As viagens acadêmicas do Da Vinci são projetos consolidados, os quais estão sempre sujeitos à filosofia da manutenção/inovação. O percurso feito a Campos do Jordão/Taubaté é uma mostra viva desse ideário, tendo passado por sua décima versão com um sabor especial que alia espaços já conquistados e inovações.
A perspectiva cultural da viagem acadêmica mais uma vez foi assegurada com afinco, o que se pode resgatar com as memórias da realização de gincanas culturais nos trajetos a ônibus, chegando à criação do lema “viajar é culturalizar-se”; com os alunos incorporando personagens de Lobato em apresentações teatrais “ao vivo”, inclusive com cessão do auditório do Sítio do Pica-pau Amarelo para que apresentassem suas performances; com o registro de impressões nos Diários de Bordo durante as noites em hotel; com o repertório de conhecimentos demonstrado pelos alunos-viajantes nas visitas a museus e ambientes educativos, merecendo reconhecimento por parte de pessoas e instituições com quem mantiveram contato; com o contato humano mantido nos Figureiros de Taubaté em que, antes de passarem ao consumo de mercadorias, tiveram acesso a uma abordagem educativa sobre a história do artesanato local, conhecendo in loco produções de pessoas portadoras de necessidades especial e o programa de criação/manutenção dessa iniciativa.
No Sítio: personagens com personagens...
As aprendizagens sociais e humanas e os momentos de entretenimento também devem ter seu lugar no cenário educativo. As reflexões com os alunos sobre seus comportamentos em hotéis, restaurantes e museus; as opções diversificadas de lazer como brincadeiras com segurança, trilha ecológica, passeios pelo centro de Campos de Jordão sem a tutela de um adulto, oportunidade de experimentar sabores exóticos e de adquirir presentes para pessoas do círculo de relações; as preparações prévias para ingresso em museus e as orientações de que não se deve tocar em esculturas ou se adotar um tom de voz elevado para espaços que pedem silêncio e olhar observador – tudo compõe um mosaico de aprendizagens significativas, com projeção da escola para a vida.
Um aspecto muito discutido com os alunos durante a viagem é a qualidade dos estabelecimentos que escolhemos para que freqüentassem. Hotéis e restaurantes de primeira categoria, com equipes de trabalho bem preparadas, instigando os alunos-viajantes a um convívio saudável com prestadores de serviço e pessoas em trânsito pelos locais visitados.
Representação no Horto Florestal.
O mais interessante de todas essas conquistas, que ano a ano se repetem com uma nova feição, é verificar como se renovam com a mudança dos grupos de alunos em viagem; com a descoberta de alguns aspectos que em anos anteriores haviam passado despercebidos; com a integração do grupo de acompanhantes e a afetividade que se desenvolve entre diferentes grupos na medida em que as etapas da viagem se consolidam. O clima de fantasia que domina a viagem de trem de Pindamonhangaba até o Reino das Águas Claras integra adultos e crianças em busca de personagens literários e míticos que povoam o imaginário do ser humano, em diferentes dimensões.
Pindamonhangaba. Bosque da Princesa.
Também o aprender a lidar com o imprevisto faz parte desse projeto educativo. Em Pindamonhangaba, local a que chegamos adiantados em função da proximidade com o hotel onde nos instaláramos, tínhamos um tempo livre e, em vez de perdê-lo na ociosidade, incluímos uma visita ao “Bosque da Princesa”, um parque às margens do Rio Paraíba do Sul em que um grupo de alunos declamou um poema em homenagem ao célebre rio, estudado previamente na escola na preparação para a viagem, refletindo com os demais sobre os impactos da industrialização sobre o meio ambiente.
Pindamonhangaba ao Reino. Trabalhos no trem.
Trem. Chegada ao Reino das Águas Claras.
No que diz respeito às inovações, o ano de 2006 marcou-se por dois momentos culturais marcantes. Um deles foi a realização de declamações coletivas, uma vez no percurso de trem de Pindamonhangaba ao Reino das Águas Claras com o veículo “parado sobre os trilhos” no pontilhão sobre o Rio Paraíba do Sul e outra no Posto Petrobrás, na viagem de retorno, com um grupo de alunos-viajantes homenageando Campos do Jordão com um recital do hino feito em homenagem à Suíça Brasileira. Outro consistiu na realização de atividades literárias noturnas, com o estudo coletivo da obra “Quando o carteiro chegou ... cartões-postais de Monteiro Lobato a Purezinha”, organizada por Marisa Lajolo e editada pela Moderna em 2006, ampliando o repertório cultural dos nossos alunos e incentivando-os a resgatar a produção de cartões postais e correspondências de natureza afetiva. O desvendamento dos textos de apresentação e a partilha de impressões sobre os cartões postais que compõem a coletânea revelaram boa capacidade interpretativa dos alunos-viajantes e interesse pelo objeto de pesquisa. Mesmo exaustos pelas atividades intensivas durante cada dia da viagem, os alunos mantiveram-se envolvidos e antenados até a finalização dos trabalhos propiciados.
Representando na parada para o lanche.
A fim de partilhar com as famílias a consistência do trabalho pedagógico incorporado à viagem, bem como as vivências significativas e projetos incorporados à atividade, realizaremos, ao final de novembro, uma apresentaçãocultujral, a ser conduzida pelos alunos-viajantes. Tudo no intuito de conseguir uma maior parceria das famílias na avaliação/reflexão de nossas práticas, visando ao seu constante aprimoramento.
O trabalho da viagem não se esgota nela mesma. De retorno à escola, os alunos estão envolvidos com a produção de cartões postais para resgatar momentos vivenciados por eles e compartilhar toda a riqueza dessa experiência com pessoas de seus círculos de relações – cada um tendo o livre-arbítrio de escolher o foco que mais os envolveu, seja ele cultural, afetivo, relacional ou acadêmico. Conhecendo a poeticidade, a irreverência e a multiplicidade dos cartões postais de Monteiro Lobato, vêm se mostrando inspirados para criar seus próprios cartões ou para lidar com objetos já constituídos de uma maneira instigante. Mais uma vez, a viagem acadêmica a Campos do Jordão/Taubaté desembocará numa coletânea marcada por uma pluralidade de vozes e aprendizagens que demonstram que, em educação, a rotina pode sempre ter um quê de imprevisto.