As Viagens Acadêmicas do da Vinci compõem-se efetivamente de três momentos: o antes, o durante e o após...
Em sala, discussões acerca dos temas.
Para as 3as séries de 2005, em maio findou-se a etapa "do antes" e "do durante": estudos de conteúdos específicos para História e Geografia; vivências em campo.
Outro “exercício” parte do projeto é a organização nos apartamentos e a distribuição do material.
Alunos de pouca idade, surgem conflitos, dúvidas: Com qual colega ficar? Como é o hotel? Sem papai e sem mamãe? Roupas, Diário de Bordo, remédios... Os estudantes trazem as indagações e são estimulados a apresentar as soluções.
Desde o início letivo os alunos da série têm realizado estudos da Geografia e História do espaço e população espírito-santense tendo como tema a “água”. Na abrangência do assunto selecionamos o rio Santa Maria como mote: sua nascente, locais que percorre, população que o circunda e que dele se utiliza e, preserva-o ou o polui.
Em maio, 68 alunos de 8/9 anos realizaram a viagem de reconhecimento da região – leito do Santa Maria e da imigração no Espírito Santo. Foram três dias (e duas noites) de estudo em campo, reconhecimento e identificação de fatos e cultura da realidade e formação do povo espírito-santense.
Na hora da partida os pais se despedem. Recomendações, carinhos... Pais, mães, avós, irmãos. Quem mais ansioso? Os pequenos iniciam sua vida própria.
A etapa que segue – comparação e análises entre a “teoria” e a “prática” – será socializada com os pais, que até então vêm incentivando o trabalho da escola, seja buscando fontes para trabalho com filhos, oferecendo-nos materiais informativos e permitindo a participação destes na Viagem Acadêmica.
A seguir a transcrição de e-mail enviado pela mãe Flavia Abaurre dias após a viagem.
Aos organizadores da Viagem Acadêmica às Três Santas,
Gostaria imensamente de agradecer pela oportunidade proporcionada ao Pedro com esta viagem acadêmica, pois tento criá-lo pra enfrentar o mundo, mas muitas vezes recuso a dar o primeiro passo, é sempre mais cômodo tê-lo por perto.
Acompanhamos atentamente todo o processo de preparação para a realização da excursão, os estudos realizados, o teatro, o estudo sobre o Canaã... Muito aprendemos sobre os pomeranos, sobre os rios, e sobre a cultura diferente destes imigrantes.
Quando recebi o material da viagem, fiquei ainda mais orgulhosa de saber que a escola se preocupou com os mínimos detalhes, desde o crachá, o roteiro, os telefones, notícias da hora.
Com estas providências, de repente a escola não imagina o quanto ajuda aos pais que enfrentam esta viagem dos filhos pela primeira vez. Vai uma dica: que tal fazer também reunião com os pais sobre a viagem?
A forma que encontrei de driblar a saudade do Pedro foi escrever um diário da nossa rotina sem ele e dos sentimentos que surgiram no período em que ele esteve fora, e mostrar para ele que nada, até mesmo a maior das saudades vai impedi-lo de IR, VER, APRENDER e QUERER SEMPRE MAIS.
Diário de "quem não estava" a bordo
10/05/05 - São 21:00 horas, e você já está dormindo, depois de ter arrumado as malas, conferido a lista das roupas que poderia levar, e separar o uniforme para o dia seguinte. Fico olhando você dormindo e imaginando como será o dia seguinte, como será na hora da partida, será que eu iria
agüentar? O coração já estava pequenininho....
11/05/05 - 6:00 horas da manhã, você pula da cama, e logo dá conta de se arrumar, tomar café, ir ao banheiro... sem aqueles atrasos costumeiros do dia-a-dia.
Apesar de ter apenas 6 dias de vida, a sua irmã também vai à sua despedida, ninguém vai ficar para trás, neste dia tão especial. Meu coração aperta mais ainda quando você mesmo junta a sua bagagem, faz questão de carregá-la sozinho, e sai pela porta de casa sem pensar duas
vezes. Naquele momento eu pensei: "Ele vai !!!"
