Viagem Acadêmica às Três Santas – 2006
Mais uma vez se consolida a aprendizagem significativa para as 3as Séries do Ensino Fundamental através da Viagem Acadêmica às Três Santas, municípios do nosso estado, Espírito Santo. Em três dias de Viagem, dois pernoites, enorme gama de possibilidades são ofertadas aos alunos para que construam conhecimentos in loco (além dos livros) e enriqueçam seu repertório cultural e sua capacidade de socialização.
Incluindo Vitória, seis municípios são percorridos, quando se observam as divisas, as características naturais, as tendências produtivas, a situação econômica, a consciência comunitária, a memória cultural, a visão proativa etc.
A primeira das Três Santas é Santa Leopoldina, a “Filha do Sol e das Águas”, como chamada por Graça Aranha em seu romance Canaã -
CLIQUE PARA CANAÃ.
Nessa cidade, após caminhada de alguns quilômetros os alunos visitam a Cachoeira de Moxafongo e a empresa Gaia, beneficiadora e exportadoras de raízes (cará, gengibre, inhame, batata) e limão. Em sua unidade de Linhares a Gaia prepara e exporta mamão. Cumprindo as exigências internacionais essa empresa absorve mão-de-obra local, movimenta a agricultura da região e colabora com a situação econômica da população/cidade/município.
O Museu do Colono, parte do casario tombado pelo Conselho Estadual de Cultura, também é visitado em seus dois andares que expõem móveis, utensílios, peças de montaria, fotos, etc., principalmente da família Holzmeister, proprietária do imóvel e parte da história da localidade.
Após o almoço no restaurante Serraninhos, que oferece comida caseira sobre um fogão à lenha, os alunos percorrem a cidade observando as construções e seus estilos; atravessam a ponte sobre o Rio Santa Maria da Vitória, no local onde antigamente atracavam as canoas que faziam o percurso Santa Leopoldina a Vitória levando café e trazendo as necessidades dos habitantes da época (móveis, carros, pianos, víveres, etc.); ouvem explicações dos professores e partilham aprendizagens e dúvidas sobre o que vão observando no trabalho de campo.
Na pracinha, do outro lado da cidade, os alunos Da Vinci representaram, em duas peças, o tema do Romance Canaã, de Graça Aranha.
As peças, resultado de trabalhos anteriores de alunos do Ensino Médio, mostram de formas diversas a história de dois imigrantes alemães, Milkau e Lentz, que filosofam sobre assuntos que incluem desde Santa Leopoldina até a terra de suas procedências, e a história de Maria Perutz, personagem do romance que sofre as dificuldades de ser mulher, imigrante, sozinha, ainda tendo que conceber uma criança que morre ao nascer (por morte natural, dificuldades no parto ou atacada por porcos).
Em uma das peças, os autores utilizam-se de metáforas para transmitir as mesmas idéias da obra original e retratar o enredo do Canaã através de cores, de forma a impactar a compreensão do público infantil.
A outra mantém a linha do romance, adaptada para as idades envolvidas.
Os alunos interpretam, ao vivo, motivos literários, contribuindo para uma maior divulgação da literatura local e para o desenvolvimento de habilidades e competências, incluindo poder de comunicação, expressão corporal e empatia com o público.
Após a representação viaja-se para Santa Teresa e, no caminho, observa-se a represa da Usina Rio Bonito e o lago que forma durante dezenas de quilômetros.
Quantidade de água, chuvas, assoreamento, matas ciliares, geração de energia elétrica são temas já abordados em sala de aula e que agora retornam com foco no real. A abordagem estanque dos livros didáticos ou dos compêndios escolares passa a fazer mais sentido para os pequenos viajantes. Os professores fazem analogias entre a “Bacia Hidrográfica Da Vinci” -
CLIQUE PARA BACIA HIDROGRÁFICA DA VINCI. e uma bacia em dimensões reais, estimulando os alunos a fazer comparações e observações que os auxiliam na internalização de conceitos aplicáveis ao cotidiano, e não apenas memorizados.
