Encontro com Notáveis da Cena Capixaba

A PUC-SP, em parceria com a Folha de S. Paulo e o SESC-SP, mantém um programa educativo intitulado "Diálogos Impertinentes" cuja filosofia é promover debates entre intelectuais de diferentes campos do conhecimento para apresentar múltiplos "olhares" sobre temas diversificados.

Dada a consistência da iniciativa, o Centro Educacional Leonardo da Vinci decidiu, a partir de 2001, incorporá-la ao programa de formação de professores. A escola selecionava alguns temas e propunha aos interessados assistir aos debates e explanações para em seguida interpretá-los, com o que ficavam ampliadas as visões/concepções do grupo presencial.

Após uma instigante discussão em torno da edição "O simbólico e o diabólico," que trazia como debatedores a poetisa Adélia Prado e ex-frei Leonardo Boff, o professor Joelmo Costa propôs que a escola buscasse uma versão própria para a série "Diálogos Impertinentes", convidando intelectuais capixabas para discorrer sobre suas experiências de vida e contribuições culturais.
Em 2002, recebemos na Escola o professor Carlo Bússola, filósofo e profundo conhecedor da história e ideologia das religiões; o secretário do IHGES, Victor Biasutti, autodidata na produção cultural (escritor e ilustrador) e o "historiador" João Bonino Moreira, tesoureiro do IHGES e estudioso de guerras. Veja matéria a respeito

A cada oportunidade de contato, cada um desses personagens singulares da cultura capixaba fazia uma preleção e depois abria espaço para uma interlocução com os espectadores. Muitos ensaios de pensamento e estilo de viver foram conhecidos nessas oportunidades, gerando reflexões e internalização do conhecimento significativos para a auto-formação de professores, não apenas sob o ponto de vista profissional.

Em 2003, o projeto ganhou identidade própria e passou a intitular-se "Encontro com Notáveis". Foi ampliado o foco de interesse, mantendo-se o eixo temático da literatura, história e filosofia, mas incorporando diversos outros campos do conhecimento, como a política, a religião, a educação, a medicina, a urbanização, a imprensa, a economia, as artes cênicas, etc. A proposta é trazer, a cada mês, um "ícone" do espaço sociocultural capixaba para manter contatos pessoais e acadêmicos com integrantes da comunidade Da Vinci. O público-alvo também foi ampliado: em vez de apenas professores, abriu-se espaço para alunos voluntários, do Ensino Médio.

A iniciativa teve início oficial no dia 28/05/2003, contando com a participação de Cariê Lindenberg. Com sua vasta experiência no setor de comunicação e publicidade, o primeiro notável que nos visitou envolveu os espectadores com uma abordagem instigante sobre a atuação e os bastidores da Imprensa, em suas configurações diversas (mídia escrita, rádio e televisão).



Fazendo recortes em torno de sua história de vida em que se acumulam vivências diversas, como atividades no Setor Público; atuação na corretagem de imóveis; fundação de empresas de publicidade e comunicação (cujo marco foi a presidência do grupo empresarial A Gazeta por muitos anos); interesse pela música e literatura (com destaque para a produção cultural própria), Cariê Lindenberg traçou seu perfil de homem ético, não detentor de verdades absolutas, empreendedor e decisivo. Como traços mais marcantes de sua personalidade, o combate à prepotência; a internalização da humildade e o respeito ao direito do outro.


Eis uma síntese de alguns momentos significativos de sua abordagem no Da Vinci, ilustrada com algumas falas do "notável":

a) Apesar de integrar uma família com tradição política, uma das poucas decisões que trazia em seu íntimo era a de nunca querer ser político;

b) Nunca teve o hábito de planejar sua vida, adaptando-se às circunstâncias que esta lhe oferecia. Nunca havia se imaginado como publicitário, até ingressar no ramo e "tomar gosto pela coisa";
"Nunca planejei minha vida. Fui sendo levado pela necessidade."