Chegamos na escola, e todos queriam conhecer a sua irmã, por uns momentos, até tinha esquecido o motivo pelo qual estávamos reunidos naquela manhã.
Mas, a hora sempre chega, e o embarque havia começado, e em dois tempos, você subiu no ônibus e já estava mais pra lá do que pra cá... Ali, já não existia mais um coração inteiro, e sim pedacinhos de saudade. Não preciso nem falar das minhas lágrimas que insistiam em rolar. Que vida, hein?
Voltamos pra casa, e acompanhei atentamente todo o seu roteiro, e assim foi passando o dia...
Mas, quando a tarde chega, e as 18:00 horas insistem em marcar no relógio, parece até sentir que logo você vai chegar da escola, mas o silêncio impera na casa, sendo apenas interrompido pelo choro da sua irmã. Você não imagina a falta que faz, até nem acredito que as vezes peço para você falar mais baixo, não bater as portas, ir devagar..
Já passam das 22:00 hs, e você não ligou... Tento me consolar com as orientações dadas pela escola, de que as filas do orelhão ficam bem disputadas, mas que vocês não esquecem da gente. Caio no sono, e de repente, quase às 23:00 horas, toca o telefone, ligação a cobrar e do outro lado da linha, a sua voz. Que felicidade! Você fala apressado, não querendo perder um minuto da "bagunça". Tudo bem, me contendo em saber que você está bem e feliz. Bate aquela saudade e o coração vai dormir ainda menor do que já estava.
12/05/05 - Acordei mais conformada, embora todo o nosso ritual matutino tenha feito muita falta. Acho que até o nosso carro estranhou ter ficado na garagem mais tempo. Durante o dia, seus avós e tios ligaram para saber notícias suas e como havia sido a noite.
Acompanhei mais uma vez o seu roteiro, e fiquei esperando ansiosamente a noite chegar para ouvir a sua voz mais uma vez. Você me deixou ansiosa, pois ligou bem tarde e apressado, mas, dormi tranqüila, pois sabia que a sexta-feira já ia chegar, e trazer você de volta.
13/05/05 - Sexta-feira, 13. Nada de azar. Dia muito feliz!!! Inicio a minha contagem regressiva, acompanhando o seu roteiro de volta. O meu coração vai crescendo cada vez mais, e quando as 17:00 horas chegam, ligo para a escola e a recepção informa: eles já estão em Cariacica! Fomos todos bem apressados para a sua escola. Todos os pais na maior euforia, você nem pode imaginar.
Quando os ônibus aparecem na esquina, o meu coração fica ainda maior, e as lagrimas de felicidade começam a rolar. Que bom! Me perco no meio dos ônibus. Em qual você está?
Quando vejo, o seu pai já aparece com você. Fico um pouco assustada quando você fala que quer voltar para o hotel, não sabia aonde enfiar a minha cara no meio de todos aqueles pais, será que não pintou saudades????
Como é bom ter você de volta, como é bom ter o seu quarto todo bagunçado, como é bom ouvir a sua voz e te abraçar bem apertado.
Pois bem, agora você vai ler o meu diário, de quem não estava a bordo com você e entender que, o meu coração ficou pequenino apenas pela saudade, jamais de tristeza, pois crescer é assim mesmo, você vai criando asas e descobrindo o seu mundo, no qual ás vezes somos peças fundamentais e as vezes somos meros coadjuvantes. Sei que meu coração vai ficar pequeno em
várias situações, mas, sempre se encherá quando você voltar, desta vez foram três dias, na próxima serão cinco, depois 15 dias, 1 mês, 1 ano... Só tenho a dizer que VÁ, ganhe e conquiste o mundo, pois estaremos sempre de "olho no seu roteiro"e aguardando o seu "ônibus" chegar na esquina.