Represa da Usina Rio Bonito
Em Santa Teresa, hospedados no Hotel Solar dos Colibris, depois do jantar que oferece agnolini e outras massas típicas da culinária italiana, o Coral do Circolo Trentino faz apresentação para os alunos entoando canções trazidas da terra natal, já com adaptações de dialeto. O Coral já conta com cantores de gerações diversas, avós, filhos e netos, firmando-se como tradição em Santa Teresa. Interagindo com o grupo cultural, nossos alunos participam em algumas canções, resultando em momentos de descontração e alegria.
Em seguida, 21h, são relembradas as “peripécias” do dia, os conhecimentos adquiridos, os locais visitados, etc., tudo registrado no Diário de Bordo.
No dia seguinte, o saborear do café caprichosamente preparado e o começo de um novo dia de explorações.
Coral do Circolo Trentino
A primeira visita do 2º dia é no Vale do Canaã, onde está localizado um Mirante com o monumento em Homenagem a Graça Aranha e ao seu romance, por ter completado 100 anos de publicação.
A beleza do vale, a neblina, vegetação, montanhas... tudo é observado e valorizado.
A conservação, a depredação, a valorização por uns e a desconsideração por outros... Diálogos e aula interativa. A formação de cidadãos e leitores críticos... A leitura de fragmentos da obra, inscritos na pedra... O olhar contemplativo sobre um monumento natural transformado em material estético... A fotografia digital aliada aos flashes da memória.
No auditório do Ginásio Santa Catarina, os alunos Da Vinci assistem danças preparadas em homenagem ao aniversário da Instituição, carinhosamente reprisadas para nossos estudantes, que retribuem apresentando uma das versões de Canaã.
No ano passado nossos alunos mantiveram contatos com grupos da mesma faixa etária, no Grupo Escolar Pessanha Povoa. A intenção é socializar as produções sobre Canaã, de modo que todos possam conhecer um pouco mais sobre a história de sua terra, levada ao mundo através do romance que foi considerado o primeiro best-seller brasileiro.
Na visita ao Museu de Biologia Professor Mello Leitão, legado de Augusto Ruschi para a humanidade (transcendeu os limites de Santa Teresa e do Brasil), a observação de espécimes vivos, animais taxidermizados, variedade de vegetação e os beija-flores – colibris -, motivo maior de estudos e produções do cientista.
Uma triste constatação: a cada ano em que visitamos o museu encontramos alguma coisa “a menos”.
Conhecedores dos tempos de Ruschi, lembramos os alunos-viajantes de que para entrar no “pavilhão”, onde estão os animais embalsamados (empalhados), era necessário calçar pantufas para conservar o piso de madeira corrida; havia grande quantidade de animais vivos (onças, lobos, veados, pássaros enormes, etc., e até pingüim) além da “fartura” de colibris, que Ruschi pegava com a mão ou até com os lábios. É doloroso conviver com uma depredação tão visível, em tão curto espaço de tempo, e então aproveitamos o momento para conscientizar os alunos em formação para a importância do olhar ecológico e da consciência cidadã.
Aliás, uma foto de Ruschi “sendo tocado nos lábios por um beija-flor” motivou a escultura do artista Penithência, instalada no Parque Pedra da Cebola, em Vitória, e réplicas da mesma são ofertadas a personalidades pela Prefeitura de Santa Teresa ou pelo Governo do Estado.
Maria Helena, Diretora do Da Vinci, já foi homenageada, tendo recebido uma dessas esculturas e um quadro com as seguintes informações:
Beijos que o tempo não esquecerá
“Beijos que o tempo não esquecerá: Augusto Ruschi beijado por um beija-flor, fotografado por Ricardo Azoury.Foto publicada na revista Manchete nº 1445 em 1979.”Obs.: três fontes e três anos diferentes: 1977, 1979 e 1997. Não sabemos qual é a correta.
