Na edição nº 7 de "Leonardo em Revista", elaborei um ensaio sobre avaliação institucional de escolas cuja principal contribuição foi a montagem de um panorama sobre a atuação do Da Vinci, em que ressaltava "pontos fortes" e "pontos a otimizar". À época, estava consciente de duas possibilidades: a de o texto repercutir perante o grupo de profissionais, gerando manutenções refletidas ou mudanças conscientes de postura; ou, em alternativa, a perspectiva de gerar reações contrárias - da acomodação à resistência.
Iniciado o ano letivo de 2003, pude verificar como a terminologia "escola em movimento" faz-se operante no Da Vinci. Diversas iniciativas vêm se configurando como eco às minhas reflexões. Faço alguns recortes, para não deixar que se percam no dinamismo do cotidiano escolar:
Uma cidade muito especial
Maior inter-ação entre os segmentos de Infantil a Ensino Médio; Maior investimento na publicação de materiais pedagógico-educativos, gerados por iniciativas bem-sucedidas no âmbito da Instituição.
No ano de 2000, o professor Lúcio Manga, que atua na disciplina de Português com os alunos de 2os anos de Ensino Médio, desenvolveu um projeto de terceira nota que consistiu na análise e elaboração de histórias infantis. Fez um recorte das tramas mais interessantes tecidas pelos alunos e submeteu-as à apreciação da Direção Pedagógica, que por sua vez repassou a grupos-classe do Ensino Fundamental I a incumbência de retratar essas histórias em imagens, visando à publicação de obras literárias concebidas e ilustradas exclusivamente por alunos da escola.
Em 2003, duas obras estão sendo lançadas como fruto desse processo: "Uma cidade muito especial" e "Doce e Saudável Amor". A 1ª tratando metaforicamente da dentição, bem como dos cuidados e riscos para mantê-la saudável. Em cada página, as imagens criadas por alunos do Ensino Fundamental I atribuem ainda mais significado à arte das palavras revigorada pelas alunas do Ensino Médio. A 2ª, uma releitura da história de Romeu e Julieta (afora o desfecho trágico), retratando o dilema de amor entre uma fruta e um doce, até desembocar numa doce mistura: o docinho de morango. Ao fundo de cada página, os desenhos dos alunos do Ensino Fundamental I ajudam a tecer significados e a pluralizar interpretações.
O trabalho não se encerra na publicação. Em 2003, ambas as obras constituirão material de pesquisa/trabalho para alunos do Ensino Fundamental I, em abordagens integradas de Ciências e Literatura. A necessidade de integração de segmentos, reclamada em meu ensaio, assume um contorno definido em torno de um projeto de literatura, o que deve ser visto como referência por outros profissionais da escola.
Necessidade de criação de conselhos (de pais, de alunos, de professores, de funcionários)
Há tempos, sentimos a necessidade de oxigenar as viagens acadêmicas para o Ensino Médio, segmento de grande potencial que não vem atuando nessa frente pedagógica, apesar de sua significação para a construção do conhecimento.
Após a publicação do ensaio sobre "Avaliação Institucional", foi montada uma comissão de professores e membros da equipe técnica da escola para propor uma sistemática inovadora de viagens acadêmicas: possibilidade de oferecer seis eventos ao mesmo tempo, cinco pelo interior do Espírito Santo e um para o Distrito Federal.
Começando a funcionar em outubro, a comissão esmerou-se e fez diversas viagens de reconhecimento e reuniões institucionais até o início do ano letivo de 2003, alternando-se por locais do Estado em diversos fins-de-semana e colhendo material teórico para formular os roteiros das viagens. Foi uma rica aprendizagem para os profissionais envolvidos, que passaram a ter um novo olhar sobre os locais visitados e conceberam roteiros e propostas pedagógicas vinculadas a cada um dos roteiros.
Para o primeiro dia de aula, a comissão montou um "banner" sobre as viagens acadêmicas do Da Vinci (tudo feito por criatividade do grupo, sem recorrer a agências especializadas em marketing), lançando questionamentos em torno dos locais a serem contemplados nos roteiros, a fim de testar o potencial de conhecimento dos alunos, e selecionando imagens significativas para ilustrar as possibilidades de cada um dos trajetos.
Na segunda semana de aula, houve uma "parada" para apresentação detalhada da proposta para os estudantes do Ensino Médio, com abordagens da Direção Pedagógica e Administrativa, bem como de cada um dos coordenadores das seis viagens oferecidas: Brasília, Interior Norte, Interior Sul, Litoral Norte, Litoral Sul e Três Santas. Para cada um dos roteiros, foi montado um PowerPoint e uma estratégia de apresentação, a fim de subsidiar as escolhas. Os alunos receberam no mesmo dia uma circular com detalhamento da proposta e dos roteiros, inclusive fixação de custos.
