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Os desafios da educação cotidiana
25/02/2011 · por Maria Helena Salviato Biasutti Pignaton e Paula Pretti · Tags: Eventos Da Vinci


     Nos dias 17 e 18 de fevereiro de 2011, em três momentos distintos – palestra para pais da Educação Infantil ao 5º ano do Fundamental; do Fundamental II e do Ensino Médio -, o Da Vinci recebeu a professora e doutora Leila Rentroia Iannone (assessora da escola desde a fundação e interlocutora permanente da Direção), com a intenção de trazer norteadores para a continuidade da aproximação entre escola e famílias, no ano letivo de 2011, um foco no qual temos investido cada vez mais intensamente, dada a sua relevância para a formação de homens e a educação de qualidade.

     Especialista em Educação, com ênfase em currículo e avaliação, profissional atuante, atualizada e conhecedora dos mais diversos perfis de escolas e famílias, a professora Leila trouxe para a discussão o tema: “Desenvolvimento socioemocional, em evidência em diferentes núcleos de discussões – como as políticas públicas e as ONGs de dimensões educacionais.”

          
     Em todos os contatos com pais de diferentes de segmentos, Leila pontuou a importância de Escola e Famílias estarem atentas, em suas esferas, às mudanças cada vez mais velozes da “sociedade” ou “do mundo”, numa visão mais ampliada. Destacou também o papel fundamental das duas instituições na orientação segura aos alunos/filhos e na contribuição para que aprendam a “caminhar com as próprias pernas”., saibam lidar com negativas, controvérsias e limites e estejam abertos a demonstrações de amor, mas com responsabilização e racionalidade.

          
     A questão dos princípios e valores, tão volatilizados na sociedade contemporânea, voltou à tona. “Se houver clareza em matéria de princípios, não há necessidade de impor regras, pois elas apenas refletirão convicções e ideais cultivados pela Escola e Família, como pilares da Educação”, salientou Leila. No âmbito das famílias, é essencial que os pais acompanhem seus filhos atentamente, verifiquem o que estão fazendo ou produzindo, com quem estão andando, ou ainda o estado físico e emocional em que chegam até as suas casas. Já no seio da Escola, o aluno deve ser enxergado como homem integral, em suas aptidões, desempenho cognitivo, inteligência emocional e atitudes éticas, consciente de sua integração à coletividade, pela qual também responde. “É preciso trazê-los para perto da gente, para que saibam como é a vida, como são feitas as coisas, do que são constituídos e como se sustentam os princípios”.


 
          
     Novamente abordando as relações interpessoais contextualizadas ao desenvolvimento socioemocional, a professora Leila alertou para o fato de que as famílias têm reduzido os tempos informais e presenciais de convívio e conversa, substituindo-os por outras ocupações (como o trabalho, estudo, entretenimento e lazer) e às vezes acreditando que a conexão tecnológica produz o mesmo efeito. Para ela, os filhos (de maneira geral) estão perdendo a intimidade e a convivência com suas famílias, o que tem se resumido a situações formais, ensaiadas e inócuas para a formação dos princípios.  Na Escola, também, dependendo de como se conduz o trabalho cotidiano, as relações humanas são frias, impessoais e muito voltadas para o academicismo e não para habilidades socioemocionais ou para uma bússola moral forte.

     A professora Leila revisitou também os pilares da Educação contemporânea, demonstrando como muitas vezes eles se limitam a um jogo de palavras-chave ou  frases de efeito, sem se projetar na convivência cotidiana, seja nas famílias, seja nas escolas:

1- saber ser – ajudar os jovens a descobrirem quem são, a se descobrirem como pessoa;


2 – saber conviver – esquecer o imediatismo e o egocentrismo; pensar no outro e respeitar seus espaços;

3 – saber fazer – trazer para a vida as aplicações do conhecimento, visto que conteúdo puro não basta. É preciso educar o filho para o mundo do trabalho e a vida acadêmica. Eis uma preocupação mundial.


4 – saber aprender – desenvolver competências para aprender sozinho e para incorporar o espírito crítico e o senso investigativo ao  contato com o conhecimento.
 
                
     Além disso, foi salientada a necessidade de instigar os alunos/filhos no sentido de reconhecer o próprio talento e enfrentar limitações; ter consciência quanto às dificuldades pessoais, estabelecer projetos de vida,  persistir para atingir metas e atuar em colaboração com os demais, aceitando as diferenças e sabendo direcionar as qualidades próprias e dos outros para uma construção coletiva ou solidária.