Continuando as informações do quadro:
“Nos anos 70 o mundo testemunhou alguns conhecimentos que marcaram a década.
Dentre estes, a Revista “Manchete” da Editora Bloch, elegeu quatro.
E na sua edição, 1445 de 29/12/1979, veiculou, em fotografias, os “Beijos que o tempo não esquecerá”.
São eles:
1- O Papa João Paulo II, beijando o solo da América, gesto que passou a ser o símbolo de suas viagens.
2- Leonid Brejeniev, maior autoridade Soviética, beijando o Presidente da República Democrática da Alemanha, em agradecimento da retirada das tropas comunistas do território Alemão.
3- O ator norte americano Ryan O’Neal segurando no colo sua filha Tatum - que se iniciava na carreira de atriz.
4- O nosso Ruschi, recebendo beijo de um colibri – que é o símbolo do Estado do Espírito Santo e marca registrada do Município de Santa Teresa.”
Uma das enchentes inutilizou a coleção de troncos de árvores, todos identificados, além de outros danos causados ao Museu.
Nesta viagem de 2006 já não estavam expostas no “Pavilhão” os esqueletos vistos até o ano passado dentro das vitrines de vidro.
E, para nossa grande decepção, raros eram os beija-flores, mesmo nas garrafas de água com açúcar penduradas na residência de Ruschi, onde eram tão abundantes que chegávamos a nos abaixar com o falso receio de que nos atingiriam. E o som das asas? Pareciam aviões em rasantes... É triste observar, na prática, os efeitos da devastação natural.
Alunas no Ginásio Santa Catarina
Pavilhão - Museu Mello Leitão
Almoço no Mazzolin di Fiore, da D. Adilis, a comida italiana, sempre acompanhada da “polenta frita”.
Uma olhada na pracinha, antigamente chamada Domingos Martins e atualmente chamada Augusto Ruschi, caminhada pela cidade, visita à igreja da cidade. Ladeando a Matriz, construções centenárias, com características construtivas trazidas pelos italianos, muitos com os nomes registrados nos painéis em relevo na parede lateral da Matriz, no local onde está o Monumento aos Imigrantes. Os alunos do Da Vinci conseguiram identificar nomes de suas famílias, emocionando-se com a visão real de ascendência incorporada ao seu cotidiano.
Casa tipicamente italiana
Os irmãos Virgílio e Antônio Lambert, formados em escolas italianas e vindos para Santa Teresa na segunda metade do ano de 1800, construíram a residência e a capela que são símbolos da cidade. A residência data de 1875 e a capela de 1899. Em época de pouca disponibilidade de recursos, a casa foi construída com madeira e barro misturado com óleo de baleia. Mais de 100 anos de chuva e de sol não destruíram as paredes supostamente frágeis da residência.
Mas a estrutura está comprometida e nenhuma providência prática é tomada para evitar sua destruição e a conseqüente e irreparável perda da memória cultural expressa por essa construção.
Os alunos do Da Vinci, em trabalho conjunto com os alunos da UNIVIX, entregaram ao Conselho Estadual de Cultura projeto de restauração, devidamente aprovado por aquele órgão.
Muitas tentativas foram empreendidas para que empresas se cotizassem e custeassem a restauração, sem sucesso.
Uma cópia do projeto foi entregue à Prefeitura e outra à Câmara dos Vereadores da cidade, mas nenhuma providência foi adotada.
Preservar a memória cultural não é importante? Não significa votos na eleição?
Qual será a causa do desinteresse?
Como nossos filhos se lembrarão de nós amanhã, se não preservamos o que somos hoje?
Reflexões que levamos aos nossos alunos, quem sabe para formar adultos menos passivos, mais inquietos e mais cobradores de resultados em relação aos administradores dos bens públicos e à própria sociedade local, que não cultiva sua memória?
À noite, recebemos o Sr. Meneghini para uma apresentação de concertina, instrumento de origem alemã, trazida e perenizada pelos italianos e até hoje utilizadas nos “forrós”.
