Barroso (1996) sobre o tema, além dos efetuados por Carvalho e Diogo (1994).
Ao estudar a reorganização curricular levei em conta a escola como organização, pois esta constitui-se em uma unidade social, intencionalmente construída; relevei a perspectiva de sistema, em que as relações de comportamentos e intervenções produzem atos e lógicas singulares; considerei a escola como instituição, produtora de um discurso e normas que veiculam uma cultura e uma visão de mundo.
No percurso do meu trabalho localizo minhas intervenções no currículo, nas teorias de desenvolvimento curricular, a partir de estudos prévios realizados sobre as concepções de curriculistas que influenciaram minhas reflexões, enquanto assessora e interlocutora dos gestores das escolas selecionadas para análise. São eles: Sacristán (1998), Pacheco (1995), Ribeiro (1996), Zabalza (1994), Scuratti (1982), Alonso (2000).
Trabalhar com a pesquisa educacional, no meu caso com a reorganização curricular, exigiu a discussão de referências e a tomada de posições, frente aos diferentes constructos teóricos possíveis para a fundamentação e organização do trabalho. Considerando que meu trabalho vai além da descrição de processos de reorganização, avançando na análise de modelos de intervenção, suas singularidades e repercussões, escolhi a abordagem qualitativa de pesquisa que atendia às peculiaridades do meu objeto de estudo, pois abriu-me espaço para investigar a relação entre política, cultura, estrutura e ação presentes no currículo e seu desenvolvimento, elementos fundamentais nos processos de reorganização curricular.
Após a conclusão da pesquisa organizei alguns pontos que podem se constituir em contribuições para futuras intervenções no currículo.
1. Não há como decidir a priori os procedimentos a serem adotados nos diversos caminhos de intervenção. Eles se definem a partir de exigências e emergências que ocorrem no cotidiano escolar. A lógica da reorganização curricular constrói-se em processo e desafia a todo momento quem dele participa. É preciso considerar a intencionalidade declarada pela instituição e simultaneamente, trabalhar com o pensamento divergente dos diversos grupos e segmentos, em ritmos de trabalho diversos, assíncronos, na maioria das vezes.
Interpretar esses movimentos, estabelecer alianças, construir um nexo para a dinâmica de trabalho, estabelecer patamares sobre os quais se edificarão novos avanços, não é trabalho episódico, mas sistemático e contínuo.
2. As contribuições de um especialista e/ou assessor só terão significado se forem utilizadas como recurso auxiliar e o profissional aceito como agente de feedback, pesquisador de alternativas, organizador de trabalho. Não há como esperar a construção efetiva de um modelo curricular determinado por alguém descolado da vida da comunidade; por mais proximidade e intimidade que o assessor possa ter com a escola, sua presença é episódica, e circunstanciada, não executiva e, provavelmente, ele estará ausente nas fases subseqüentes à introdução de inovações.
3. A competência no trabalho de reorganização curricular supõe muito mais do que estudos teóricos e a repetição da experiência em diferentes espaços de atuação profissional. Fazer intervenções no currículo supõe uma bagagem de vivências na escola, como professor, técnico e gestor. Interpretar as diferentes vozes, na manifestação de diferentes desejos e expectativas, exige que o assessor, a todo momento assuma o lugar do outro para poder conhecer que motivos, que necessidades impulsionam os sujeitos nesta ou naquela direção, pois o currículo é para cada um deles uma rede distinta de sentidos e significados. Esse é um caminho para entender-se o porquê de muitas instituições, mesmo após manifestarem o desejo de introduzir inovações e formalmente escreverem um novo currículo, acabam por reproduzir velhas práticas, adotando apenas uma pequena parcela dos novos conteúdos projetados.
4. A reorganização curricular antecedida por avaliação institucional demonstrou ser um caminho produtivo, desvelador de intenções, de práticas, sinalizando o universo cultural da instituição, apontando pistas para o desencadeamento e desenvolvimento do processo.
5. As abordagens antropológicas e sociológicas no estudo das resistências dos professores às mudanças têm trazido contribuições importantes. Entretanto, após meu percurso, concluo que é desejável uma nova incursão pela psicologia organizacional por aqueles que têm a tarefa de intervir no currículo, para o levantamento de outros viéses de leitura e compreensão de comportamentos individuais e coletivos diante de mudanças, no contexto das organizações escolares públicas e privadas.
São muitos e possíveis os caminhos de intervenção no currículo. Os que vivi, ao longo da experiência relatada, certamente servirão como ponto de partida para processos mais aperfeiçoados em outros espaços e organizações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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· ARDOÍNO, Jacques. Éducation et politique – Propos actuels sur l´education. Paris: Gauthier-Villars, 1977.
· BARROSO, João. O estudo da autonomia da escola: da autonomia decretada à autonomia construída. In: BARROSO, João (org.). O estudo da escola. Porto: Porto Editora, 1996. p. 167-189.
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· RIBEIRO, Antonio Carrilho. Desenvolvimento curricular. 6 ed. Lisboa: Texto Editora, 1996. 182 p.
· SACRISTÁN, José Gimeno. O currículo. Uma reflexão sobre a prática. 3 ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 1998. 352 p.
· SCURATI, C. Dal Programa allá Programazione: l´ipotesi del curricolo. In: FRABBONI, F. L´innovazzione nella scuola elementare. Florença: La Nueva Itália, 1992. p. 85-123.
· ZABALZA, Miguel A. Planificação e desenvolvimento curricular na escola. 2 ed. Rio Tinto/Portugal: Edições ASA, 1994. 288 p.