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Viagem Acadêmica a Ouro Preto: 8ª I - 2003
09/09/2003 · por Victor Humberto Salviato Biasutti

2003, mais um ano em que se consolida a Viagem Acadêmica programada para as 8as séries, com destino a Ouro Preto e Congonhas, nos dias 20, 21 e 22 de agosto. A adesão maciça de todos os grupos-classe, ao longo dos anos, faz da proposta uma configuração do currículo formal Da Vinci.
Nada se repete quando se trata de vivências pedagógico-educativas: Ouro Preto não é mais a mesma (o título de patrimônio mundial está em risco; uma construção localizada em ponto estratégico sofreu incêndio; caminhão bateu em chafariz por duas vezes, danificando o patrimônio ...). Congonhas não é mais a mesma, sendo visíveis alguns sinais de descaso com o patrimônio cultural, nada estando igual ao que foi visto no ano passado. Mas continuam intocáveis a arte, a arquitetura e a história, merecedoras do conhecimento por todos, de todo o mundo.

Mais enriquecedora ainda a programação, em que o antes, o durante e o depois da viagem também são sempre revigorados. Sempre mais apurado, o programa vai sendo aperfeiçoado, com os tempos alterados, as visitas otimizadas, o foco dos estudos atualizado, a incorporação de novas visitas, etc.; em suma, a dinâmica é a marca. Também os alunos-viajantes não são os mesmos e os olhares se transmutam.

Coordenada pela professora Maria Eliza, da Oficina de Artes do Da Vinci, a viagem tinha inicialmente o apelo quase único das artes. A cada ano vêm sendo incorporados novos conhecimentos e a diversidade vai acontecendo, com benefícios para os alunos, professores (nesta versão, três acompanhantes para 23 alunos) e agentes externos envolvidos. Em 2003 foi acrescentada visita à Alcan, com o monitoramento da professora Bianca, de Química. Sempre presente, também, o professor Baby, de Educação Física, atuando na formação procedimental e atitudinal dos alunos.

Após o trajeto via aérea até Belo Horizonte, a viagem iniciou-se com visita à Gruta Rei do Mato, Município de Sete Lagoas, depois de lanche na "Leite de Curral", com leite tirado na hora, fogão de lenha, tradicional recepção mineira.

Alunos observam os espeleotemas.
Alunos observam os espeleotemas.
Rei do Mato é gruta com belíssimas formações que foram apreciadas pelos alunos, inclusive contando com duas colunas de pequeno diâmetro e grande altura, segundo a literatura especializada e os guias, com similares apenas na caverna de Altamira, Espanha.

Em Congonhas, visita ao Adro dos Profetas e muita discussão sobre o estado das esculturas, em degradação por agentes da natureza e pela postura descuidada dos visitantes. Todos os anos os alunos Da Vinci distribuem panfletos de sua própria elaboração, ato através do qual pretendem conscientizar os visitantes para que entendam a importância da preservação da memória cultural de nosso país e de todo o planeta, dada a magnitude das obras de nossos artistas, particularmente
Os 12 profetas de Aleijadinho.
Os 12 profetas de Aleijadinho.
de Aleijadinho. No interior da Matriz uma informação do guia, verificada pelos alunos: as pinturas das paredes laterais da nave e da capela-mor, ornamentadas com painéis do pintor João Nepomuceno Correia e Castro entre 1778 e 1787, mostram um Jesus com traços delicados, chegando a parecer uma figura afeminada. Essa retratação vai ao encontro das figuras femininas pintadas por Michelangelo no teto da Capela Sistina, (reproduzida em um dos corredores do Da Vinci) cujos corpos são marcados por traços masculinos, dando a impressão de rostos de mulheres em corpos de homens. Uma negação ao maniqueísmo tão presente nas ciências e na sociedade?
Sobre Congonhas e a relação com a UNESCO pode ser visto em
http://whc.unesco.org/sites/334.htm

Museu das Reduções
Museu das Reduções
Na viagem de Congonhas a Ouro Preto, parada pedagógica para visita ao Museu das Reduções, onde pode ser vista, dentre tantas outras, réplica da Igreja dos Reis Magos, de Nova Almeida, único monumento de nosso estado lá retratado. O site http://www.em.ufop.br/op/mr_galer.htm contém informações sobre esse museu, valendo a pena uma visita detalhada, para verificar a consistência da idéia e o espírito empreendedor de seus idealizadores.

As Viagens Acadêmicas sempre incluem pernoites. Jantar, instantes de lazer e momentos educativos que antecedem o sono são ricas oportunidades para o aprimoramento das relações de convívio (tanto entre alunos, quanto entre alunos e acompanhantes). Há sempre a possibilidade do contato com alunos de outras escolas, por vezes com idades ou posturas diferentes, o que sempre gera expectativa e invariavelmente tem sido conduzido de modo positivo para todas as partes. Os instintos afloram, os meninos querem "proteger" as meninas... reflexos da adolescência, fase que requer cuidados, orientações, fixação de diretrizes, ...

No dia seguinte, apesar das reclamações quanto ao frio, é chegada a hora de iniciar as visitas, o que é feito de micro-ônibus ou vans, já que não é possível o tráfego de grandes ônibus pela cidade devido aos impactos para o patrimônio histórico, e que optamos por deixar de fazer os trajetos a pé para que o tempo (fator crucial nas viagens acadêmicas) pudesse ser mais bem aproveitado.

