No dia 27 de junho foi realizada uma das etapas do Projeto interdisciplinar MPB (Música Popular Brasileira). Oferecido há nove anos para as turmas do 2º ano do Ensino Médio, o projeto é organizado pelos professores Joelmo Costa, Lúcio Manga e Rodrigo Simão, que utilizam as suas disciplinas (português, história e geografia) como “pontes” para a formação cultural dos alunos. A MPB é um dos pilares da nossa cultura, pois traduz em forma de músicas, letras e ritmos, a mescla étnica que caracteriza a nossa sociedade. Índios, negros e europeus contribuíram, de formas diferentes, para a universalização de nossa música.
No projeto, as turmas são divididas e cada uma fica responsável em analisar e compartilhar com as outras, um movimento musical que contribuiu para formação da MPB e seus principais representantes. No decorrer de uma década, redescobrimos e destrinchamos a obra de Noel Rosa, Wilson Batista, Ari Barroso, Cartola, Chico Buarque, entre outros grandes mestres.
Neste ano resolvemos reformular o projeto: incrementamos a leitura do livro “Iniciação à Música Popular Brasileira” de Waldenyr Caldas e organizamos uma palestra musical com Tarcísio Faustini – apresentador do programa “Domingo Brasil” na rádio Universitária e um grande estudioso da música, Eliane Gonzaga – uma das maiores intérpretes do nosso estado e Victor Biasutti - violonista e apreciador da Bossa Nova.
A ideia da palestra era retratar a MPB pré-bossa, fornecendo aos alunos um embasamento histórico para que eles possam estudar os movimentos musicais em períodos posteriores (Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicalismo e Rock dos anos 80). O convite a Tarcísio, Eliane e Victor, ocorreu em março e o repertório já estava quase definido em abril, apesar da notória dúvida: Como falar da rica história da MPB antes da Bossa Nova, numa palestra musical de 1h e 30min?
Repertório ajustado, e-mails trocados, ensaios feitos, “pormenoridades” checadas, chega o dia da palestra (27/06), que se transformou num bate-papo musical, quando Tarcísio Faustini nos presenteou como uma bela demonstração da riqueza da MPB.
Nosso palestrante foi buscar na literatura de Gregório de Matos (o boca do inferno) os primeiros versos de nossas músicas, perpassando pelas cantigas dos negros por meio do lundu; pelo maxixe e marchinhas de Chiquinha Gonzaga; o pioneirismo e Donga em gravar primeiro samba no país (“Pelo telefone”); a sofisticação do samba nas letras de Noel Rosa, “o poeta de Vila Isabel; a versatilidade e o Choro de Pixinguinha; a importância da figura de Ari Barroso para a consolidação da música popular; o samba paulista e a irreverência de Adoniram Barbosa; a interpretação caricaturada da “pequena notável” Carmem Miranda; a “dor de cotovelo” de Lupicínio Rodrigues; a intensa paixão nas canções de Maysa; o samba-canção e a exaltação do mar de Dorival Caymmi na Bahia e o inconfundível baião de Luiz Gonzaga no nordeste brasileiro. Tudo isso com gravações originais pesquisadas por Tarcísio Faustini, algumas tocadas por um gramofone do início do século XX, intercaladas com a belíssima interpretação de Eliane Gonzaga e o acompanhamento do violão de Victor Biasutti.
Realmente, uma manhã prazerosa e cultural para os nossos alunos, que tiveram a oportunidade de realizar uma viagem histórica nos primórdios da MPB e retribuir com total atenção e respeito, a riquíssima palestra organizada por nossos convidados. Que venha a próxima etapa do projeto.
Depoimento do aluno Kaio Tonussi Alcântara (2ºano I2)
Foi de grande valia a palestra de Tarcísio Faustini. A juventude nascida na década de 90 tem mostrado desinteresse pela riquíssima música brasileira. A globalização tem estimulado a apreciação da música estrangeira (não a desmerecendo), e tem a tornado cada vez menos difundida a MPB entre os jovens. A execução do projeto do Centro Educacional Leonardo da Vinci que busca resgatar esse interesse é de grande importância para o crescimento cultural dos alunos.
O vasto conhecimento do palestrante me impressionou à medida que os acontecimentos pré-bossa nova foram apresentados. Em conversa com os professores e outros apreciadores da “boa música”, concluímos o grande repertório que Tarcísio Faustini tinha para nos oferecer. Entre as canções de Chiquinha Gonzaga, Noel Rosa e Pixinguinha, misturavam-se observações sobre o contexto histórico, particularidades e histórias cômicas dos compositores ali citados.
Vale ressaltar ainda a presença de Vitor Biasutti e Eliane Gonzaga que enriqueceram o momento com suas interpretações requintadas das músicas que eram analisadas. Em um encontro curto, porém valioso, o projeto tentou passar um pouco da história da música para os espectadores, os quais se não apreciavam ou conheciam a MPB têm agora motivos de sobra para se interessar por ela.