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Encontro com Rubem Alves: Rara Beleza
13/10/2011 · por Paulo de Tarso Rezende Ayub · Tags: Da Vinci, Eventos Da Vinci, Expressão e Pensamento



O convite para o evento, anunciando “tema aberto, a partir do repertório e experiência do convidado”, já deixava transparecer que a vinda de Rubem Alves não consistiria numa palestra em moldes tradicionais ou na repetição de velhas fórmulas para incentivar a parceria entre Escola e Família.

A apresentação proclamada pela Diretora Maria Helena para acolher o convidado também prenunciava que Rubem Alves não estaria presente entre nós para apresentar soluções ou responder questionamentos.



Realmente, a trajetória de vida do filósofo-educador não combina com previsibilidade. Suas múltiplas facetas falam por si: acadêmico que dispensa apresentações; companheiro de cabeceira para apreciadores da boa Literatura, curiosos e especialistas em diferentes áreas; profissional com direito adquirido de falar quando, como, onde e o que quiser; gestor de um laboratório de manjares dos deuses, regado a Poesia, Filosofia, Música e Humanidades em geral; educador que fecha contratos para palestras sem roteiros predefinidos. Irreverente e polemista que se autointitula “bufão na Academia Universitária” e “persona non grata” entre os confrades das Academias de Letras”.

O palestrante tomou a palavra “emprestada” enquanto a apresentação era conduzida - para contar um caso - e Maria Helena optou por ceder-lhe a vez para que discorresse sobre o roteiro de ideias que havia preparado, ao que ele demonstrou disposição em modificar o rumo da prosa, de acordo com a interação com os presentes.



Rubem Alves começou sua reflexões pela heteronímia de Fernando Pessoa para defender que “cada um de nós é várias pessoas ao mesmo tempo” e reafirmar a crença do poeta português de que “nunca se consegue gostar de um poeta quando se o conhece”, o que sintetiza o artificialismo de contatos presenciais e as quebras de expectativas entre ficção e realidade.

Tratou da Literatura como porta de entrada para um outro mundo, ainda que sustentada em uma série de mentiras, como a eternizada por García Márquez em “Cem Anos de Solidão”, na forma de “chuvas de flores”. E trouxe a experiência estética propiciada por Van Gogh com sua tela “Os comedores de batatas”, que é muito mais comovente do que bonita, a ponto de tocar a fundo a alma do espectador e transportá-lo para compor a cena.

Desvelou a emoção de uma leitora estrangeira, que lhe revelou numa carta (escrita em Inglês) que, ao se deparar com a palavra “guarda-comida”, utilizada pelo autor em um livro de memórias, teve o coração transpassado porque a simples menção à palavra a reportara à infância e ao tesouro das sensações afetivas. E contou de sua relação afetiva com uma  leitora chamada Dina que, apesar de presa num abrigo para velhos, revelava uma jovialidade inebriante, tanto que inspirou no poeta a associação com o filme “Nunca te vi, sempre te amei”.

Trouxe a visão de inconsciente como baú de coisas esquecidas e da morte como um “bosque belo, sombrio e fundo” do qual ninguém será eximido a adentrar. E compartilhou a reflexão de que a antropofagia, praticada pelos índios ianomâmis, é um ritual de perpetuação da vida que em muito se assemelha à eucaristia da Igreja Católica ou à imagem do antropófago de livros, criada por Murilo Mendes para tratar da perpetuação da cultura.

Ao final deste belo percurso intertextual, encontrou espaço para declamar um poema de José Régio intitulado “Não vou por aí” para instigar cada um de nós a assumir as rédeas da vida e o protagonismo da própria história.

Nesses ires-e-vires de quem alega que o pensamento literário é confuso, mas na verdade demonstra que se trata de um misto de conexões, a fala “culturalizada” de Rubem Alves converteu-se numa ponte para reflexões aprofundadas sobre Educação.

Começou compartilhando uma experiência marcante que vivenciou na Escola da Ponte, em Portugal, quando foi apresentado à instituição pelo olhar arguto de uma menina de tenra idade, que lhe dizia reunir-se quinzenalmente com outros colegas para discutir focos de interesse e só depois dessa busca autônoma é que recorriam aos adultos para partilhar ou ressignificar conhecimentos.



Propôs a necessidade de reavaliarmos as funções da Escola pelo esquecimento de tudo que está a ela vinculado: aulas, professores, provas, alunos repetidores dos conhecimentos transmitidos, inteligência pensada como um programa de TV, campainhas e controles.

Propôs deixarmos as crianças dar vazão às perguntas, em vez de perderem tempo com a elaboração de respostas, muitas vezes repetições pautadas pela superficialidade. Ou olharmos para o professor como “lente” (aquele que lê) e não como uma entidade do saber.

Resgatou Roland Barthes e sua crença de que o aprender, muitas vezes, pressupõe esquecer tudo aquilo que se sabe e exercitar o desaprender. Questionou a universidade e suas teses em que tudo dá certo, o que é incoerente com o pensamento científico, pautado pela experimentação.

Não tocou no assunto ENEM nem na reformulação de currículos, muito menos nas comparações entre escolas ou em métodos inovadores testados a cada dia no campo da Educação. Um silêncio preenchido por outros ecos.

Rubem Alves fechou sua reflexão com uma imagem comovente: se tivesse que escolher uma metodologia para compartilhar com seus alunos, indicaria o ritual da antropofagia pela leitura, pela reflexão e pela sensibilidade perante o conhecimento, porque o ensinar/aprender só encontra validade quando significa compartilhamento de vida e sangue do coração humano.

A plateia de pais e professores, suspensa desde o início da palestra, levantou-se e aplaudiu de pé o convidado que, do alto de sua sabedoria, instigou-nos ao pensamento complexo e ao desejo de contracenar.

Sem estabelecer metas ou apresentar modelos de procedimentos, Rubem Alves humanizou o momento com sensibilidade, olhar observador, visão crítica, desejo de experimentar, espaço para criar. Um bom mote para o repensamento da missão formadora de Escola e Famílias na lida com crianças que não detêm os mesmos interesses dos adultos mas trazem em si o germe do saber: curiosidade e aptidão para experimentos e demonstrações.





TERESA CRISTINA GOMES GUERRA DO AMARAL · 16/10/2011 16h08
Parabéns à Escola por trazer para junto de nós, pais, pessoa tão sábia e culta que, com certeza, avivou o nosso pensamento e o pensar sobre a vida. Grata, Teresa Cristina

MARTHA CRUZ SPERANDIO · 19/10/2011 19h53
Parabens Maria Helena e toda equipe do Davinci,
vocês nos proporcionaram uma noite maravilhosa com o brilhante,grande Rubens Alves
Parabens!
Martha Sperandio e Josemar Sperandio



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