c) De sua trajetória como músico, emerge o contato com ícones da Música Popular Brasileira, com destaque para Tom Jobim e Cláudia Telles, o que lhe proporcionou momentos inesquecíveis, sem falar na oportunidade de aprimorar suas habilidades musicais (como compositor, intérprete e violinista). Em 2002 lançou o CD "Esperando por você", com várias composições próprias;

d) Sempre exerceu poder de decisão e, quando passou a sentir dificuldade para o ato de decidir, optou em "passar o bastão" da presidência do grupo A Gazeta. Há cerca de três anos, encontra-se distanciado das atividades administrativas e empresariais, sendo analista e consultor, quando acionado;
"Sinto-me produtor, então, como escritor."

e) Nunca havia tido a pretensão de fundar uma emissora de TV, ingressando no ramo por acaso, a partir da indicação de um empresário cearense (Zé Pessoa);

Alunos/professores/funcionários/diretores: platéia diversificada que escolheu estar e foi atendida pelo "notável".


f) Mesmo não mantendo vínculo com boa parte da programação oferecida pela TV, que tende para programas de massa, não privilegiando a formação cultural e educativa, reconhece a necessidade de diversificar a programação, até como condição para viabilização econômica e atendimento a diversas expectativas dos consumidores;

g) Como presidente do grupo A Gazeta, nunca adentrou a publicidade agressiva para com o concorrente. É um aficcionado com a informação e nunca permitiu que o compromisso com a verdade tivesse interferências de seus contatos pessoais ou vínculos familiares/econômicos ou o que quer que fosse;
"Não abriria o jornal com notícia de crime, mesmo sabendo que daria Ibope."

h) Considera que o Espírito Santo vive um momento único de resgate da moralidade e da ética, bem como de projeção para o futuro. Deu destaque para a atuação de uma ONG hoje intitulada "Movimento Empresarial do Espírito Santo", cuja intenção é elaborar projetos e viabilizar iniciativas para diversos segmentos da economia capixaba;

i) Apesar dos avanços nos últimos anos, a sociedade capixaba ainda precisa desenvolver um olhar mais acurado para a questão cultural. Muitas iniciativas de A Gazeta, no sentido de promover a cultura local, esbarram na falta de repercussão perante o público-leitor e na promoção de eventos que, a despeito de sua consistência, não alcançam êxito de público e crítica;

j) A TV Gazeta vem encontrando espaços para inovar na programação local, mas , como se trata de afiliada do Sistema Globo de Televisão, existem poucos espaços para "janelas próprias", a exemplo do programa "Em movimento", transmitido nas tardes de sábado;
"Ou você entra na real e está na rede ou ... impossível ser independente."

k) Assim que se aposentou , decidiu que não tinha o perfil da improdutividade e começou a escrever sistematicamente e a dedicar-se com maior esmero à sua grande paixão, a música. Já publicou a coletânea de crônicas "Eu e a sorte"; já tem pronto um livro cujo foco principal é o resgate de histórias curiosas em torno de momentos marcantes da cena capixaba e está trabalhando no terceiro livro, em que exerce o direito de trabalhar um tema polêmico e uma abordagem que preferiu não detalhar, para não retirar o sabor da "surpresa literária". Na música, vem participando de encontros instigantes, a exemplo da gravação de um CD em que Cláudia Telles e Marcela Lobo interpretam composições suas.

Após atender às consultas de seus interlocutores, Cariê Lindenberg brindou-os com a apresentação da faixa "Dancing nights (Recomeçar)", do CD "Esperei por você", na qual a cantora Marcela Lobo interpreta uma composição de autoria dele. Foi um momento de envolvimento e sensibilização para todos os presentes.

Com sua simpatia e humildade, além da história pessoal marcada pelo veio cultural e atuação em campos profissionais distintos, Cariê Lindenberg abriu o projeto com "chave de ouro", legando à comunidade Da Vinci um momento único, regado a reflexões, devaneios (aliás, título de uma de suas composições - Devaneio) de pensamento e interdisciplinaridade. O público-alvo (com destaque para a consistência da abordagem dos alunos presentes) participou ativamente, fazendo a explanação transcorrer em múltiplas direções. Na pauta da programação, há perspectiva de receber como próximo convidado Rogério Medeiros, nome influente do jornalismo capixaba, com incursões pela política.

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