Sexualidade: fatos e mitos

Comentário do professor Paulo de Tarso Rezende Ayub

Uma das etapas da disciplina diversificada “Sexualidade: Fatos e Mitos”, em 2002, foi a reserva de um momento para que os alunos, divididos por sexo, partilhassem impressões e percepções em torno de temáticas relevantes relacionadas à sexualidade, passando por masturbação, primeira vez, mitos, tabus, preconceitos, estereótipos, fantasias, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez e maternidade na adolescência, interveniências de religião, família, etc.

A dinâmica, conduzida pelos integrantes do “Grupo de Análise sobre Sexualidade” (GASS), composto por ex-estudantes de sociologia da UFES, iniciou-se com uma discussão em grupo acerca das facilidades/dificuldades em ser homem/mulher, sendo que os representantes de cada sexo deveriam se posicionar em relação ao gênero oposto. Após essa partilha “comunitária”, o grupo foi dividido em dois e os representantes do sexo masculino/feminino puderam estar vivendo um momento intimista, sem contar com a interlocução do gênero oposto.

Ao final desse encontro, que provocou muitos momentos de reflexão e confiança, mas também de dificuldades e silenciamentos, o próprio grupo solicitou que, na semana subseqüente, os subgrupos masculino/feminino se alternassem num debate, respondendo aos questionamentos do gênero oposto. Diferentemente do que se percebera na semana anterior, poucos se expuseram, muitos entraram em conflito e houve a impressão de que as “máscaras” dominaram a cena.

O texto a seguir é o posicionamento de uma aluna em relação a essa etapa e revela a significação que assumiu perante o grupo, com raras exceções, mostrando a atualidade de questões que parecem “gastas”, mas na verdade ainda se mostram sem solução ou proposta de mudança.


Comentário da aluna Pétala Martins e Motta

Naquele momento do ano, as quartas-feiras já não eram dias comuns para os alunos do 1º ano da Escola. Nelas, eram desenvolvidas as chamadas “disciplinas diversificadas”: os alunos tinham quatro aulas para se dedicar a um assunto, escolhido por eles mesmos.

Era o quinto encontro (e só faltavam outros cinco) do grupo da diversificada “Sexualidade: fatos e mitos”. Como continuação de uma dinâmica feita na semana que passara, quando meninos e meninas conversaram separadamente, foram os 35 participantes tirar sua curiosidade sobre as conversas do sexo/gênero oposto.

Eu, que faço parte do grupo feminino, estava lá. Como já esperava que acontecesse em algum momento, ocorreu uma famosa “guerra de sexos”. Querendo/assumindo ou não, ela estava ali: a guerra, o conflito. Uns achavam graça; outros (poucos) nem estavam ali; muitos estavam inquietos, indignados; outros até descontrolados. E depois do alvoroço foi confessado que não gostaram do “conflito”.

Pois digo: para mim o conflito foi o maior barato. Meninos “atacando” meninas, e vice-versa; meninas e meninos tentando se defender. Máscaras, hipocrisia, verdades, mentiras. Diferenças. Retrato/espelho da vida em sociedade. Num mesmo momento, o que fora para a maioria uma guerra, foi para mim uma vivência encantadora e, mais que isso, enriquecedora. Agradeço ao grupo pela liberdade e possibilidade que temos e tivemos de expressar nossas idéias e opiniões.

E os maiores conflitos ainda estão por vir ...

Que venham!

Comentário do professor Paulo de Tarso Rezende Ayub

Outro momento bastante significativo da disciplina diversificada Sexualidade, em 2002, foi a realização de momentos de socialização com 8ªs séries, para o que se reservou o recreio e adotou como espaço pedagógico a praça de entrada da escola,. Os pareceres a seguir ilustram percepções distintas e complementares em torno dessa etapa.

1º parecer, escrito pela aluna Camilla Ramos:

Em nossa disciplina diversificada “Sexualidade: fatos e mitos”, com o professor Paulo de Tarso, a cada dia observamos variadas situações e conceitos errados formados na cabeça de muita gente, inclusive nas nossas. Porque é só parando para analisar esse mundo de dúvidas, preconceitos, de pudores ou até da falta deles, que chegamos à conclusão de que a sexualidade não é somente um conceito e sim um universo encoberto pela sociedade, cheio de prós e contras.

