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Relato: Três Santas
03/09/2010 · por Joelmo Costa · Tags: Viagem Acadêmica


Na última semana vivenciei uma experiência impar em minha formação profissional: participei da Viagem Acadêmica às Três Santas (Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina), acompanhando cinquenta e dois alunos do 4º ano do Ensino Fundamental. A preparação da viagem iniciou-se bem antes, no ano passado, quando, juntamente com uma equipe de educadores, fui convidado a colaborar na organização da viagem. Convite aceito, tratamos de organizar encontros de preparação e contato com os professores e alunos das séries envolvidas. Nunca antes havia trabalhado com alunos e professores das séries iniciais, pois em toda a minha caminhada pedagógica estive centrado na outra ponta do processo: o Ensino Médio. Eis o desafio que me instigava.

     
Joelmo explicando aos alunos sobre o Vale do Canaã e Graça Aranha

     
   Alunos no Museu de Biologia Professor Mello Leitão - Santa Teresa


Serpentário do Museu Mello Leitão - Santa Teresa

Trata-se da primeira viagem dos alunos longe do ambiente afetivo e protetor da família e perto dos desafios de aprendizagem proporcionados pelas atividades pedagógicas, iniciadas com a viagem de trem até Fundão e as aulas sobre Geografia e História, na subida de ônibus até Santa Teresa. No Vale do Canaã resgatamos algumas passagens da obra prima de Graça Aranha, que soube captar em seu romance as angústias vividas pelos imigrantes. Estávamos todos ali, de frente para o vale e vivendo a história in loco. A arquitetura da rua antiga de Santa Teresa, o Museu Mello Leitão, a Casa Lambert, a Igreja Matriz e o monumento em homenagem aos primeiros imigrantes italianos da cidade, todas analisadas com o chamado “olhar de ver” dos alunos, que anotavam a todo instante as suas observações, visando a produção de seus diários de bordo.

 
Museu da Imigração Pomerana - Santa Maria de Jetibá


  
Igreja Luterana em Santa Maria de Jetibá


    

     
Apresentação dos alunos em Santa Maria de Jetibá

Já em Santa Maria de Jetibá, o foco estava na cultura pomerana. Visitamos o Museu da Imigração, as igrejas e o cemitério da cidade. Os alunos perceberam que a casa que abriga o museu perdeu em valor histórico, pois a prefeitura preferiu a destruição da casa original (datada da década de 30 do século XX) à restauração.  Em Santa Leopoldina, por sua vez, exploramos a diversidade da origem dos imigrantes e a importância tropeira e fluvial da cidade para o escoamento do café no início do século XX. As aulas de Geografia e História tiveram como cenário a ponte e praça da cidade. Nas três cidades, os alunos interagiram com a história local, atuando em peças teatrais que socializavam a saga dos imigrantes. Nesses momentos, os professores ficavam como espectadores, pois o momento era totalmente deles, com direito até a fala no dialeto pomerano.

     
Visita ao cemitério de Santa Maria de Jetibá

  

Durante os três dias, foram exercitadas as normas de conduta e as regras de convivência em grupo; o estímulo à autonomia cognitiva por meio da pesquisa, análise e síntese; a exploração e a percepção do meio como atalhos para o conhecimento a ser alcançado. À noite, após o banho e o jantar, direcionávamos os alunos ao auditório do Hotel Solar dos Colibris para compartilhar apresentações culturais (coral italiano na primeira noite e tocadores de concertina na segunda) e logo depois eles trabalhavam na elaboração do diário de bordo, sistematizando o conhecimento com relatos que abordavam não apenas o que chamamos de conteúdo específico, mas também as experiências adquiridas em razão da viagem. Muitos alunos, por exemplo, relataram o que presenciaram no cemitério de Santa Maria do Jetibá, pois ficaram impressionados com a quantidade de túmulos de crianças e com a mortalidade infantil em décadas passadas (depois, resgatamos o tema com uma passagem do livro Karina, que destacava a morte de uma criança por uma gripe forte no final do século XIX). A equipe pedagógica passava pelas carteiras orientando e corrigindo os textos, num vai-e-vem do aprender tão presente nesse segmento. Muitos alunos finalizavam as atividades depois das 21h30min com uma disposição invejável, movidos pela sede do conhecimento. Numa viagem acadêmica com esse espírito, a aprendizagem também é do professor. Sendo assim, que venham muitas outras descobertas!

       
Elaboração do diário de bordo

 
Tocadores de Concertina

      
Porto das Canoas - Santa Leopoldina

   
  Marcelo Moreto explicando sobre o escoamento de café pelo Rio Santa Maria da Vitória



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