Você é 10!!! Sua mãe, Flávia
Neste 2005, nós, profissionais do Da Vinci, que assim como nossos alunos, aprendemos na troca do cotidiano, estivemos especialmente expectativos pela Viagem Acadêmica às Três Santas no que diz respeito à oferta de dramatização/explicação sobre Canaã, romance de Graça Aranha, para as comunidades de Santa Leopoldina e Santa Teresa: ora em praça pública – sem organização prévia, ora em escola - feito contato anteriormente.
E assim, no teatro visualizado, com a escadaria substituindo as poltronas, alunos, professores e habitantes de Santa Leopoldina assistiram o desenrolar da peça que tem Milkau e Maria Perutz como protagonistas, baseado em caso real no qual Maria é acusada de ter assassinato o próprio filho, deixado aos porcos.
Além da linha principal, a obra traz profundas discussões filosóficas entre Milkau e Lentz, dois imigrantes alemães.
E assim, meio a “orelhão”, motos e carros, todos conheceram ou tiveram sua curiosidade despertada para a história.
Do livro “CANAÔ, reeditado pela Ediouro em 2002, temos a seguinte parte do prefácio de Renato Pacheco, pesquisador da história do Espírito Santo, que exerceu o cargo de Juiz de Direito em Santa Leopoldina, uma das três cidades citadas no romance:
“... É Porto de Cachoeiro, hoje Santa Leopoldina, às margens do Rio Santa Maria, no Espírito Santo, o cenário em que Graça Aranha irá situar sua narrativa. Milkau e Lentz são dois imigrantes alemães que vão trabalhar nessa zona rural, travando, em suas conversas, acalorados debates envolvendo o futuro da colônia e do Brasil. Quando Milkau, num baile na roça, se encanta com Maria Perutz, a história ganha novo rumo. A desolação completa da personagem vai despertar-lhe a afeição e o desfecho carregado de significado simbólico. Decaída, grávida, alojada numa pensão onde troca casa e comida por seu trabalho, a desgraça de Maria torna-se ainda maior, ao ser acusada, processada e presa por infanticídio. Tomado de compaixão Milkau empreende com ela uma fuga para as montanhas, em busca de uma nova vida, baseada no amor. Graça Aranha inspirou-se em história real – chamava-se Guilhermina Lübke a colona acusada de assassinato – que acompanhou nos meses em que viveu, como juiz municipal, em 1890, na região retratada. Tinha pouco mais de 20 anos então, mas só foi editar o romance 11 anos depois, na França, lançando-o no Brasil, pela Editora Garnier, em 1902.”
As apresentações do romance que foram feitas em Santa Leopoldina e Santa Teresa são resultado de trabalho realizado em 2003, com alunos do Ensino Médio do Da Vinci, em aulas de Português e Geografia. O produto gerou livros literários, editados artesanalmente pelo Da Vinci e que estão sendo fontes de interesse e recurso para valorização dos fatos da “terra” pelos alunos das 3as séries.
O trabalho com livros escritos pelos alunos do Ensino Médio, fonte de estudos para alunos da 3as séries, pretende:
* integrar gerações;
* integrar instituições;
* integrar comunidades.
A viagem continuou acontecendo com visitas em Santa Leopoldina, Santa Teresa e Santa Maria de Jetibá.
Na volta, cada aluno recebeu um CD com cerca de 70 fotos das diversas situações vividas na Viagem Acadêmica.
Costumes, cultura, arquitetura, idioma, economia, recursos, paisagens, turismo, patrimônio histórico, museus etc. foram alguns dos temas/locais visitados.
Outras notícias sobre Viagem Acadêmica às Três Santas em anos anteriores poderão ser visitadas nos links a seguir.
Viagem Acadêmica das terceiras séries em 2004.
Viagem Acadêmica das terceiras séries em 2002.
Viagem Acadêmica do 1º ano Integral de 2002.
Outras notícias do Da Vinci sobre o romance Canaã:
Canaã: romance e realidade.
Volume editado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais cita trabalho realizado no Da Vinci.
A seguir, outras fotos da viagem.
Santa Leopoldina - Igreja Católica
Apresentação de concertina
Santa Teresa - Pessanha Póvoa - Canaã
Museu da Imigração Pomerana
Propriedade dos Pomeranos