Não é todo dia que um avô-poeta se dispõe a estar na Escola para tratar de poesia com seus netos e os coleguinhas de sala. Quando tal figura é Italo Campos, nome atuante na Psicologia e nas Letras no cenário cultural capixaba, é preciso “abrir as janelas” para aqueles que não vivenciaram o momento.
A presença de Italo Campos no Infantil IV-B (turma frequentada por seus netos Júlia e Vítor, duas figurinhas), para conduzir um minirrecital baseado na obra “Embaralhando palavras” (de sua autoria e ilustrado por Wagner Veiga), foi uma daquelas cenas raras que ficam impregnadas no afetivo e no racional de uma escola em que a perspectiva cultural é a tônica.
Sabedor da importância de fundir real e imaginário na formação da personalidade, o visitante apresentou-se disfarçado de “Homem de Aço”, o que encantou as crianças por simbolizar o outro “eu” do familiar/profissional (o poeta/artista), mas pouco depois as inquietou, pois queriam ver face a face o benquisto avô dos colegas. Só a retirada da máscara as aquietou.
E então o Italo poeta declamou, calma e intensamente, os segredos de duas crianças travessas (“O Segredo”), as diferenças de gênero na interação com os brinquedos (“Bola ou Boneca?”), as curiosidades do universo rural distante das crianças urbanas (“O Pangaré”), trazendo para os pequenos o caleidoscópio de palavras, olhares e expressões que compõem a poesia.
Em seguida, as crianças retribuíram, declamando lindamente “A Fazenda”, escolhido pela professora tanto pelo trabalho de sonoridade com as palavras quanto pelo repertório empregado pelo poeta, muito próximo do Infantil, que lida com os animais como se fossem humanos - seja nas fábulas, seja em suas interações com o mundo real.
A declamação do poema “Código”, todo escrito na língua do “P”, trouxe dificuldades naturais de compreensão para quem ainda não se encontra plenamente alfabetizado, demorando para decifrar a mensagem de que “as meninas”, falando em “códigos”, “ têm uma magia que todo menino adora”.
No “Sítio do Pica-pau” poetizado por Vítor Campos, os netos-gêmeos do IV-B foram transformados em protagonistas do universo de Monteiro Lobato, transitando entre os ricos personagens “reais” e “folclóricos” do Sítio. Assim, a poesia foi assimilada pelas crianças como reino das possibilidades, encontros, viagens presenciais ou imaginárias.
Divididas entre os personalistas e os comedidos, os alunos concentraram-se e dispersaram-se na mesma proporção. Alguns, ansiosos, queriam se apresentar antes do término das declamações do visitante; outros davam a conhecer detalhes do seu universo; poucos tentavam traduzir em palavras o que os poemas expressavam; e os mais soltos mal conseguiam se conter nas carteiras. Uma interação muito real e uma boa fonte de inspiração para iniciativas culturais/afetivas que tragam a literatura do entorno para a sala de aula.
A interação desembocou num abraço coletivo e espontâneo dos alunos da sala que, já bem íntimos do visitante, o envolveram em um grande afago, como se fosse o tronco de um jacarandá do qual brotaram tantas sementes.
O livro de poemas que motivou esse encontro, e que já compunha o “Cantinho da Leitura” (biblioteca da sala) do Infantil IV-B, passou a contar com um autógrafo personalizado do autor: “Aos queridos amigos da turma Infantil IV-B, do ano do 2011, este livro e meu abraço”.
Italo Campos retornou à Escola na última semana letiva de julho para participar da Feira do Livro para o Fundamental. Encontrou oportunidade, assim, de continuar a entoar seus versos, de apresentar pessoalmente seu livro de poemas, de conversar/interagir com outros leitores (de faixas etárias mais elevadas. Trazendo a poesia como uma marca pessoal, preencheu um “cantinho do autor” com um quê de avoagem, em que literatura e afeto andaram de mãos dadas.
Parabéns a todos os envolvidos no projeto! Como diria o Herbert Viana, do Paralamas do Sucesso, "o poeta é a pimenta do planeta". Um momento mágico, de interação e de arte.