Em função da divulgação dos resultados do Enem 2010, no fim de setembro, o tema “ranking das escolas” está em pauta na sociedade, gerando interpretações e distorções de leitura que carecem de uma análise mais aprofundada.
Na condição de escola que lidera o ranking local, desde o primeiro ano em que houve divulgação de tais resultados (o que remonta a 2005), o Centro Educacional Leonardo da Vinci sente-se confortável para exercer uma postura analítica e crítica em relação às leituras superficiais veiculadas na Mídia e multiplicadas por outros “formadores de opinião”.
Independente disso, queremos parabenizar nossos alunos que participaram do exame em 2010, os quais alcançaram 690,64 pontos de média ponderada e colocaram-nos em condição hegemônica do Estado e em 29º lugar no Brasil, dentre as escolas do Grupo 1, composto por aquelas que participaram da prova com mais de 75% dos alunos (acima do quantitativo de 100). Vale lembrar que participaram deste Enem, alunos de mais de 22 mil escolas.
Embora seja uma ferramenta irreversível de avaliação de todos os alunos e escolas do país, dando maior transparência ao processo educacional, e sirva como objeto de marketing para muitas instituições de ensino, o ENEM sofre influência de muitas varíaveis que não podem ser desconsideradas, em qualquer análise confiável. A leitura fria dos números traz o risco de comparar injustamente escolas e estudantes que atuam em cenários completamente distintos, seja em termos de ensino/aprendizagem, seja em termos de objetivos e metas.
O próprio Inep, gestor do programa, esclarece em seu site institucional que, para efeito da divulgação dos resultados de 2010, “as escolas estão divididas em quatro grupos, de acordo com o percentual de alunos concluintes do ensino médio que participaram do Enem. O Grupo 1 é aquele cuja taxa de participação é igual ou superior a 75% (...) Pelo fato de o Enem ser um exame voluntário, dois aspectos devem ser considerados na análise das médias alcançadas por escola. O primeiro diz respeito às escolas com número reduzido de estudantes participantes do exame, o que torna a nota média pouco representativa do conjunto de estudantes da escola. O segundo aspecto a ser considerado – e que vale inclusive para as escolas com alta taxa de participação no Enem – é que os alunos participantes podem não representar o desempenho médio que a escola obteria caso todos os alunos participassem...”
Como, no caso do Da Vinci, não houve adesão total dos “nossos representantes” ao exame (134 alunos participaram das Objetivas e 83 fizeram a Redação, o que representa 88,2% de participação), fica evidente que o resultado da Escola poderia ter sido ainda mais representativo, o que acreditamos também se aplique a outras escolas locais. De qualquer forma, há que se considerar que o ENEM não apresenta caráter obrigatório nem é utilizado de modo uniforme como critério de ingresso no ensino superior, o que faz com que os estudantes se dediquem de modo diferente ao exame em cada estado, de acordo com suas pretensões em relação às universidades, que utilizam o ENEM de maneira diferente em cada processo seletivo.
Tomemos como parâmetro o resultado alcançado no estado do Rio de Janeiro, que em 2010 se configurou bem superior ao de anos anteriores. Sem pretender tirar o mérito dos estudantes/escolas cariocas, cabe lembrar que a UFRJ, principal universidade daquele estado e centro de interesse da grande maioria dos alunos de lá, adota o ENEM (Objetivas e Redação) como único critério de seleção para o ingresso no ensino superior e no ano deste resultado, já reservara 40% de suas vagas para esta avaliação. Assim, várias das escolas que apareceram muito bem no ranking divulgado obtiveram 100% de adesão nas Objetivas e Redação, a exemplo do Colégio São Bento (1º lugar, com 68 alunos) ou do Colégio Cruzeiro (2º colocado, com 84 alunos). Além disso, devido à iniciativa da UFRJ, os alunos e escolas do Rio de Janeiro passaram a dedicar-se integralmente à preparação para o exame, o que é compreensível no contexto em que estão inseridos e traz influências diretas sobre o resultado.
Já no Estado de São Paulo, os resultados não alcançaram a mesma excelência, o que se explica pelo fato do ENEM apresentar baixo impacto no processo seletivo das instituições de ponta daquele estado, tais como UNICAMP e USP. Trata-se de dois vestibulares longos e difíceis, com provas discursivas de todas as matérias, o que exige uma dedicação intensiva dos alunos para esses certames específicos, o que influencia negativamente sobre o desempenho dos estudantes/escolas paulistas no exame nacional.
Vejamos agora a situação da UFES, principal instituição de ensino superior no Estado. Aqui, o ENEM constitui somente um obstáculo a ser superado para que o aluno não seja eliminado na primeira etapa do vestibular, visto que a nota obtida nas provas objetivas é zerada para efeito classificatório e a redação não é considerada. Assim, os alunos capixabas detêm consciência de que o fato de alcançarem pouco mais de 50% da pontuação no ENEM já lhes assegura a disputa na segunda etapa, quando enfrentam provas discursivas e três questões de redação, num modelo avaliativo que também exige dedicação intensiva e especialização de saberes dos interessados.