Apesar do belíssimo trabalho de planejamento e preparação, não haverá possibilidade de realizar tais viagens, porque a quantidade de alunos que devolveu a lista de preferências não correspondeu às expectativas da escola, que fixou o mínimo de 70% do total de alunos para viabilizar a empreitada:
Brasília - 24 adesões
Interior Norte - 33 adesões.
Interior Sul - 3 adesões
Litoral Norte - 5 adesões
Três Santas - 1 adesão
De qualquer forma, mesmo inviabilizada a atividade pela adesão aquém das expectativas, não há como deixar de ressaltar o pioneirismo do trabalho da comissão formada, que certamente se estenderá a outras frentes de atuação. A escola vem realizando levantamentos e sondagens para verificar os motivos da receptividade pouco significativa por parte do alunado.
Necessidade de estimular monitoria entre os alunos da escola
Demonstrando poder de resposta e capacidade de superar desafios, o professor João Duarte, responsável pela área de Física, mostrou-se pioneiro na sistematização de uma atividade de monitoria, no Da Vinci. Elaborou um projeto intitulado "Contato Físico", com justificativa e objetivos bem definidos, para que alunos do Ensino Médio atuem como monitores perante outros colegas interessados, em horários e espaços oportunizados pela escola.
A seleção foi feita através da aplicação de uma "prova de monitoria", contemplando conteúdos específicos de cada série, e reflexões de natureza pedagógico-educativa, para verificar o potencial dos alunos interessados em atuar como monitores não apenas sob o ponto de vista da Física, mas também sob as perspectivas de procedimentos e atitudes. Houve adesão de 31 alunos, selecionando-se 1 de cada grupo-classe, a partir da performance demonstrada no instrumento de verificação aplicado.
Como projeto-piloto, começa muito bem. Os pais foram comunicados da iniciativa via circular e, em todos os dias da semana, no horário vespertino e na sala da 1ª série "A", acontecerão os trabalhos de monitoria, tudo sob supervisionamento do professor-titular e da escola. Com isso, algumas iniciativas esparsas de interação de alunos, em grupos de estudos, ganha uma nova força e assume caráter institucional.
Descontinuidade em relação a projetos existentes
Em diversos encontros de formação de professores, vimos alertando nossos profissionais para a necessidade de não deixar "morrer" a filosofia das oficinas, componentes extracurriculares de grande interesse da escola pela possibilidade de contribuir com a formação mais ampla de nossos alunos, dando uma maior riqueza e flexibilidade aos currículos explícito e oculto.
Na semana de planejamento, alguns professores fizeram uma partilha de suas práticas em "oficinas opcionais", para estimular outros colegas a atuarem nessa frente de trabalho. A escola fixou um prazo para apresentação dos projetos, surgindo dezessete propostas de atuação, a saber:
01 - Comunicação e Produção de Textos (8ªs séries)
02 - Comunicação e Produção de Textos (1º e 2º anos do Ensino Médio)
03 - Inglês - "Reading workshop"
04- Imersão em Inglês (5ª e 6ª séries)
05- Imersão em Inglês (7ª e 8ª séries)
06 - Inglês - "Grammar Help"
07 - Língua e Cultura Francesa
08- Cultura Italiana
09 - "Um passeio pela história através de desenhos animados"
10 - Da natureza à criação: arranjos florais e Topiaria
11 - Interpretação e Criação Musical Pop
12 - Botânica
13 - Oficina 4 R
14 - Contadores de História
15 - Velas e Sabonetes
16 - Pesquisa Histórica
17 - Operações Matemáticas
Os idealizadores de cada proposta ofereceram um detalhamento das vivências pretendidas, o que foi submetido à apreciação dos alunos e familiares vai circular, com fixação de custos e apresentação dos cronogramas de trabalho. Além disso, montou-se uma exposição para que os alunos verificassem mais de perto a filosofia de cada oficina e pudessem interagir com os professores responsáveis.
De novo, a adesão dos alunos não se mostrou significativa, só tendo sido viabilizadas as oficinas "03", "04", "12", "15" e "17". A escola está realizando um levantamento com os alunos para verificar as motivações da baixa adesão perante uma proposta curricular tão diversificada e "antenada" com os novos rumos da Pedagogia. Com efeito, a oferta de cursos extracurriculares é uma tendência forte na área de educação, sendo que a diferença, no Da Vinci, está em oportunizar essas iniciativas na própria escola, e não em instituições especializadas.
Retornando ao meu artigo sobre Avaliação Institucional, posso declarar, com convicção, que ele não se limitou a mais uma teorização, sem eco na vida prática do Da Vinci. Verificar toda essa movimentação, com os avanços e dilemas que ela propicia para a análise da escola e de seu entorno, é salutar e estimulante. Mostra espírito de grupo e consciência, pressupondo e até estimulando novos desafios. O slogan adotado na capa daquela edição da revista - do estático ao cinético - deixa de ser apenas um jogo de belas palavras.