Foi com grande expectativa que recebemos para uma palestra, neste dia 14/10, Leonardo
Batista e Fábio Leão, ex-detentos, com Telma Fraga e Alexandre Farina
Lopes, juízes de Direito, para falar aos alunos, pais e professores sobre experiências "no crime", a difícil regeneração, a presença das drogas devastando às vidas dos envolvidos e das famílias e também sobre o Projeto Grão, que busca auxiliar na "volta por cima" dos ex-detentos.
Abaixo, segue a matéria produzida pelo "gazeta online".
14/10/2010 - 16h32 - Atualizado em 14/10/2010 - 16h32
Projetos de ressocialização levam ex-condenados ao sucesso profissional
Estudantes lotaram a quadra de uma escola em Vitória e ouviram
histórias de quem entrou na criminalidade e se reergueu após a prisão
Letícia Gonçalves - gazeta online
Entre o ringue e o crime. Assim o atleta Fábio Leão, 35 anos,
define a própria vida. Praticante de artes marciais desde a
adolescência, foi também precocemente que o ex-detento entrou na
criminalidade. Aos 13 anos já havia cometido o primeiro assalto a mão
armada, depois passou para roubo de carros e tráfico de drogas. Uma
ficha que o levou a cumprir sete anos de prisão.
Sem nunca
desistir do esporte - ele treinava até mesmo dentro da cadeia - Fábio
Leão ganhou a liberdade e muitos títulos. É atualmente o segundo
colocado no ranking da Confederação Brasileira de Kick Boxing na
categoria 75 kg Low Kiks. "O crime não compensa. Quando a pessoa quer
tem como mudar de vida. É o querer e a pessoa também ter uma ajuda".
foto: Gildo Loyola - GZ
Tudo
isso foi possível no Projeto Grão, do Rio de Janeiro, uma iniciativa da
juíza Thelma Fraga que, durante a criação do projeto, trabalhava na 1ª
Vara Criminal de Jacarepaguá. Agora ela se dedica exclusivamente à ação,
que acompanha 144 presidiários e ex-presidiários do Estado do Rio.
A
magistrada avalia que, sem a ajuda de projetos como esse, que auxilia
os egressos do sistema penitenciário na busca por uma colocação no
mercado de trabalho, dificilmente os ex-presidiários conseguem uma
oportunidade. "O detento tem uma marca que não se apaga quando ele sai, e
se verifica que ele tem uma passagem, as portas se fecham".
A
mesma juíza que sentenciou muitos dos internos da unidade foi ao
presídio Muniz Sodré, no complexo de Bangu, buscar os futuros
beneficiados com a iniciativa. A ideia de ir até o complexo foi do
primeiro participante do Grão, o hoje empreendedor Leonardo Batista. "Eu
queria que ela fosse lá ajudar os outros presos também", conta ele, que
cumpriu mais de dois anos de pena e agora é presidente de uma
cooperativa de material reciclado na Cidade de Deus.
Foi no
presídio Muniz Sodré que a juíza conheceu Fábio Leão que, com o apoio do
diretor da unidade, dava aulas de artes marciais aos presos.
Atualmente, a magistrada acompanha diretamente 33 ex-detentos do
projeto.
Essas e outras
histórias foram contadas nesta quinta-feira (14) aos alunos do colégio
Leonardo da Vinci, em Vitória. Jovens do 9º ano do Ensino Fundamental e
do 1º e 2º ano do Ensino Médio lotaram a quadra da escola e ouviram
atentamente como foi possível aos ex-detentos sair da criminalidade e
alcançar sucesso profissional.
A aluna Ana Clara Benevides, 15
anos, conta que se emocionou com os depoimentos. "Acho que deu para
tocar todo mundo, mostrou uma realidade totalmente diferente da nossa.
Eu não esperava ouvir isso das pessoas. Até chorei, me emocionei
bastante"
O juiz Alexandre Farina, coordenador do Projeto
Começar de Novo, no Espírito Santo, também participou da palestra. Ele
diz que atualmente cerca de 1,2 mil presos trabalham no Estado. De
acordo com a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) somente os internos
já sentenciados podem exercer a atividade. Os 1,2 mil que trabalham
representam 17% do total de 6,8 mil presos condenados.
No
Espírito Santo há ainda um decreto que prevê que 3% dos postos de
trabalho em empresas contratadas pelo governo Estadual sejam preenchidos
por detentos e que outros 3% sejam ocupados por ex-presidiários.
Farina
destacou que a intenção do projeto agora é oferecer cursos
profissionalizantes tanto para sentenciados quanto para presos
provisórios. Para isso o projeto já estuda uma parceria com entidades da
indústria e o setor privado. A juíza Thelma Fraga diz que veio ao
Estado a convite do juiz e que pretende prestar uma consultoria
voluntária a projetos voltados a ressocialização de detentos capixabas.