No segundo evento da série ENCONTRO COM NOTÁVEIS, ocasião em que são convidados cidadãos de destaque na sociedade capixaba em diferentes campos de atuação, fomos brindados com a presença do jornalista Rogério Medeiros, que nos ofereceu sua vivência dentro das áreas em que já atuou.
No primeiro encontro de 2003 recebemos Cariê Lindemberg, empresário das comunicações e músico por vocação, momentos registrados em nosso site que pode ser visto clicando-se em
"Encontro com notáveis da cena capixaba"
Têm-se feito presentes, nos encontros com notáveis, professores e alunos convidados - grupo seleto de interessados.
A aluna Paula Campos Perim, da 2ª Série Integral do Ensino Médio 2003 escreveu a matéria que segue.
"O Espírito Santo é a síntese do Brasil." Com essa fala iniciou-se a Segunda edição do "Encontro com Notáveis", no dia 04-06-03 que contou com a participação do ilustre jornalista, empresário e ex-político Rogério Medeiros. "Fã de carteirinha" do nosso estado, Rogério falou que esse representa todas as misturas raciais e os climas do Brasil.O notável revelou-nos que durante sua vida de repórter, procurou buscar a origem do nosso estado, a razão de ele ser como é. Escrevia, em todos os jornais nos quais trabalhava, que nunca poderia sair daqui. Percebeu, através de suas inúmeras pesquisas de campo, que existem poucos pesquisadores e historiadores em busca da história do Espírito Santo, fato que ele lamenta muito, principalmente por considerar que a história real, por ser somente contada pelo povo, vai se perdendo.
Passou quatorze anos trabalhando somente com índios, na época em que era do "Jornal do Brasil", e afirma que os índios capixabas eram os mais resistentes à "colonização". Também diz que os índios pensam somente no coletivo, o que lhes restringe a capacidade de resistir às nossas paranóias e problemas, já que eles não têm essa nossa síndrome pela individualidade. Sobre a história do ES, contou-nos que quem realmente ocupou o solo capixaba, colonizando o estado, foram os imigrantes, que vieram para cá para serem proprietários de terras. A respeito da imigração européia no estado, comentou que erramos ao falar que os alemães participaram desse processo, papel que coube aos pomeranos: "Não tem alemão no ES! Pomerano não é alemão." Seu interesse pelo estado, que vai além da história em si até as pessoas que ajudam com que seja formada, já o fez escrever um livro e uma série de reportagens. Segundo Rogério, atualmente o seu foco de pesquisa está voltado para os bandidos rurais capixabas e a violência no campo.
Admirador incondicional de Augusto Ruschi, com o qual teve a oportunidade de conviver intimamente, Rogério Medeiros afirma que esse foi o homem capixaba mais caluniado pelo próprio capixaba, enquanto se destacava internacionalmente, principalmente na Europa.Atendendo às expectativas do público-alvo, nosso notável mudou a direção da explanação para política e sua experiência no PT. Explicou sua saída do PT através do comportamento dos seus companheiros de partido na época, que segundo ele, começaram a se degladiar. Rogério é budista e aprendeu com o budismo a não conseguir conviver com o ódio. "Eu tenho um medo de ódio danado. Isso me fez afastar da vida pública."
Ao discorrer sobre política, o convidado destacou que ninguém quer ser político por vocação, bem como que a política acaba sendo "um falar mal do outro". Eis uma de suas declarações mais polêmicas: "A política é reservada às pessoas que não são decentes. O grosso de quem faz política não é decente. O Partido dos Trabalhadores, apesar de seus defeitos, é formado somente por pessoas honestas".
Mudando novamente o foco da conversa a pedidos, o notável disse-nos que é crítico do jornal A Gazeta, porque considera importante lançar outros olhares sobre o Espírito Santo. "Se não houver diferentes visões, daqui a 50/60 anos, a única fonte de pesquisa que teremos será o jornal A Gazeta. A história do Espírito Santo não pode ser apenas a história que um jornal faz."
Como parte dos comentários marcantes sobre sua pessoa e suas vontades, Rogério disse que não se considera um historiador, mas somente um jornalista: "Futuco as coisas como jornalista, apuro como jornalista e escrevo como jornalista." "Eu gosto do que faço. Jornalista não tem que viver de versões, o jornalista tem que ver. Eu gosto de ver." "Quero fotografar, quero escrever. Política eu não sei fazer não."
De uma forma despojada porém marcante, Rogério Medeiros, nosso segundo notável, compartilhou conosco a sua mais do que notável experiência de vida e nos mostrou claramente o porquê da sua presença nesse projeto, que se mostra, a cada edição, mais instigante. De nossa parte, ganhamos com a oportunidade de ouvir vozes discordantes em torno de temas polêmicos e cotidianos, colhendo farto material para construir nosso espírito crítico e argumentativo. Que venha o terceiro notável!
Paula Campos Perim - 2º I1