01/03/2011 · por Maria Helena Salviato Biasutti Pignaton · Tags: Expressão e Pensamento

O pensamento inicial de muitos sobre o grafitismo, por confundi-lo com a pixação, aponta para o vandalismo, o estrago, a poluição visual. É preciso, pois, distinguir bem os dois gêneros: se a pichação é clandestina, o grafite é autêntico; se a pichação é um traço da malandragem, o grafite é um estímulo ao talento; se a pichação é disputa de poder, o grafite é partilha de possibilidades.
   
Uma reflexão ampliada sobre o grafitismo traz diferentes olhares sobre essa “arte de rua”: arte temporária, de vida curta; arte menor, por sua efemeridade; não-arte, pela rapidez de feitura; super-arte, por sua velocidade de criação; meta-arte, pela reflexão sobre a própria arte; arte engajada, devido à exploração de temas sociais; arte primitiva, devido à execução por não-artistas; arte avançada, por abrir possibilidades para artistas adormecidos.

Considerar a Arte como “dom” de nascidos privilegiados; desconsiderar talentos; descartar a Arte como movimento de aprendizagem e criatividade; pensar em Arte e falar de Arte como um bem distante dos simples mortais. O grafitismo vem se contrapor a todos esses equívocos, combatendo uma tendência à exclusão que atinge disciplina indispensável a todas as especialidades.
   
No Centro Educacional Leonardo da Vinci, a Arte é história; presença constante; via de acesso. É esse ideário que deu causa ao projeto “Grafite na Escola”.
   
Durante o primeiro semestre de 2011, como parte dos resgates e tributos em torno de nosso patrono Augusto Ruschi, alunos de nonos anos, sob orientação dos professores Emílio Fernandes Rocha e Itamar Tristão (Mazinha), grafitarão o muro do parque aquático da Escola, antes tomado por mosaicos com temas do esporte. O produto final, a ser apresentado ao público passante pelo local, será resultado de estudo, criação, trabalho e voluntariado a muitas mãos (parte da execução ocorrerá em dias não-letivos).
   
A mostra artística (nos muros) terá duração determinada. Assim que estiver danificada ou já tiver cumprido sua função, ou ainda quando outro tema instigante trouxer inspiração para os artistas, dará lugar a outras mostras.
   
Que todos os passantes apropriem-se do olhar estético, intenção do grafiteiro. Que os que venham a enxergar o processo valorizem diferenciadamente o produto, intenção da Escola.
   
Os projetos escolares (diferentemente dos políticos, sociais ou econômicos) precisariam ocorrer em tempo recorde, para servir à sociedade como formas de expressão de desejos, necessidades e modelos. No Da Vinci, lutamos por esse ideário, principalmente com nossa comunidade próxima: alunos e pais; professores, funcionários e colaboradores.
   
O acompanhamento do trabalho e dos registros (até a produção final – grafitismo no muro da Escola) propiciará aos leitores um panorama sobre esse “novo” modelo de arte. Convidamos a todos para que fiquem atentos ao processo, enviem opiniões quanto às fases; emitam pareceres sobre o produto. Só assim o encontro entre produtores e apreciadores, missão maior do grafitismo, fará sentido.

O Da Vinci prova mais uma vez que apóia e propicia a cultura em seus mais amplos aspectos, com um olhar sem preconceitos sobre a arte popular, e sem abrir mão de seus ideais estéticos e seu comprometimento com a qualidade.

Fico muito feliz em ver que rapidamente Maria Helena se apropria da lógica do grafite e consegue poéticamente situa-lo no momento pós-moderno. Com um texto simples , mas de muita sensibilidade reconhece a potencialidade desta forma tão expressiva da arte contemporânea. Fico mais feliz ainda em ver o grafite ser utilizado por nossos alunos e integrado a esta escola que aprendo a admirar cada dia mais. Que o resultado seja satisfatório e que enriqueça com um pouco mais de poética e devaneio o nosso cotidiano. Grafite nas ruas já. Emilio Rocha.