O Concurso de Redação foi a Tarefa Individualizada da Gincana Cultural 2008. Com o tema, Identidade Capixaba, os alunos escolheram um dos três gêneros textuais propostos pela comissão organizadora para elaboração do texto que são: Poema, Crônica ou Artigo de Opinião. Em cada categoria, três trabalhos foram selecionados em 1º, 2º e 3º lugares. (Para saber mais detalhes dessa atividade leia a notícia Gincana Cultural – Concurso de Redação).
Abaixo os trabalhos premiados:
Gênero: Poema
1º lugar: OLHOS, BOCAS E BRAÇOS
(ELIZA MIRANDA PEREIRA – 1º I-1)
Olhos belos, deslumbrados com o horizonte,
Olhos cegos que desconhecem a própria terra,
Olhos indiferentes ao chão que pisam,
Olhos que carregam o peso de várias vitórias,
Olhos negros e coloridos,
Olhos que, juntos, são espelho de uma só alma!
Bocas por muito tempo caladas,
Bocas que trouxeram segredos de terras pisadas,
Bocas que hoje fazem sucesso lá fora,
Bocas que não sabem de nossas histórias,
Bocas grandes, pequenas, finas e carnudas,
Bocas de vários povos, mas de uma só luta!
Braços de negros escravizados,
Braços de índios dizimados,
Braços de europeus exportados,
Braços diferentes na construção de um só estado!
Olhos, bocas e braços fundidos,
Diferenças unidas,
Esperanças esquecidas
De uma estrela pra sempre prometida.
2º lugar: HISTÓRIA DE AMOR
(CARLA CORADINI DE MATOS SIQUEIRA – 1º A)
Mosaico de luta, de esperança, de dor,
Feito de sangue, de suor
De nossos índios, negros, europeus, seja lá quem for:
Uma terra ainda assim criada com amor.
Valorizemos nossos bens reais:
Pratos típicos, línguas e artistas “globais”;
Aqui o mundo inteiro se misturou,
Um lugar de identidade complexa nos transformou.
Falta de identidade? É falsa tal alegação!
Somos um povo, uma pequena nação
Com muitos mistérios, muita diversificação,
Mais de um costume, mais de uma religião.
Espírito Santo de tão formosa história,
Por que de lutas e vitórias, deixa-se perder a memória?
Determine-se a preservá-la!
Um lugar de passado tão profundo ...
Um estado, um pequeno espelho do mundo!
3º lugar: DIVERSIDADE CAPIXABA
(FILIPE ZOUAIN DA ROCHA SANTOS – 1º B)
Em um estado de tanta diversidade
Podem ocorrer grandes mudanças;
Mas para que possam ser prósperas;
Devemos agir com maturidade.
Em um estado que dizem ser tão banal,
Podemos observar a grande diversidade
Não apenas do clima montanhês para o tropical,
Do mesmo modo com as etnias encontradas na sociedade.
Em um estado dito como reles,
Podemos provar o contrário;
Mostrar nosso destino erudito,
Porque fazemos nosso próprio dicionário.
Em um estado onde surgirá a estrela prometida
“Que a luz sobre nós quer espalhar”;
Na verdade, nada disso importa,
Já que no futuro nosso povo de diversas culturas vai brilhar!
Gênero: Crônica
1º lugar: UM ESPELHO DE CEM OLHOS
(JULIANA DOS SANTOS CINTRA – 1º I-1)
Outro dia, numa curta viagem ao Rio de Janeiro, eu e amigos conversávamos sobre o “rosto” de cada parte de nosso Brasil e, ao final, percebi que havíamos deixado passar um dos componentes de uma importante região do país, meu querido estado, o Espírito Santo. Devíamos apenas tê-lo esquecido por um momento; afinal, falávamos de tantos lugares ...
