A transgressão por parte de adolescentes, na escola, costuma ocorrer por simples rebeldia ou para “testar a invencibilidade adolescente”. Quando é tratada com os alunos apenas sob o enfoque da indisciplina e da punição, sem instigar à autorreflexão, não produz impactos significativos na formação de seres.
Trabalhar esse tema com discursos moralizantes pode assustar a alguns, irritar a outros e até despertar o desejo de transgressão em quem nunca a praticou. Apesar disso, a instituição escolar, como espaço coletivo que configura, não pode abrir mão de oportunizar o contato dos alunos com essas abordagens, seja para trabalhar questões emergentes (que exigem uma intervenção mais rápida da Escola), seja para criar consciências a longo prazo, considerando que a aprendizagem por modelos não se dá de modo uniforme, demandando tempos, ritmos e compreensões próprias de cada aprendiz.
Foi com essa perspectiva que o Da Vinci convidou para abordar o tema (com alunos de nonos anos do Fundamental e da 2ª série A do Ensino Médio do Da Vinci) o Sr. Josemar Antonio Sperandio, Delegado de Polícia, que se fez acompanhar por dois profissionais de sua equipe. Tendo feito uma explicação inicial para diferenciar as funções da Polícia Civil e Militar no tratamento da transgressão de cidadãos com os quais a sociedade convive, o expositor ampliou sua abordagem com relatos de casos e reflexões legítimas de quem traz a realidade do entorno para dentro dos muros da escola, a fim de estabelecer relações e gerar transposições.
Utilizando-se de exemplos reais e próximos do cotidiano dos alunos, mostrou o quanto atitudes transgressoras individuais repercutem sobre a vida de tantos, trazendo transtornos que levam à infelicidade do próprio transgressor e de muitas pessoas de seu círculo de relações, quando não de terceiros que sequer os conhecem. Nesse particular, foi dada ênfase à desgraça socioindividual que o vício por qualquer droga imprime à sociedade, bem como revelada a impossibilidade de a Polícia administrar a rede de influências em torno do tráfico e consumo de drogas, por melhores que sejam suas intenções e quadros de pessoal.
Sperandio defende a tese de que muitas transgressões são provocadas por uma perda da visão de autoridade e hierarquia - o que recomenda um trabalho conjunto de resgate por parte de escolas, famílias e outras instituições sociais -, além de apresentar uma análise dos riscos inerentes ao descumprimento das leis e regras sociais. Tudo isso com o enfoque da sensibilização predominando sobre a repressão.
O que era para ser uma palestra de uma hora de duração transformou-se em um momento compartilhado de 2 horas, com os alunos absolutamente interessados na condução do tema e participativos quando lhes foi dada a palavra, tanto que elaboraram uma “chuva de perguntas”, todas respondidas com critério e paciência pelo expositor. O encontro só chegou ao fim por um elemento da realidade: o chamado do palestrante para atender a uma situação de emergência.
Sem pretender que a palestra se reverta em mudanças imediatas de atitudes dos alunos que insistem em se portar como transgressores na Escola, verificamos que o tema inquietou a todos e fez com que estabelecessem relações e ampliações frente ao cotidiano escolar (que pode ser encarado como uma preparação para a vida), atribuindo outra dimensão a suas atitudes e tomadas de posição como alunos/cidadãos. É alentador poder contar com os pais dos alunos como parceiros da formação de consciências, compreendendo a importância de resgatar a educação de valores e virtudes para substituir a “necessidade de transgressão” típica do adolescente pela busca der autoconsciência e visão coletiva.