A tradicional “Fala da Direção”, na abertura da semana de planejamento 2012, mostrou-se sintonizada e iluminadora para estabelecer as bases de atuação no novo ano letivo.
O Diretor Geral José Antônio Gorza Pignaton tratou do ambiente de trabalho e das relações interpessoais, peças-chave na engrenagem de qualquer instituição e que muitas vezes não recebem a atenção desejada, comprometendo a saúde empresarial e a manutenção de empreendimentos. Além de convidar a equipe a promover a integração dos “novos”, alertou para a necessidade de estreitamento das relações no âmbito profissional, entre colegas/equipes de trabalho/segmentos. Trazendo diversas citações de Leonardo da Vinci e Martin Luther King para respaldar suas crenças, Pignaton terminou sua conversa com uma máxima própria visando à adoção do diálogo como sustento do cotidiano: “O silêncio é a forma mais cruel, perversa e criativa de fazer morrer a única coisa que dá sentido à vida: o sentimento”.
Em seguida, o Diretor Financeiro e de Comunicação Victor Affonso Biasutti Pignaton trouxe uma leitura integrada sobre diversos aspectos que regem o funcionamento da Escola: o investimento permanente na estrutura física como suporte ao pedadógico-cultural; a política de marketing em rede; as dimensões do terceiro turno (praticamente uma escola paralela de atividades de ampliação do currículo). É essa clareza de propósitos que propicia que, em meio às ousadas reformas e ampliações sobre a estrutura física ora em curso, o Da Vinci permita-se funcionar “provisoriamente”, sem perder o prumo ou deixar de divisar horizontes. Em sua fala e sem deixar de trazer a ousadia do novo marketing institucional (o conceito das bolinhas e o slogan “a melhor escola e ponto final”), Victor Affonso reiterou que o principal instrumento de marketing do Da Vinci está no “boca a boca”, a partir de um projeto educativo consistente que agrega os componentes da manutenção, inovação e reinvenção.
Por fim, a Diretora Pedagógica Maria Helena Salviato Biasutti Pignaton proferiu uma reflexão filosófica e também pragmática que vale a pena compartilhar com a comunidade em sua íntegra, porque traz de maneira transparente um ideário cultivado ao longo de muitos anos que prima pela qualidade em Educação, formação de homens integrais e interferência na transformação da realidade, sem se deixar contaminar por modismos ou soluções mirabolantes.
Fala da Direção Pedagógica – Proferida em 25/01/2011A responsabilidade de um discurso traz muitas implicações: as palavras podem ser como a felicidade que Vinícius disse ser pluma que vento leva pelo ar: voam tão leve e têm vida breve se não houver vento sem parar. Em outro modo de ver, essas mesmas palavras voam tão leve, mas podem ser duradouras porque sempre há vento sem parar: vindo do lado de cá ou do lado de lá.
Para qualquer das situações (serem breves ou duradouras), as palavras são poderosas. Levam à crença ou à descrença; a uma competição ou concorrência (Lino de Macedo). O risco de quem as profere é compromisso. E eu, como porta-voz da Instituição, opto por me comprometer.
Há mais ou menos 30 anos trago um mesmo benvir no planejamento: em alguns anos de forma mais teórica; em outros, brincando seriamente com palavras. Sempre de forma intencional (não maliciosa ou projetada), mas na dependência de minha agenda interna ou leitura de contexto. Por vezes (ou para alguns), as palavras com que expresso meus pensamentos, sentimentos e conhecimentos podem parecer lugar comum ou pouca mensagem; para outros, após ouvi-las, revertem-se em conhecimentos que não possuo, pensamentos que não tive, sentimentos que não percebi. E assim estamos, cada um a seu modo, crescendo, aprendendo, preenchendo-nos.
Hoje compreendo melhor essa interação: nas palavras que proclamo estão minha marca, meu viver. As mensagens que vocês captam trazem as suas marcas, os seus viveres. E é esse “diálogo monologado” que nos torna ininterruptamente juntos, a cada início de ano, na rotina que compartilhamos, nos encontros mantidos com segmentos, áreas ou pessoas/profissionais para gerir, revisitar, projetar. Essa forma de gestão compartilhada (sem deixar de ser diretiva) faz-nos experimentar a sensação comum de buscarmos um mesmo fim/meio: a interrelação e compartihamento de ideias e ideais como possibilidade de progressão de vida positiva para nós, nossos filhos, netos, alunos, senão pela semelhança de crenças e condutas, pela coexistência de valores.
Acredito que esse ir e vir em nossas lutas para manter a sintonia, mesmo que sem a pretensão de ocuparmos as mesmas linhas de uma pauta musical – o que me faz lembrar da “Fábula da Convivência”, de Schopenhaur, e pensar que os espinhos que cobrem os corpos não estão presentes somente nos “porcos-espinhos” -, fortifica-nos primeiro como indivíduos e institucionalmente como equipe.
O que quis dizer, se é que já não o disse, é que paira no ar, não só do ambiente físico da nossa Escola como dentro de muitos dos que por aqui circulam (e levam para onde andam), sensações, percepções e compreensões muito comuns. Ano após ano, mês após mês, dia após dia, segundo após segundo, nas palavras que utilizamos para nos comunicar, nos gestos ou ações do nosso cotidiano, alimentamos uma filosofia de crenças fundamentadas na experiência, estudo e compartilhamento entre profissionais que acreditam no seu ofício.
Como por mim proferido na formatura dos alunos dos nonos anos de 2011, sem a intenção de achegar-me a Drummond de Andrade, estou sempre tentando, junto com minha equipe, “preparar uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças”.