Nessa mesma noite, porém, ao sentarmo-nos todos para assistir ao típico jornal, perguntei: “Será que amanhã, quando eu retornar, poderei ir à praia?”. “Pergunta retórica”, afirmou um amigo, “em Vitória é verão o ano todo”. Preferi esperar pela previsão do tempo. Não demorou muito, em cinco minutos ela apareceria. São Paulo, Rio, Minas, Fortaleza ... Uberaba (!). Cadê o Espírito Santo? Aquilo me intrigou. Perguntei então, sem me dirigir a ninguém: “Por que isso?”, e meu amigo Roberto respondeu friamente: “O seu estado não faz diferença, é neutro, vocês não possuem uma identidade ... Nem ao menos um sotaque!”. Dei-me conta de que a ausência do “importante” estado na conversa de mais cedo teria sido proposital; afinal, “o Espírito Santo não possui sua face”.
Nosso estado fora criado por uma bela miscigenação de diferentes povos e será que por detrás dessa rica cultura brotou algo transparente? Penso o contrário. O elo dessas diferenças criou, na verdade, uma cultura puramente única e misteriosa, que acabara criando seu próprio mosaico com a união do congo, da casaca, da moqueca capixaba, da areia preta.
“É, Roberto ... Teria me precipitado se dissesse que o Espírito Santo possui uma só face. Ele possui várias, muitas ainda por mim desconhecidas, mas nem por isso inexistentes. Assim prefiro, de coração. Uma eterna busca por infinitas descobertas, uma viagem ao desconhecido, um espelho de cem olhos, que cabe a cada um interpretar da maneira que achar melhor”.
2º lugar: O MINEIRO E O CAPIXABA
(MARIANA DE OLIVEIRA LEITE – 1º A)
Uma conversa, dois homens: o mineiro e o capixaba. O mineiro acabara de chegar a Vitória e já queria dar sua opinião (o que, para o capixaba, foi um tanto abusado):
- Veja bem: nós, mineiros, falamos “uai” e “ocê”. O carioca “puxa o xis”, o gaúcho fala “tchê” e vocês, capixabas ...
Mas o capixaba, como um bom devoto à sua terra, não deixaria o mineiro terminar a frase. Interrompeu-o e ferozmente começou:
- Nós, daqui do Espírito Santo, temos uma identidade riquíssima ... Muitas etnias (desde tiroleses até suíços) contribuíram como “peças” desse quebra-cabeça” gigante que é o nosso Estado.
- Mas ... – tentou interromper o mineiro, sem sucesso. O capixaba continuava:
- Mesmo que não tenhamos uma “forma definida”, alguns traços nos diferem dos demais brasileiros, como o gosto pela casaca e pelo congo e o nosso verbo “pocar”. Até a geografia do Estado propiciou variedades étnicas. Nas montanhas, o clima fresco atraiu os alemães. Chegando pelo mar, os portugueses se fixaram no litoral, inicialmente.
A cada argumento, o capixaba exaltava-se ainda mais. Foi nessa hora que ele fez uma pausa para tomar fôlego, a fim de retomar seu discurso “em prol do Espírito Santo”. O mineiro, vendo a brecha, não poderia perder aquela oportunidade. Adiantou-se:
- ... e vocês, capixabas, falam cantando. Era só o que eu ia falar. Se o capixaba tivesse deixado ...
3º lugar: CEGOS ESPERANÇOSOS
(LORENZA SILVEIRA ARRUDA – 1º I-2)
Semanas atrás, algo realmente chamou minha atenção: não por ser um fato fora do comum, mas por sua normalidade. Eu e alguns amigos fomos assistir a um “show de piadas”. Durante o show, o comediante apresentador fez referência a vários personagens do nosso Brasil, desde os gaúchos de bombacha e chimarrão até os nordestinos com seu “irreconhecível” sotaque. Cariocas, mineiros e paulistas também foram alvo de piada. No final da apresentação, meu amigo questionou: “E os capixabas?”. Todos o olharam, mas voltaram a assistir ao espetáculo.
Nossa cultura não ser reconhecida virou rotina. Nos conformamos com a idéia de não sermos vistos, porque não nos vemos. Do que vale ter apenas fé e crença, se essa não é forte para suprir a fraqueza de nossos braços?
A identidade capixaba só não existe para o próprio capixaba. Onde foi parar a “Estrela Prometida”? Simplesmente sumiu - ou nunca existiu? Nem um nem outro: ela existe, mas não a vemos. Continuamos a aguardar a “posteridade” e o “futuro esperançoso” de nosso hino. E esperamos, é só o que fazemos; enquanto isso, continuamos rindo das outras culturas, já que não vemos a nossa.
