Alunos transitam entre o aprender e o ensinar mediante interação com colegas de outros grupos-classe

A interação de estudantes é experiência pedagógica de êxito comprovado: tanto adolescentes quanto crianças apreciam de modo especial as aulas conduzidas pelos colegas; a apresentação de seminários ou estratégias de dramatização; as campanhas educativas; os momentos em que o professor, sem se descuidar da função que lhe cabe no sentido de mediar tais interações, sai de cena, deixando a cargo dos alunos o compromisso de socializar o conhecimento.



No Da Vinci, alguns professores e alunos vêm investindo na oportunização dessa troca, em especial na divulgação de trabalhos de terceira nota – atividades complementares ao tradicional eixo de provas e testes, equivalentes, cuja filosofia maior é permitir a conciliação de conteúdos conceituais e a valorização de habilidades e competências.



Os momentos ora socializados fazem parte do objetivo de extrapolar os muros da sala de aula, num primeiro momento restrigindo-se ao universo da escola, mas abrindo frentes para que os alunos valorizem suas elaborações e estejam mais atentos para a necessidade de fazer repercutir na sociedade as produções escolares. Com isso, busca-se desenvolver neles um espírito acadêmico-crítico mais apurado, papel que cabe às escolas resgatar, em especial no contexto da sociedade da informação, em que se tem a falsa impressão de que todo conhecimento já nasce defasado, relegando-se muitas vezes o diferencial de algumas abordagens.

O tema “variação lingüística” é abordado na disciplina de Português quer no Ensino Fundamental (7ª série), quer no Ensino Médio (1º ano). Após conhecer algumas produções de alunos do Ensino Médio, a professora-titular das 7as séries solicitou ao professor do 1º ano do Ensino Médio que selecionasse alguns trabalhos para serem socializados com cada uma das 7as. Passado o convite para os alunos, estes aceitaram de imediato o desafio, compreendendo a relevância dessa extrapolação.



Um trabalho significativo, reapresentado para outro segmento, foi uma dramatização feita por alunos do 1º I-2 em torno do impacto cronológico sobre a questão lingüística. Nesse trabalho, dividido em dois momentos, uma criança, um adolescente, um adulto e um representante da terceira idade apresentam suas percepções em torno da preparação/vivência de um dia de pescaria, revelando também diferenças na assimilação de tempos e na observação da realidade. Nos textos elaborados, os alunos preocuparam-se em trazer um tema pouco difundido em escolas urbanas e em fazer refletir palavras e expressões características de cada faixa etária, partilhando depois com seus colegas o método de pesquisa adotado para chegar a tais produções, que consistiu no aproveitamento do potencial familiar, com observação atenta da variação lingüística no contexto das famílias, já que alguns alunos têm parentes procedentes de regiões do interior, manifestando falares típicos que às vezes passam despercebidos de seus pares.



Outro trabalho apresentado foi a simulação de um programa de auditório em que se contrapunham as tribos de playboys e patricinhas, a fim de verificar o repertório lingüístico de cada um e a sensibilidade para interpretar falares típicos de outros grupos sociais. No decorrer do programa, a apresentadora lançava para os participantes perguntas sobre expressões características dos grupos lingüísticos escolhidos, o que provocou boa repercussão nos espectadores, pelo inusitado das abordagens e pela consistência da pesquisa feita previamente.

Esse tipo de atividade serve para formar/resgatar, nos alunos, o espírito de pesquisador, fazendo-os aproveitar o rico manancial de pesquisa que se tem na sociedade do conhecimento para desenvolver sua criatividade e levá-lo ao caminho da produção (em vez da reprodução, tão prejudicial à autoformação). Um dos aspectos mais ressaltados pelo professor, na preparação dos alunos que conduziriam a partilha, foi a necessidade de instrumentar os demais colegas com materiais de sistematização, pois apenas uma boa apresentação oral às vezes não garante uma aprendizagem ideal.

Foi interessante que, durante as apresentações, cada aluno da 7ª série recebeu os textos dramatizados e o roteiro do programa de auditório, o que lhes permitiria, num momento subseqüente, fixar a aprendizagem pela leitura e análise do material oferecido, no tempo pedagógico de cada um.