     Adaptando os exemplos trazidos para a realidade de cada segmento, a professora Leila demonstrou como a sequência de ações e reflexões, por parte de Escola e Famílias ao longo da vida escolar dos alunos/filhos, propicia-lhes maior segurança, consciência, responsabilização e condições de gerir o próprio destino. Demonstrou que a Escola não pode cumprir sua missão sem o apoio da Família, assim como a Família não pode trilhar sua história sem considerar o coletivo trabalhado na Escola. E então trouxe as dificuldades nessa relação, o que é visível nos juízos de valor que algumas famílias aplicam às escolas, dependendo da mudança de perpectiva, muitos deles carentes de fundamento e reveladores de uma concepção de que a Escola está para servir e não para inquietar ou fazer refletir.

  • quando há insistência nos privilégios para os filhos e a Escola não contemporiza – Escola apontada como repressora.
  • quando há um abrandamento da exigência em relação às atitudes cotidianas dos filhlos/alunos  - a Escola apontada como indevida.
  •  quando se detecta flacidez no trabalho com limites – a Escola apontada como algoz.
  • quando as Escolas adotam controle cotidiano via tecnologia, não investindo nas relações – a Escola apontada como onipotente.
  • quando as Escolas são incisivas em matéria de relações humanas, busca de intimidade e preocupação com exemplos – a Escola apontada como reguladora.
     Algumas Escolas também aplicam seus juízos de valor às Famílias, criando qualificações e classificações que também devem ser repensadas, cedendo lugar a uma postura de acolhimento e de compreensão das diferentes dinâmicas familiares, em sua complexidade, sem impor padrões ou guiar comportamentos que se aplicam a um contexto, e não a outro.


 
     As palestras também foram bastante ilustrativas de, como em cada faixa etária, se pode criar um espírito cooperativo entre Escola e Famílias, seja no tocante à contextualização do conhecimento (estimulando os filhos/alunos a praticarem o olhar observador sobre o entorno; o estabelecimento de relações/conexões; a apropriação do senso comum e da atitude investigativa; a consciência cultural e a desalienação frente à realidade), seja no tocante à propagação de outras dimensões sem as quais o conhecimento se torna estanque e inerte, formando seres insensíveis e indiferentes perante o universo alheio: a ética, a moral, o senso humanitário, a visão holística, a cultura do pensar, a solidariedade.

     Após as palestras, a professora gentilmente atendeu ao pedido da Escola para responder a algumas perguntas que cotidianamente inquietam pais e professores, no exercício da função educadora:

Qual o maior desafio da educação nos dias atuais?



São muitos os desafios  da educação em nosso país..Entretanto, destaco dois:



- O primeiro é a formação básica do professor que no Brasil está relegada a segundo plano.



- O segundo é a baixa qualidade do ensino que decorre da formação inadequada do professor.

Nosso desempenho nos exames internacionais é desanimador. Podemos dizer que a educação em nosso país não é prioridade de fato.O discurso até que valoriza o trabalho educativo,mas a prática desmente as intenções.


A relação família/escola é muito importante. O que podemos fazer 
para estreitá-la ainda mais e alcançar maior eficácia?



Cabe à escola criar espaço para o acolhimento dos pais e propiciar a orientação necessária para suprir  as necessidades dos filhos. No entanto, é preciso que os pais sejam receptivos a essas iniciativas , assumam posições cooperativas,atendendo  ao chamado dos educadores. É preciso estabelecer uma linguagem comum para que família e escola sejam compreendidas como complementares pelas crianças e jovens.

Qual a principal diferença da educação nas diferentes faixas 
etárias - Educação Infantil; Fundamental I; Fundamental II e Ensino Médio? Quais os principais desafios para cada uma?

Não vejo uma diferença principal, mas conjuntos distintos de desafios educativos. As diferenças residem nas necessidades de cada faixa etária e nas características próprias de cada uma. Além disso,esses desafios são de naturezas  distintas:curriculares,disciplinares,relacionais, afetivas, dentre outras. Educar é um processo complexo que envolve inúmeros fatores e contingências e não se define por uma ou outra condição, mas por uma multifacetado repertório de aspectos.


   
     Na vida atribulada que levamos e no fluxo de demandas que por vezes nos consomem, é fundamental abrir um espaço em nossas mentes para que se deixem tocar pelas vozes lúcidas e pensamentos ampliados dos profissionais que lidam com a educação tanto filosófica quanto pragmaticamente. O retorno de Leila trouxe muitos pontos para inquietação, repensamento, recondução. Que iluminem a convivência cotidiana entre Escola e Família e nos auxiliem na busca de denominadores comuns e no estabelecimento de novos desafios, sempre para somar, nunca para dividir.

Abaixo, o arquivo aprensetado pela professora Leila durante as palestras e as sugestões de bibliografia.




Arquivos para download
Power_Point_Palestra_Leila_Iannone_no_Da_Vinci.ppt (2848 Kb)


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