Gênero: Artigo de Opinião
1º lugar: IDENTIDADE PERDIDA
(GABRIEL DEL MAESTRO DUARTE – 1º I-1)
É muito difícil encontrar, atualmente, um povo que não valoriza sua cultura. É raro encontrarmos também comunidades que não valorizam seus próprios costumes e tradições e que, às vezes, até os desconhecem. Dessa forma se comporta o povo capixaba.
Em diversos lugares de nosso país, culturas próprias foram sendo desenvolvidas, com características que as distinguiam do resto do país. O Espírito Santo, ao contrário, acabou sendo uma mistura de costumes e tradições dos povos que aqui viviam, como negros, alemães, italianos e índios. Esses povos juntos, porém, não conseguiram impor traços marcantes em nossa cultura. Por isso, quando tentamos enxergar a cultura capixaba, nossa visão é embaçada por uma espessa névoa de dúvidas, já que nem nós mesmos sabemos quem somos ao certo.
Fico indignado porque “o capixaba”, como diria Francisco Aurélio Ribeiro, “é reconhecido pela negação”. O fato de não termos uma identidade própria nos caracteriza e nos diferencia do resto do povo brasileiro. Os capixabas deveriam se envergonhar dessa humilhação. Ao invés disso, parecem ter aceitado o fato de não saberem quem são.
2º lugar: O QUEBRA-CABEÇA CAPIXABA
(GABRIELA MAFFEI SPINASSE – 1º I-2)
O povo espírito-santense é um tanto quanto complexo, sendo extremamente difícil caracteriza-lo ou construir uma identidade única cuja abrangência alcance todas as manifestações culturais das diferentes etnias dentro do estado.
A verdade é que, quando falamos do Espírito Santo, a conhecida miscigenação brasileira é intensificada a ponto de criar um povo composto por muitos, uma união de culturas tão diferentes que acaba por tornar complicada a identificação de um todo. Certamente, o Espírito Santo é um exemplo da capacidade do brasileiro de interagir com as diferenças.
Um grande mosaico com pequenas peças ... Cada etnia presente aqui contribui, de alguma forma, para a construção do estado, deixando a sua marca e enriquecendo a cultura espírito-santense.
Decerto, o “uma, dó, lá, si e já” tão característico da infância de quem cresceu no Espírito Santo, ou a torta de bacalhau durante toda a Semana Santa, são particularidades capixabas. Assim como outros inúmeros símbolos e tradições. No entanto, nenhuma palavra caracteriza melhor a região do que diversidade.
3º lugar: MOSAICO OU QUEBRA-CABEÇA?
(Tatiana Theodoro Gasparini – 1º A)
Falar da identidade capixaba não é algo que os próprios capixabas têm tradição em fazer. Aliás, de tão preocupados em manter as culturas de diversas etnias presentes no estado (mas não do estado), muitos nem pensam nisso. Ao receber influências contínuas de outros povos, a maioria dos capixabas sabem mais de outras identidades que da própria.
Então, é correto afirmar que o povo capixaba não possui identidade própria? Que o Espírito Santo nada mais é que uma mãe infértil, criando filhos de outros para encobrir seu vazio? Acredito que não. Apesar da falta de tradição no assunto, há alguns anos não nos é mais estranho ouvir falar da cultura local. Apesar de o que é veiculado ainda ser pouco, já podemos acreditar que a nossa identidade não é um quebra-cabeças impossível, mas sim um belo mosaico que, como toda obra de arte, deve ser apreciado sob vários ângulos.
Como não se sentir capixaba ao dizer orgulhosamente que o “rei” Roberto Carlos é da terra, ficar indignado ao ouvir que a moqueca capixaba tem leite de dendê, ou ainda achar graça de um paulista perguntando “Mas o que quer dizer pocar”?
Para mim, o desafio não é encontrar uma identidade para um povo de tantas faces, mas sim apreciar um quadro que, à primeira vista, não parece bonito mas, depois, se revela de valor infinito.