No atual cenário da Educação Nacional – atrasado em relação a grande número de países -, a avaliação externa clareia, para instituições e pessoas, que a avaliação não é processo que só o aluno deve passar, pois, “se o aluno não aprende é porque o professor não ensina’ (Lino de Macedo). Assim, o ENEM, nosso já “velho” c onhecido”, deixa-nos antenados: como estamos realizando o nosso fazer? Estamos despertos e antenados? Vimos atuando de verdade na formação de seres pensantes e cidadãos?
Há tempos que já vão longe, Pignaton e eu estivemos em Bragança Paulista (SP) ouvindo Maria Helena Finn e outros representantes do Governo em cargos ligados à Educação sobre a futura implantação do hoje tão propalado ENEM. Trouxemos o tema para discutir em reunião do Ensino Médio e em seguida tivemos como foco de formação as competências para o professor, do educador francês Perrenould. Isso me faz refletir como a Educação é cíclica, porque tudo que se propõe demora a acontecer por falta de posicionamento da sociedade, da responsabilidade e compromisso dos profissionais de Educação e principalmente de um projeto político consistente por parte dos governantes.
Por conta disso, grande parte das escolas brasileiras encontra-se engolindo goela abaixo receituários para preparar alunos aptos a entrar em universidades pela via do ENEM, exame que se propõe a avaliar habilidades e competências desenvolvildas pelos estudantes durante sua vida acadêmica. O maior perigo não está nas receitas, mas no fato de acreditamos que recebendo receitas faremos bons bolos!. Basta lembrar da “Boca de Forno” – na verdade, ganharemos bolo, que nada mais é senão uma metáfora da velha palmatória.
Se em nossa prática não houver o amassar do açúcar e da manteiga antes da utilização da batedeira, jamais saberemos o que é liga; se não untarmos a fôrma de alumínio antes de utilizar os adereços modernos e tecnológicos (que não precisam ser untados), nunca saberemos o que é crosta. E isso porque não se ensina a nadar tendo como dever de casa a realização de movimentos dos braços, pernas e movimentos respiratórios no quarto de estudos.
O texto a seguir trouxe para mim, ao fazer sua leitura, uma mensagem semelhante à que deixei transparecer no início de minha fala. Num jogo de palavras expressas racionalmente, mas com a beleza do balanço de um artista-cientista, tornam transparente tudo que as Habilidades e Competências, foco de nossa formação para 2012 em todos os segmentos, devem propiciar a um professor que respeita e valoriza sua profissão e trabalho.
"Para Sara, Raquel, Lia e para todas as crianças"
Carlos Drummond de Andrade
Eu queria uma escola que cultivasse
a curiosidade de aprender
que é em vocês natural.
Eu queria uma escola que educasse
seu corpo e seus movimentos:
que possibilitasse seu crescimento
físico e sadio. Normal
Eu queria uma escola que lhes
ensinasse tudo sobre a natureza,
o ar, a matéria, as plantas, os animais,
seu próprio corpo. Deus.
Mas que ensinasse primeiro pela
observação, pela descoberta,
pela experimentação.
E que dessas coisas lhes ensinasse
não só o conhecer, como também
a aceitar, a amar e preservar.
Eu queria uma escola que lhes
ensinasse tudo sobre a nossa história
e a nossa terra de uma maneira
viva e atraente.
Eu queria uma escola que lhes
ensinasse a usarem bem a nossa língua,
a pensarem e a se expressarem
com clareza.
Eu queria uma escola que lhes
ensinassem a pensar, a raciocinar,
a procurar soluções.
Eu queria uma escola que desde cedo
usasse materiais concretos para que vocês pudessem ir formandocorretamente os conceitos matemáticos, os conceitos de números, as operações... pedrinhas... só porcariinhas!... fazendo vocês aprenderem brincando...
Oh! meu Deus!Deus que livre vocês de uma escola
em que tenham que copiar pontos.
Deus que livre vocês de decorar
sem entender, nomes, datas, fatos...
Deus que livre vocês de aceitarem
conhecimentos "prontos",
mediocremente embalados
nos livros didáticos descartáveis.
Deus que livre vocês de ficarem
passivos, ouvindo e repetindo,
repetindo, repetindo...
Eu também queria uma escola
que ensinasse a conviver, a
coooperar,
a respeitar, a esperar, a saber viver
em comunidade, em união.
Que vocês aprendessem
a transformar e criar.
Que lhes desse múltiplos meios de
vocês expressarem cada
sentimento,
cada drama, cada emoção.
Ah! E antes que eu me esqueça:
Deus que livre vocês
de um professor incompetente.Memorizar os Hs 1, 2,3, ..., 30; os DL, CF, SP, CA, EP ... é o mesmo que copiar pontos ou memorizar nomes. É a reprodução, no ensino/aprendizagem, de definições estabelecidas e não da construção de conceitos que trazem alguma
expertise para nós por força de muito estudo e esforço de alguns.
Deus nos livre do ENEM, PISA, SAEB e outras avaliações externas trazerem para nossos alunos o produto e não o processo da aprendizagem, tornando-os passivos e repetidores, a modelo do que tanto criticamos como educadores por não propiciar a formação de homens, tampouco a movimentação para transformá-los.
Que as avaliações externas, isto sim, sejam uma fonte inspiradora para a valorização da dimensão humanística de nossa profissão: criadores de vidas e não salvadores da morte.
Para o meu tempo como espectadora e colaboradora na formação de uma geração apta a ser feliz com o que pode realizar pela combinação entre suas competências e as competências de seus mestres, certamente uma meta inesgotável. Convido-os, todos, a abraçar o desafio.
Obrigada Maria Helena e Pignaton por nos proporcionarem a possibilidade de construir uma escola como a desejada por Carlos Drumond de Andrade.