Acontece no dia-a-dia do Da Vinci:
humanidades numa escola de perspectiva cultural
(Maria Helena Salviato Biasutti Pignaton)
Em um espaço definido, no qual há concentração de pessoas de diferentes faixas etárias, inúmeras propostas de ação resultam em diferentes formas de compreensão e comunicação. Na convivência escolar – em que, além das funções que exercemos, há de real a presença das pessoas que somos -, o cotidiano traz bálsamos, vivências enriquecedoras e, por que não admitir, cômicas, mesmo que absolutamente sérias.
Se as observações colhidas em dias específicos ou em semanas de trabalho fossem anotadas e reunidas, poderiam compor livros que mereceriam estudos reflexivos. Eis a sensação que desfrutamos na comemoração do “Dia do Estudante”, no último dia 11 de agosto, por ocasião da entrega das lembranças carinhosamente preparadas pela Escola para celebrar a data.
Ambiente: Sala do Infantil I-1, com as crianças sentadas em rodinha, preparadas pedagógica e socialmente pelas professoras para o momento.
Situação: A professora, que certamente utilizara grande parte do dia letivo para desenvolver o “conteúdo” Dia do Estudante, volta-se para seus alunos e pergunta a eles, no momento de nossa entrada em sala de aula para lhes entregar suas lembranças.
- O que devemos falar para “elas”?
E os aluninhos prontamente respondem:
- Obrigado(a)! (antes de receberem o presente).
Parece engraçado, não? Mas pensem só que “dureza” descobrir a hora certa de pronunciar cada palavra nova que se aprende. Seria o momento do Bom Dia ou do Obrigado? A comunicação e seus dilemas ...
Enquanto falávamos com os alunos dispostos em rodinha, ouvíamos o choro de uma criança que estava no banho. Chorava muito, e alto. Paramos a conversa com o grupo e fomos verificar o que acontecia. Embaixo do chuveiro, as lágrimas corriam, acreditem, misturadas à água.
- Por que você está chorando, Isadora?
- Porque o bandaid de princesa saiu do meu pé.
Que dor! E a riqueza do cotidiano recomenda que, em algumas situações, o educador se volte para o individual dos alunos, em sua aprendizagem no “lidar” com o mundo.
Ambiente: Outra sala do Infantil (grupo de alunos de três anos).
Situação: Ao receber o presente da Escola, a aluna Bruna, numa manifestação de espontaneidade (com toda uma performance corporal), assim se manifesta:
- Que presente lindo! Meu pai e minha mãe vão “amar”. Eles sempre dizem que tudo que a Escola faz deixa eles muito felizes.
Para essa aluna, a Escola está representada positivamente e é encarada como uma parceira da Família no educar/cuidar.
Ambiente: Mais uma sala do Infantil (grupo de alunos de dois anos).
Situação: Na semana anterior, estivéramos com os estudantes para lhes entregar a lembrança do “Dia dos Pais”. No Dia do Estudante, comemorado apenas três dias depois, estávamos nós novamente com eles, em situação idêntica. E indagamos aos alunos:
- Que dia é hoje?
Olhando para as caixas que tínhamos em mão (semelhantes às que transportaram as lembranças do Dia dos Pais), sem pestanejar, responderam em coro:
- Dia dos Pais!
Para os pequeninos que constroem ideias tão grandes como Dia dos Pais, Dia das Mães, Dia do Estudante ... quanto a aprender e significar!
Ambiente: Anfiteatro, em momento coletivo do projeto “Aprendendo a Ouvir” (para alunos do Fundamental I)
Situação: Ao final da rica apresentação musical da “Sinfonia da Alvorada”, os alunos receberam, de modo personalizado, as camisas temáticas do “Dia do Estudante” concebidas pela Escola. A princípio timidamente, mas depois efusivamente, os alunos passaram a nos abraçar e beijar com carinho, numa revelação coletiva de seu afeto para com a Escola. A preocupação em “pagar mico”, que tanto inquieta essa faixa etária, quando estão em grupos, foi substituída pela alegria de ser o homenageado do dia; de se sentir acolhido e experimentar a sensação de pertencimento.
Ah, se déssemos conta de registrar tudo de lindo que se passa diante dos nossos olhos, dentro dos muros da Escola! Para lembrar que os muros que nos cercam não nos separam; só nos oferecem segurança. Trazemos de fora e levamos de dentro o que construímos num espaço em que não existem muros: nós.