A gincana cultural realizada com alunos da primeira série do Ensino Médio é um projeto já instituído que retira alunos e professores da zona de conforto propiciada pelos conteúdos conceituais, fazendo-os adentrar no campo das habilidades e competências e em aspectos do ensino/aprendizagem que, mesmo não sendo mensurados com precisão, servem para boas reflexões e apontam para novas perspectivas de trabalho. Em 2012, tendo como foco a cultura italiana (que compõe o tema transversal do nosso currículo), a gincana desafiou os alunos no sentido de priorizarem o senso de realidade e a demonstração/aplicação de conhecimentos.
O fato dos alunos estarem todos no turno integral favoreceu a discussão/preparação/elaboração para algumas tarefas e o acompanhamento dos professores quanto às diversas habilidades exigidas pelo projeto. Além disso, trouxe para os alunos a necessidade de administrar, ao mesmo tempo, a montagem de seus planos de estudo, a execução das tarefas de H.E., a preparação para provas e as demandas da gincana. Assim, aprenderam a fazer escolhas e a priorizar frentes, tal como acontece na vida real.
Quem vivencia o processo de perto enxerga-o em suas belezas e fragilidades. Na execução das tarefas individuais, é nítida a constatação de que os alunos organizam boas apresentações e manipulam muito bem os recursos tecnológicos, além de demonstrarem habilidades de pesquisa e seleção de dados. Por outro lado, às vezes falta-lhes exercitar a oralidade em situações formais de comunicação, a leitura crítica e a apreciação estética, a criatividade e a demonstração de conhecimentos. Não brotam daí ótimos indicadores para reconduzir o trabalho pedagógico cotidiano?
A etapa mais ansiada por alunos (e também pelos professores) é a culminância da gincana, em que são realizadas tarefas relâmpago (conhecidas no momento da execução) e apresentadas as produções resultantes dos trabalhos de grupo do que se intitula como tarefas prévias, pois são apresentadas antecipadamente aos alunos e requerem uma dedicação extraclasse intensiva.
As tarefas relâmpago deste ano contemplaram a demonstração dos conhecimentos consolidados na agenda (potencial de memorização e estabelecimento de relações), bem como habilidades lógico-matemáticas (montagem de réplicas de carros, com base em manuais de instrução) e artísticas (releituras de quadros de Arcimboldo, para testagem de habilidades motores finas e senso estético).
Cada turma se fez representar por comissões de alunos, divididos por diferentes aptidões, de acordo com a natureza dos desafios propostos.
Já no tocante às tarefas prévias, sua execução resulta em uma sequência pedagogicamente interessante, porque revela os ganhos e dificuldades de aprendizagem, a adequação ou desvio em relação aos comandos propostos, a visão panorâmica ou focada em relação a alguns aspectos do conhecimento, as diferenças na apropriação dos conhecimentos por parte dos alunos mais/menos envolvidos. O mais bonito não está nas apresentações em si (sem desconsiderar o empenho da maior parte dos grupos no sentido de preparar trabalhos esteticamente impecáveis e de integrar linguagens), mas no fato dos alunos se apropriarem da perspectiva cultural com tanta naturalidade.
O que realmente mais conta (e deixa marcas) é sentir os alunos lidarem com a contextualização e a interdisciplinaridade como fatores integrados; caracterizarem-se como personagens de época ou trajarem fantasias sem recair para o caricatural; silenciarem por completo no momento de algumas apresentações numa demonstração da habilidade de saber ouvir; demonstrarem aptidões/ limitações que a pedagogia de conteúdos específicos não aborda; vibrarem com a cultura e o conhecimento, tomando o lugar da superficialidade.
Os registros fotográficos colhidos em diferentes momentos atestam a validade do processo, registrando a leitura de clássicos literários sobre temas integrados à cultura italiana, a gastronomia enxergada como componente cultural e legado histórico, a apreciação de pinturas renascentistas ou barrocas sob o olhar estético e científico, a releitura da unificação italiana (que não é sinônimo da harmonia que tanto se cultua em discursos idealistas), a fusão entre conhecimento e prazer, o que ressignifica muitos aspectos da vida que não captamos quando estamos desapercebidos.
Não é fácil para a comunidade educativa dar conta dessa complexidade nem há ilusão de que o processo envolve 100% dos participantes com a mesma intensidade e produtividade. Mas, sem dúvida, TODOS os alunos param para pensar em suas reais aptidões; sentem-se corresponsáveis pelo êxito ou incompletude de algumas tarefas; descobrem as possibilidades e os riscos da tecnologia, quando é o cerne de algumas apresentações; aprendem a dividir atribuições e a sentir o impacto do planejamento ou dos ensaios para a excelência; apreciam o conhecimento quando conseguem compartilhá-lo; enxergam a cultura como uma real possibilidade de vida, integrando-a ao seu cotidiano; entendem que o individual é impactante para o coletivo. Muitas aprendizagens ou, pelo menos, inquietações.
Ao serem avaliados por diferentes professores sob as perspectivas de amplitude do conhecimento, clareza e expressividade da linguagem, qualidade das apresentações em matéria de estética criatividade e organização, os alunos também recebem uma preciosa devolutiva sobre seus trabalhos e aprendem a lidar com a subjetividade dos olhares avaliativos, outra questão inerente à vida.
A gincana cultural de 2012, com as dramatizações de cenas baseadas em livros literários/documentais de peso, as releituras artísticas e científicas sobre temas do cotidiano, as coreografias do carnaval de Veneza ou as pinturas vivas de pintores do renascimento e do barroco, para além de sua face visível e do
colorido com que revestiu o cotidiano da Escola, desvela um misto de
aprendizagens e/ou lacunas que requerem a intervenção pedagógica
consciente, demonstrando que a pedagogia de projetos só faz sentido
quando serve para iluminar caminhos em busca do aprimoramento.
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