Resenha sobre
“Do outro mundo”, de
Ana Maria Machado
(Ática, 2002)
por
Tayana Agostinho Ayub
O narrador-personagem Mariano e seus amigos Elisa, Léo e Terê vão passar um tempo numa fazenda transformada em pousada pelos pais deles, exceto os de Terê.
Na primeira noite, enquanto todos dormiam, Mariano e Elisa escutam um choro desesperado: entretanto não contam nada para seus colegas. Na noite seguinte, todos ouvem o mesmo choro e de repente, após Elisa pegar um certo castiçal que achara naquele próprio local (que por sinal era uma senzala), vêem o “fantasma-menina” de Rosário.
A “garota-transparente” conta sobre o tempo que a escravidão tomava conta daquele reino; quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, todos os empregados negros que não recebiam salário ficaram sabendo do acontecimento e o dono da fazenda ficou com muita raiva, até que...
“... os escravos trancados no escuro lá dentro da senzala ouviram a ordem: - Pode jogar o óleo.
Em seguida, sentiram o cheiro. E logo sentiram o calor, viram o clarão do fogo, ouviram os estalos das chamas que se alastravam rapidamente, subiam pelo telhado de palha, despencavam em cima deles. Já que não podia continuar a ter escravos, Sinhô Peçanha preferia tocar fogo em tudo. Queimar todo mundo vivo. Para que, pelo menos, a liberdade não fosse uma festa e ele não tivesse que encarar os olhares dos pretos livres.” (p.88)
Rosário, depois de falar de sua morte para seus “novos amigos”, faz com que eles cumpram uma missão de escrever um livro e achar o irmão do espírito sofrido, porque aquele havia fugido antes da “matança”.
O racismo ainda continua forte por várias pessoas considerarem a cor da pele como o que vale nos humanos. Entretanto o que vale mesmo é o sentimento. Este livro ajuda a mostrar como os negros sofreram e merecem uma vida decente e amorosa.
Há na obra uma figura que me marcou muito: Rosário, com uma expressão inexplicável, que me deu um “puxão” no peito (p.44). Se este livro virasse verdade, queria estar convivendo com a cativante Rosário, Maria do Rosário.