As 7as séries também realizaram uma dramatização no horário de recreio, tendo como público as outras séries do Ensino Fundamental II.



O texto representado, que atualiza a clássica história de Romeu e Julieta, é de autoria de alunos do 1º ano B – 2001. O enredo possibilita comparar a linguagem de época e a atual, tendo sido esse o conteúdo trabalhado pela professora na preparação do momento.



Outro momento significativo, nesse percurso, foi o contato de alunos do 1º ano do Ensino Médio com crianças da 4ª série do Ensino Fundamental I por conta de produções vinculadas à obra Emília no país da gramática, de Monteiro Lobato.



Como uma das possibilidades de trabalho, o professor havia proposto aos alunos do Ensino Médio que elaborassem um parecer pedagógico sobre a obra, sugerindo sua adoção como material didático em escolas brasileiras. Os caminhos escolhidos por dois grupos, para atender a essa proposta, levaram o professor a sentir necessidade de abordar o tema perante crianças da 4ª série, que têm em seu currículo de Literatura um espaço amplo para o estudo da obra de Monteiro Lobato, culminando na viagem acadêmica a Campos do Jordão/Taubaté e em produções culturais singulares. Mantidos os contatos entre os educadores que atuam nos dois segmentos, viabilizou-se outro momento marcante de interação.

Um dos grupos que se apresentou (do 1º I-1) montou uma dramatização a partir de Emília no país da gramática, criando cenário e texto apropriado para crianças de 4ª série, em que, a partir de uma abordagem lúdica e dramatizada, sistematizavam as contribuições lingüísticas relevantes do Pai da Literatura Infantil, trazendo à criança explicações fundamentadas sobre a Gramática e questionando alguns conceitos cristalizados, com pouca sustentação na prática. Na seqüência, discorreram sobre a relevância dessa obra como material didático, pela aprendizagem que pode propiciar, a partir do lúdico.



Outro grupo (do 1º I-2) criou um confronto histórico entre Emília e Dona Gramática, mostrando a posição inflexível das dueladoras no trato das questões da linguagem. No palco, as alunas que se apresentavam revezavam-se em movimentos leitores e cênicos, envolvendo os espectadores numa reflexão aprofundada sobre os pontos de vista, às vezes inconciliáveis, que transitam em torno da gramática.

Num segundo momento, os alunos da 4ª série receberam material de sistematização agregando conteúdos teóricos em torno da primeira dramatização (dispersos nas falas dos personagens) e também as falas de Emília e Dona Gramática no confronto histórico, as quais retratam com propriedade a tendência maniqueísta de tratar a gramática ora como algo absoluto, ora como algo descartável. Para dar voz aos alunos da 4ª série, o momento de socialização foi encerrado com uma aula interativa, a partir dos materiais oferecidos, e então se percebeu como as crianças, quando estimuladas a se posicionarem criticamente perante temas polêmicos, conseguem fazer contribuições importantes e leitura do contexto em que estão inseridas.



Alguns alunos alegaram que a abordagem de Lobato é muito interessante, mas já se mostra defasada perante os avanços da língua, ao que outros contra-argumentaram que não importa se as palavras usadas por Lobato já foram substituídas por outras, pois na verdade o que vale é a essência do pensamento do escritor, que se mostra sempre contemporâneo, com reflexos na realidade das escolas e da própria sociedade.

Para que os leitores possam conhecer a profundidade das abordagens dos alunos expositores, optamos por agregar, a esta matéria, alguns materiais por eles produzidos e oferecidos a colegas da própria escola como referencial pedagógico. A iniciativa de preparar uma aula, organizar materiais pedagógicos e fazer refletir o conhecimento em outros segmentos da escola é uma ótima preparação dos alunos para a vida, instigando-os aos espíritos de monitoria, tutoria e comprometimento, tão relevantes no contexto acadêmico e na trajetória profissional.

EDUCAÇÃO + DIVERSÃO = Aprendizado

AS DIFERENÇAS CRONOLÓGICAS

SIMULAÇÃO DE PROGRAMA DE AUDITÓRIO

SISTEMATIZAÇÃO DE CONHECIMENTOS A PARTIR DA OBRA EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA, DE MONTEIRO LOBATO

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