(Re) voltando às aulas – malabarismos de interesses particulares
Enquanto a população se anima diante de abordagens veiculadas na Mídia que não exigem leituras mais amplas, alguns fatos de importância se perdem. Referimo-nos, em especial, ao tema (próprio para o calendário) do custo de material escolar, em especial livros. Sim, livros! Porque, quando se trata de cadernos e materiais escolares, a constatação é que os mais simples - não menos eficientes - vão sumindo do mercado e os mais atraentes e caros estão cada vez mais presentes nas salas de aula.
Não quero restringir esta reflexão aos livros didáticos, já que algumas escolas, no intuito de reduzir custos para as famílias, fazem - há anos - feiras para revenda de usados, quando não os utilizam por reconhecerem, no material de circulação (revistas e jornais) ou em outros gêneros de livro, novas possibilidades de ação pedagógica.
Algumas reportagens sobre o assunto, apesar de não entrarem na raiz do problema, dão ibope para os que menos relacionam fatos e desejam montblanc a custo de bic, quando se trata de livros, mas não de mochilas, cadernos, estojos, canetinhas coloridas, adesivos e tantas outras “inovações” no material escolar.
Pais e filhos, em instituições com trabalho diferenciado, queixam-se em dupla direção: enquanto pedem cadeiras estofadas ou ar refrigerado nas salas de aula, querem ter gastos menores na compra de livros. Sequer conhecem ou buscam conhecer a diferença entre didáticos, paradidáticos, literários ou informativos.
Absolutamente, não dá para calar dificuldades/realidades: a situação econômica é séria, inclusive (quem sabe prioritariamente?) por falhas na educação. Entretanto, uma leitura/ação familiar que privilegie a mochila, o tênis, o fichário e as canetinhas, em detrimento do livro, deve exigir das escolas um trabalho de corpo-a-corpo com as famílias, para que não atendam aos filhos em sua ânsia consumista, sem maior reflexão conjunta com estes para o desejo de ter, não o de ser. Quando observamos as resistências e incompreensões para esse enfoque, questionamo-nos: temos mesmo que suar camisa pelo conhecimento de uma geração ou estamos em uma luta inglória?
O pior é constatar que, daqui a pouco, quando o resultado do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) der ao Brasil a pior colocação, mais uma vez, possivelmente nos veremos, enquanto instituição escolar, criticados como os que não cobram dos alunos e suas famílias recursos necessários à formação. E o livro, seja qual for, aparecerá de novo como o bode expiatório.