Apresentação sobre Queimado

Fazendo uma avaliação institucional do Da Vinci na edição nº 7 de “Leonardo em revista”, a Diretora Pedagógica da Instituição destaca a necessidade de um maior investimento, por parte de educadores e alunos, em relação à interação dos segmentos de Infantil a Ensino Médio em torno dos tantos projetos pedagógico-educativos desenvolvidos. Trata-se, realmente, de uma “estratégia” significativa, pois desperta múltiplas habilidades nos educandos e dá maior significação aos trabalhos acadêmicos, sem falar na repercussão que as falas de alunos alcançam, perante outros alunos, em termos de interesse e apropriação do conhecimento.

Com esse espírito, um grupo de alunos do 1º I-1 do Ensino Médio foi convidado para fazer uma partilha com alunos de 3ª e 4ª séries integrais do Ensino Fundamental I em torno do projeto “O templo e a forca”, que já motivou tantas matérias neste site. O ponto de contato: o estudo das etnias capixabas e a história do negro nesse percurso fazem parte do currículo dos alunos do Fundamental I. Como deixar de lhes propiciar acesso à história de Queimado, com todas as suas nuances?

A escolha do 1º I-1, como socializador, deveu-se ao empenho demonstrado nas diversas etapas do processo e à qualidade/diversidade das produções acadêmico-literárias surgidas naquele grupo-classe, o que não invalida o valor das elaborações de outros grupos-classe, que também vêm sendo objeto de iniciativas de socialização outras.

Os professores mediadores e alunos envolvidos idealizaram um momento diversificado, evitando a abordagem puramente expositiva e alternando recursos didáticos.
Numa primeira etapa, os alunos Bruna Sá, Maraína Lima e Vítor Gomes fizeram uma panorâmica do projeto, discorrendo sobre o fato histórico e a obra literária “O templo e a forca”, bem como sobre o trabalho interdisciplinar realizado (Português / Geografia), contemplando a leitura coletiva do livro; a dramatização de cenas; a interação do escritor com os alunos e professores envolvidos; a “cessão” da exposição comemorativa dos 150 anos da Insurreição; as “excursões pedagógicas” ao local; a produção de trabalhos de naturezas diversas.

Numa segunda etapa, passou-se à leitura e interpretação da obra infantil intitulada “O conto de Queimado“ , por iniciativa de algumas alunas do grupo que a elaborou. Valendo-se de recurso didático apropriado (a transformação da história impressa em material virtual - via Powerpoint), as explanadoras Bianca Freitas, Helena Su e Marianna Faé alternaram-se na contação da história e na interpretação das entrelinhas, contextualizando os pequenos espectadores nas ilustrações que integram a obra, nas quais comparecem desde a simulação das diferenças de interpretação entre ricos e pobres com relação à liberdade espiritual até a descaracterização do patrimônio histórico pela iniciativa humana.

Em seguida, as alunas Gabriela Chieppe e Isis Saiter leram e interpretaram o conto “As lembranças”, produzido pelo grupo de que fizeram parte. Nessa trama literária, o cativo Corcunda relembra o drama da Insurreição de Queimado, recontando a história para seu neto. Eis um texto emocionante, repleto de metáforas e referências intertextuais/históricas, mostrando um “ponto de vista escravo”, às vezes não priorizado na História Oficial.

Na última etapa, os alunos Bruna, Maraína e Vítor retomaram a palavra para apresentar o documentário em vídeo que ajudaram construir. Diferentemente de outros subgrupos, que optaram por contar com um guia especializado e com a presença dos professores para chegar até Queimado, esse subgrupo decidiu “filmar” a dificuldade de acesso e o desencontro de informações em torno da Insurreição e da manutenção do sítio histórico. O documentário que teceram divulga o trabalho de um artesão que cuida do resgate de monumentos históricos em miniaturas, com alguns de seus trabalhos hoje expostos na Casa Cor da Praia do Canto; denuncia a falta de leitura das placas indicativas e a precariedade das vias de acesso; mostra em detalhes o sítio histórico, passeando pela História e pela Literatura para enriquecer o texto de fundo; faz denúncias ao descaso governamental e de toda a sociedade com a preservação da memória cultural e do patrimônio histórico.

A professora titular da 3ª série Integral, Dora Freitas, conhecedora da história de Queimado e visitadora do local, auxiliou o grupo expositor, acrescentando que, a todo 19 de março, há celebração de uma missa “afro” no local para relembrar o fato histórico e o drama humano que o caracterizou, sob coordenação da comunidade de São José de Carapina. Apesar desse marco, é visível que Queimado não conta com uma infra-estrutura de preservação, valorizando-se mais seu caráter simbólico.

Ao longo das apresentações, as crianças mostraram-se concentradas e participantes, fazendo perguntas aos explanadores, em especial sobre alguns termos que não entendiam. O momento cultural foi encerrado com a leitura de um texto-depoimento da aluna Maraína, em que revela a emoção que sentiu ao se deparar com as “ruínas” da igreja e do cemitério de Queimado. Interessante os alunos de Ensino Médio atuarem como referências para alunos do Ensino Fundamental, mostrando que a construção do conhecimento pode ser prazerosa e lúdica, sem recair no lugar comum.

Veja mais matérias sobre o tema:
O Templo e a Forca: a Insurreição de Queimado
O Templo e a Forca: a Insurreição de Queimado 2
Exposição dos 150 anos da Insurreição do Queimado
História do Espírito Santo para 3as e 4as séries
Visita às ruínas do Queimado: fechamento do projeto.

E-mail cadastrado no site

Senha

Comentário