Igreja do Padre Faria
Igreja do Padre Faria
Há uma seqüência lógica que desenvolvemos para atender os estudos da arte, particularmente do estilo barroco. A Igreja do Padre Faria é a primeira a ser visitada e o guia, já nosso parceiro há muitos anos, em perfeita sintonia com o que pretendemos passar de informações para nossos alunos, "passeia" pelo estilo (ainda na primeira fase - nacional português), explorando cada detalhe das talhas, as diferenças entre um lado e outro (e os motivos), a maneira dos escravos trazerem ouro nos cabelos, etc. Simples em sua fachada externa, esconde belos trabalhos em seu interior.


Igreja de Santa Efigênia
Igreja de Santa Efigênia
Na seqüência, passou-se pela Igreja de Santa Efigênia (à esquerda) e Nossa Senhora da Conceição (à direita). Na última é visitado também o Museu do Aleijadinho. Ambas as construções se enquadram no estilo "joanino", contendo suas singularidades e permitindo aulas de campo produtivas, pelo contato entre abstrato e concreto.



Nossa Senhora da Conceição
Nossa Senhora da Conceição
Com a passagem pela Ponte dos Suspiros, é lembrada/revisitada a história de Marília de Dirceu, com seu fundo dramático/místico tão apreciado por adolescentes.







a Igreja de São Francisco de Assis
a Igreja de São Francisco de Assis
No alto é visitada a Igreja de São Francisco de Assis, obra-prima de Aleijadinho, já tendo como estilo predominante o rococó, final do barroco. Detalhes que passariam despercebidos numa viagem padronizada, são ressignificados e os alunos despertados para o olhar contemplativo e estético.



Casa de Câmara
Casa de Câmara
Após visita ao Museu de Mineralogia, os alunos desfrutaram da vista da Praça Tiradentes, tendo ao fundo a Casa de Câmara e Cadeia e no centro da praça (a foto mostra no lado esquerdo), a imagem de Tiradentes sobre monumento em sua homenagem.À direita, a construção que sofreu incêndio, e que nunca mais será restaurada. Comenta-se na cidade sobre a construção de um hotel.
Imóvel incendiado
Imóvel incendiado
Quantas inferências e possibilidades de leitura da realidade para alunos que são trabalhados sob a perspectiva crítica e argumentativa.






Alcan
Alcan
Incluída no roteiro de 2003 uma visita à Alcan, fábrica de alumínio. Lá os alunos foram informados sobre o processo, desde a extração até a expedição, passando por todas as fases, a maioria das quais visitadas pelos estudantes. Para a entrada na região de fábrica, todos os alunos e acompanhantes receberam e usaram os EPI´s necessários.



Alunos distribuem panfletos
Alunos distribuem panfletos
Mais um "despertar para um novo dia", iniciado com visita ao artesanato local, em uma loja especializada no artesanato da região e na praça da Igreja de São Francisco de Assis.





Artesanato local
Artesanato local
A consciência em torno do turismo empreendedor sendo observado na prática. Mais uma vez os alunos distribuíram os panfletos orientando para a preservação do patrimônio, marcando sua presença como acadêmicos, cidadãos.




Hotel
Hotel
A saída do hotel e a última visita em Ouro Preto: A Matriz de Nossa Senhora do Pilar, ricamente ornamentada em ouro, com a área do teto maior do que a do piso, e outras características que a fazem única.





Matriz de Nossa Senhora do Pilar
Matriz de Nossa Senhora do Pilar
Nela estão reunidas todas as fases do barroco mineiro.








Antes de partir para Belo Horizonte e tomar o vôo para Vitória, foi realizada visita à Mina da Passagem.



Dentro da mina
Dentro da mina
Foto da esquerda: os alunos na "vagonete" que os levou ao interior da terra. Equipamento inglês com motor a ar comprimido. Cada viagem pode levar em torno de 20 pessoas. Nas épocas "áureas" até 400 pessoas ali trabalhavam simultaneamente (e subterraneamente).À direita, continua a descida pelo complexo de túneis, hoje com visita limitada ao nível de inundação pelo lençol freático.



Guia da mina
Guia da mina
No interior da mina o guia mostra os veios que eram seguidos pelos mineiros. Explosões, bombeamento de água, trabalho pesado, acidentes, sacrifícios... À direita, utilizando a bateia o guia mostra como "garimpar" e, após cansativo trabalho, consegue mostrar o ouro em pó, antes abundante e agora em quantidades insignificantes.
Bateia
Bateia


A participação dos alunos, no geral, mostrou-se positiva tanto nas artes quanto na química. Detentores de conhecimentos prévios e tendo sido preparados intensivamente pela escola para atuarem durante a viagem, fizeram comentários e indagações pertinentes e coletaram anotações durante todo o percurso, que os subsidiarão na montagem dos Diários de Bordo individuais. O ideal é que as produções subseqüentes à viagem sejam socializadas de modo intenso no grupo-classe cuja viagem ora se relata, para que os alunos verifiquem diferentes formas de construção e fixação de aprendizagem e tirem proveito dos reflexos da atuação individual na formação coletiva.

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