Foi a partir dessa conclusão que chegamos a outra, porque se nós, que estamos debruçados sobre este assunto, ainda temos milhares de mitos, medos e opiniões (e por vezes temos vergonha de colocá-las para o grupo) imaginem quem não tem o mesmo acesso a estas questões.

Juntos definimos que devíamos fazer algo para divulgar algumas etapas de nosso projeto e então nos foi proposto montarmos apresentações no recreio do Ensino Fundamental II, especialmente para 8ªs séries, e desta maneira tentarmos esclarecer pelo menos alguma coisa em suas cabeças. Organizamos, então, dois momentos: o primeiro originado pela idéia e um texto esplêndido da aluna Roberta Cordeiro (1º I-1), em que era simulada uma entrevista com alunos, mostrando diferentes tipos de pessoas e perguntando o que cada um achava deles. Esse trabalho foi elaborado com o intuito de mostrar como nós julgamos cada um pela aparência e às vezes o que está por trás disso é uma pessoa totalmente oposta ao que foi julgado. Já no segundo momento, nos foi proposto dramatizar um texto feito pelo nosso professor Paulo, em que se teria uma pessoa ao meio e em torno dela várias outras, que seriam os sentimentos, que só sabiam criticá-la, fazendo julgamentos ao seu modo, sem dar qualquer liberdade de defesa, garantindo somente falar do ângulo que lhes interessaria. Essa pessoa na verdade simboliza a sexualidade que, num momento final, dá sua “lição de moral” em todos que a criticaram tanto, pois só fazem isso por não entenderem toda a sua complexidade, repleta de vantagens e, é claro que como qualquer outra coisa, também de desvantagens.

Os dois momentos foram muito bem interpretados e a opinião dos alunos que assistiram (a quem perguntei por alto) foram muito positivas. Creio que momentos como esses devem ser feitos mais vezes, não só por nós, mas sim por qualquer estudante que tenha o objetivo de nos trazer algo de importância, produtivo. Na maior parte das vezes, nosso recreio não passa de uma monotonia.


2º parecer, escrito pela aluna Pétala Martins e Motta:

No dia 18 de setembro deste ano, o professor/mediador Paulo de Tarso lançou aos alunos do primeiro ano do Ensino Médio, participantes da disciplina diversificada “Sexualidade: fatos e mitos”, um desafio: conceber um momento de partilha/socialização em relação à simbologia das caixas preta e branca (dinâmica que fora realizada na disciplina, em que os mesmos depositavam na caixa branca pontos favoráveis e na preta, desfavoráveis em relação à sexualidade), com o objetivo de extrapolar os muros do grupo-classe. Junto ao desafio, o professor expôs aos alunos uma série de quatro idéias para socialização, sendo que a útlima delas teve como autora a participante Roberta Cordeira, aluna do 1º I-1.

Após estudadas todas as propostas e decididas quais seriam “executadas”, o grupo-classe foi dividido em quatro subgrupos (divulgação, primeira dramatização, segunda dramatização e socialização) e, a partir daí, o trabalho começou a ser feito.

Nos dias 07 e 08/10, foi divulgado, para as turmas de oitava série, que, no recreio de quarta-feira (09/10), os alunos da diversificada “Sexualidade” apresentariam dramatizações sobre o tema E assim ocorreu: a primeira dramatização escolhida foi de autoria de Paulo de Tarso, quando a “sexualidade” era rodeada e crucificada pelos componentes do “egoísmo”, “religiosidade”, “inveja”, “tara” e “repressão”, todos personificados por alunos. A outra dinâmica foi de autoria da aluna Roberta; um entrevistador masculino e um feminino colhiam impressões dos alunos espectadores a partir da entrada de “personagens” no ambiente, simbolizando estereótipos.

A atividade satisfez ao objetivo do grupo, que, além de partilhar parte dos estudos da diversificada, pôde interagir com os alunos da oitava série, que tiveram em seu recreio uma atividade acadêmica e atraente (algo raro nos recreios da escola).

A Disciplina diversificada "Sexualidade, fatos e mitos" é oferecida para alunos dos 1os anos do Ensino Médio, como parte do Projeto “Disciplinas diversificadas”. Mais detalhes sobre esse trabalho, que tem sido desenvolvido desde 2000, podem ser conhecidos nos links abaixo.

Projeto Sexualidade

Sexualidade - Fatos e mitos

Sexualidade: Fatos e Mitos, na escola Aristóbulo Barbosa Leão

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