Sempre nos oferecendo o apoio tático o Sr. Zurlo – Antonio Ângelo Zurlo, estava presente com sua simpatia e presteza. “Seu Zurlo” já faz parte do Da Vinci. Contextualizando os alunos, contando histórias, atuando como um professor numa informalidade que supera muitas aprendizagens formais.
Capela de N. S. da Conceição
Sr. Meneghini e a concertina
No dia seguinte viajamos para Santa Maria de Jetibá, “a cidade mais pomerana do estado”.
Vistamos a nova Igreja Católica, a Igreja da Confissão Luterana e o Cemitério.
Observações à parte de religiões, destacadas semelhanças e diferenças, características de cada construção, etc.
No Cemitério, os nomes de origem alemã, a observação de bastante pessoas mortas prematuramente, as diferenças na ornamentação das covas, etc.
Próximo dali o Museu da Imigração Pomerana, que reúne documentos, fotografias, ferramentas, utensílios, instrumental médico, vestimentas, livros..., formando acervo importante para que a história do povo seja preservada. Ainda hoje o dialeto pomerano (sem escrita e sem leitura) é utilizado correntemente na região, de grande produção agrícola, aves e ovos.
Almoço no restaurante Majeski, que a cada ano tem melhorado suas instalações, estando atualmente com cores alegres, mesa e cadeiras forradas, pessoal uniformizado e boa comida.
Neste 2006 notamos a reforma dos banheiros. Quem sabe como impacto do prestígio concedido pelo Da Vinci na escolha desse estabelecimento como nosso parceiro de trabalho, incentivando-o a atrair outros clientes pela via da qualidade?
Como atividade finalizadora da viagem acadêmica, os estudantes passaram algumas horas em propriedade da família Marquardt, que vive do que produz a terra, mantendo a criação (porcos e galinhas) suficiente para seu sustento.
Casal e três filhos conversam em pomerano, mantendo o pai e a mãe um forte sotaque do qual, provavelmente, nunca estarão totalmente livres.
Plantam café, milho, chuchu, aipim, etc., convivendo com as dificuldades da agricultura: tempos de excessivo sol, excessiva chuva, falta de um ou de outro, baixa nos preços, custo do transporte, etc.
Mas estão conseguindo progredir em suas vidas, os filhos estudando, a casa sendo sempre melhorada, e a alegria sempre presente.
Néia sempre espera nossa turma com deliciosos pães feitos com os produtos da propriedade (banana, aipim...), doces caseiros, sucos naturais.
O marido, Nair, sempre com histórias para contar, ensinamentos sobre a terra, o cultivo e os resultados. Já esteve na Alemanha em trabalho na indústria, ao qual não se adaptou e voltou para o Brasil.
Como “presente” os filhos mais velhos, Gilberto e Marcelo, cultivam parte de cafezal cuja renda é deles.
O menor, Wandeley, ainda fala somente em pomerano, usando a mãe como intérprete.
Há sempre uma boa troca entre nossos alunos e a família Marquardt. Uma aprendizagem que inclui variação lingüística, afetividade e observação de estilos de vida.
Família Marquardt - Pomeranos
A viagem ensejou a apresentação aos pais, em agosto, quando os alunos explicaram passo a passo as suas experiências, reapresentaram as duas peças, falaram, à sua maneira, sobre o que perceberam, o que aprenderam...
A participação dos pais nesse fechamento de atividade é importante para a compreensão da idéia Viagem Acadêmica da Vinci. E assim fecha-se ou abre-se um ciclo, demonstrando como se constrói uma escola de perspectiva cultural, a partir da observação em campo, das aulas dialogadas e do compromisso com a socialização.
Maria, feiticeira, porcos... criança
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Viagem Acadêmica às Três Santas 2005... O trabalho continua..
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Viagem Acadêmica às Três Santas - Terceiras Séries de 2005.
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