No particular do Da Vinci, os alunos de terceira série do Ensino Médio são orientados a adotar escolhas/atitudes que impactam nossa média final no ENEM, mas que se configuram mais interessantes para nortear seus projetos de vida. A maior parte do tempo de estudo desses alunos é dedicada ao estudo das duas matérias objeto de suas provas discursivas na segunda etapa da UFES, pois no final das contas é isso que decidirá seu acesso ao ensino superior. Também há preparações direcionadas para os vestibulares de outras instituições, já que muitos de nossos alunos enfrentam o desafio de buscar universidades de alta especialização ou carreiras não contempladas pela UFES, o que também se reverte na obtenção de resultados expressivos pela Escola, fora dos limites do Estado. Desta forma, a preparação para o ENEM convive com outras necessidades/demandas, não constituindo o foco do trabalho.
Convivendo com essa realidade, é compreensível que, dos 134 alunos do Da Vinci que participaram das Objetivas, apenas 88 tenham realizado a Redação do ENEM. Agiram de maneira coerente com orientações que lhes foram prestadas pela própria Escola. Com efeito, entendemos que, se o aluno pretende ingressar na UFES e necessita dispender um tempo maior para realizar a prova objetiva de noventa questões aplicada no mesmo dia da Redação, deve priorizar as suas necessidades e focar em seus objetivos; pois, mais importante que contribuir para a média da Escola no ENEM, é conseguir aprovação no curso para o qual se inscreveu.
Embora nossos alunos tenham apresentado ótimos resultados no geral, pois detêm boa base, são capacitados/dedicados e alguns já haviam participado do exame quando cursavam a segunda série, já com bom desempenho, sabemos que poderiam ir muito melhor, se não tivessem de lidar com tantas “dispersões”. Isso não nos impediu de alcançar uma média em “Matemática e suas Tecnologias” superior à conseguida pela “Escola Técnica” (atual IFES); ou de atingir a nota mais alta de Redação da Grande Vitória, mesmo com tantos alunos de potencial na escrita tendo deixado de realizá-la por não valer para efeito de ingresso na UFES
Em relação à tendência de utilizar o ranking do ENEM como parâmetro de avaliação escolar, sem levar em conta as tantas variáveis que impactam a adesão dos alunos e sua preparação para o exame, é preciso descortinar algumas práticas que consideramos condenáveis e que não encontram respaldo em nosso projeto educativo, que prima pela formação continuada, pela perspectiva cultural e preparação para a vida.
É público e notório que, em todo o país, há escolas que selecionam os alunos para participar do ENEM, excluindo os “de risco”; outras que criam nomes de fantasia para dividir os contingentes de alunos, de acordo com suas potencialidades/limitações; outras ainda que adotam atitudes mais extremas, a exemplo do Colégio Objetivo de São Paulo, que criou uma nova escola, chamada de “Objetivo Integrada”, composta pelos melhores alunos de suas diversas unidades, obstinada em alcançar a primeira posição nacional (sem sucesso). Algumas instituições, já vislumbrando o alcance de um futuro desempenho favorável no ENEM, começam o processo de exclusão ainda mais cedo, adotando como critério de ingresso no Ensino Médio a prova de seleção (o famoso vestibulinho) e apresentando altos índices de reprovação no segundo ano. Contrapomo-nos a tais práticas por considerarmos que maquiam a realidade e atendem a uma única perspectiva.
O MEC vem tentando eliminar as distorções que se mostram cada vez mais visíveis, para o que a divisão em quatro grupos já se mostrou um avanço. Mas ainda é preciso encontrar novos critérios comparativos entre as escolas, considerando número de alunos e percentual de participação, pois não é justo colocar num mesmo bloco uma escola de 20 alunos, o Centro Educacional Leonardo da Vinci (com seus 134 alunos, mas não com participação total) ou os cursinhos preparatórios que atendem a mais de 500 alunos. São muitos pesos e muitas medidas que entram em jogo.
Voltando-nos para nossa escola, não é segredo que adotamos uma atitude democrática, abrindo vagas para quem chega primeiro, atraído pelo projeto educativo da Escola, que não adota o ENEM como prioridade nem aplica provas de seleção para avaliar alunos expostos a diferentes realidades educacionais antes de ingressar em nossos quadros. Uma das maiores críticas que ouvimos consiste em não organizarmos um “esquema de acesso”, lidando com filas no dia da matrícula e/ou priorizando a análise da vida escolar dos alunos e seus projetos de vida, em vez do desempenho frio revelado nas provas de seleção. De qualquer forma, temos clareza de propósitos e confiabilidade que nos autorizam a não seguir modismos ou responder às demandas de mercado.
Tudo o que foi exposto coloca-nos em condição de dizer, sem parecer “choro de perdedor”, que o ranking do ENEM nunca deve ser olhado de forma simples, linear e absoluta. Infinitas variáveis condicionam os resultados dos alunos, das escolas e dos estados, tendo sido o Espírito Santo alvo de algumas críticas injustas nos últimos dias. Além disso, desde quando o “ranking” começou a ser divulgado, o posicionamento do Da Vinci, mesmo sendo a primeira colocada, foi de crítica. O resultado do Enem é individual, representa uma avaliação do aluno e não deve ser visto como resultado de uma escola.
Ainda assim, enche-nos de orgulho manter o primeiro lugar capixaba neste ranking “meio torto” (mas que não pode ser relegado), mesmo não sendo um cursinho nem voltando nosso trabalho apenas para o desempenho no ENEM, mas sendo uma escola que prioriza a participação em Viagens Acadêmicas, Fóruns, Disciplinas Diversificadas, Jogos Esportivos, Gincanas Culturais, Festival de Teatro, High school, um conjunto de práticas que muitas outras habilidades, conhecimentos e formação integral lhes propiciarão para a vida.
Reiteramos nossos parabéns aos alunos e nosso compromisso com a qualidade educativa