Relato de alunas educadoras:

No inicio do projeto “Matemática Solidária”, incentivado pelo Centro Educacional Leonardo da Vinci, sob orientação do professor Joelmo Costa e com apoio do professor Francis Monteiro, todos os professores (alunos voluntários) estavam muito animados e acreditavam que nossas aulas seriam suficientes para que os alunos da escola parceira (Aristóbulo Barbosa Leão) tivessem um bom desempenho na Olimpíada Brasileira de Matemática. Entretanto, logo no primeiro contato, notamos os desafios que viríamos a enfrentar: alunos inicialmente tímidos, sem iniciativa de questionar e que muitas vezes, mesmo sem compreender por inteiro o conteúdo, não solicitavam que parte da matéria fosse retomada. Diante desse contexto, nós, “alunos professores”, não poderíamos esquecer que parte do conteúdo que seria trabalhado não havia sido introduzida na escola das crianças, a qual, como toda a rede municipal de ensino em Vitória, encontrava-se em greve.

Nessa realidade inicial de sala de aula víamos o objetivo de preparar alunos aptos a participarem das Olimpíadas se afastando. A partir desse ponto, nossa missão mudou, e passamos a nos preocupar em melhorar “a base” dos alunos para que não tivessem problemas quando estudassem as matérias na escola (uma vez que, as condições oferecidas nas aulas do Leonardo da Vinci são incomparáveis, pois são seis alunos por sala com dois professores disponíveis).

Porém, nós, professores, ainda não nos sentíamos satisfeitos, pois percebíamos que faltava nos nossos alunos algo mais importante do que apenas os conteúdos. Era necessário que eles aprendessem a questionar, saber “os porquês”, não meramente decorar o que lhes era passado. E foi após compartilharmos com eles esse desejo/necessidade que os rumos do projeto foram outros. Durante a mesma aula (que explicamos equações de 1º grau) os alunos se mostraram mais interessados e, até mesmo alguns que então temiam pegar a caneta e resolver um problema no quadro, tomaram a iniciativa de levantar de suas cadeiras e sozinhos, tentar criar equações para que pudessem resolver. Incrível! Talvez essa seja a melhor palavra pra descrever seis alunos brigando para revezar três pinceis na tentativa de fazer o maior numero de exercícios possíveis; e pela primeira vez sentimos necessidade de nos dividir para poder dar a atenção que gostaríamos a cada um deles.

Quando tocou o sinal, sinalizando o término da aula, os alunos reclamaram por já ter acabado, e desejaram ter mais tempo para praticar e comprovar, para nós, os amigos e principalmente para si mesmos, que haviam aprendido o conteúdo, até então, mais difícil das aulas.

O ideal seria que o projeto Matemática Solidária servisse de inspiração para outros (como já ocorreu com as aulas de inglês, também oferecidas no Leonardo da Vinci) que levassem ao maior número de crianças a oportunidade que essas estão tendo. Pois foi com esse grupo seleto de seis alunos por sala, que pudemos perceber que capacidade todos têm, o que lhes falta é oportunidade de desenvolvê-las. E cabe a cada um fazer sua parte, pode ser algo pequeno, como doar um período de suas sextas-feiras a fim de tentar ajudar uma criança a se tornar um aluno melhor, e principalmente, um cidadão melhor.

As experiências vividas no projeto estão sendo enriquecedoras para ambos os lados. E uma coisa é certa: levaremos na memória esses momentos “únicos” que estamos passando juntos.
Maria Luiza Fontenelle e Luisa Baby são alunas do Ensino Médio do Centro Educacional Leonardo da Vinci e exerceram a função de professoras voluntárias, durante o primeiro semestre no projeto Parceria Solidária.

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