A diversidade de etnias que nos compõem encontra em cada um de nós um pedacinho do outro. Quando descobrimos a parte igual a nós no outro, tornamo-nos mais próximos e solidários; ao percebermos as diferenças existentes entre nós, sentimo-nos mais individualizados, completos em nossa incompletude.
A riqueza das etnias que se fundiram para gerar o que chamamos de gente capixaba apresenta-se como um caleidoscópio que mistura, com perfeição geométrica, luzes e cores em diferentes prismas, dependendo da forma como as olhamos/captamos. Não somos hoje nem italianos, alemães/pomeranos, portugueses, africanos, indígenas ou libaneses; nem tantas outras vertentes que nos constituem. Somos em verdade uma etnia outra, a capixaba, composta pela diversidade dos valores, culturas, histórias, lutas e conquistas que nossos ascendentes nos legaram, assim como de suas fragilidades e fraquezas, o que é inerente ao humano.
Em 2013, o Centro Educacional Leonardo da Vinci elegeu, como tema para transversalizar conhecimentos e valores, mais algumas etnias representativas na formação do povo capixaba, o que nos tornará um pouco mais conhecedores de nossas raízes. Completando a tríade que se iniciou pela cultura italiana em 2012, voltaremos nossos olhares em 2014 para as diversidades e equidades que transparecem no jeito de ser/viver do capixaba. Com o sangue dos descendentes pulsando em nossas veias, mas revigorado pela nossa singularidade, formamos outra tribo, vivemos outra aldeia. É tempo de deixá-la mais à mostra.
Dos índios, herdamos o desejo de liberdade; a sabedoria de aproveitar do meio somente o necessário; a oralidade pequena em estrutura, mas do tamanho do mundo em significação e conceitos; a arte manual ainda não publicamente considerada artística, por questões que ainda demandam um estudo aprofundado. Dá gosto estar com os índios na memória enquanto saboreamos cozido de raízes, peixe, paçoca... Muitas coisas que nos deleitam no cotidiano são legados indígenas; assim como outras que não nos atraem tanto, mas que não deixamos de reconhecer. A sensação não é diferente quando nos debruçamos sobre todas as outras etnias que nos integram, no individual e no coletivo.
O mês de fevereiro, no Da Vinci, se abrirá para pensamentos/aprendizagens/marcas indígenas, como se percebe nas agendas, carteiras estudantis e cartões de aniversários já entregues aos alunos; ou nas decorações e cartazes espalhados pelas artérias da Escola. Algumas brincadeiras indígenas que sobrevivem na etnia capixaba, mesmo estando adormecidas entre seus ‘criadores’ (peteca, pião, bilboquê), ressurgirão em nosso cotidiano. E um encontro entre as crianças do Da Vinci e integrantes da aldeia indígena de Aracruz concretizará os imaginários. Compartilhando de brincadeiras a oficinas de construção de brinquedos; do milho verde ao cozido de raízes; da música às danças, “sentaremos todos à mesma mesa”.
No próximo dia 25/02/2012, “indiozinhos” e “capixabinhas” experimentarão a lindeza e o estranhamento das diferenças e semelhanças entre etnias, sem a caricaturização com que muitas vezes tratamos os saberes ditos como instituídos.
P.S. Ao contar para meu neto que brincará com crianças indígenas na Escola, ele arregalou os lindos olhinhos inocentes e me perguntou, com expressão meio assustada:
- São índios de verdade?
Já dá para prenunciar as surpresas e conflitos que surgirão desse encontro, ao passarmos da abstração ao concreto. Mais uma oportunidade de viver de perto a grandeza da experiência e do sensorial que dão o tom numa “escola viva”.