Dando continuidade ao projeto onde publicamos em nosso site entrevistas
com sempre-alunos, conversamos com o sempre-aluno Eduardo Passamai, cirurgião plástico, que em uma entrevista emocionante nos conta como foi longa e nada fácil até chegar, como ele mesmo diz, "do Leonardo da Vinci ao Pitanguy".
O objetivo é não perdermos o contato com nossos
sempre-alunos e sabermos onde estão trabalhando, se estão casados, com
filhos, ... enfim, conhecermos um pouco da vida dos alunos que fizeram e
fazem parte da nossa história.
Confira a entrevista:
01) Nome completo Eduardo José Passamai de Cástro
02) Idade36
03) Em que ano se formou no Da Vinci? Quantos anos estudou na escola? Fui da primeira turma da 8ª I, na inauguração da escola e permaneci até o final do 2º ano, permanecendo por três anos na escola, na verdade posso dizer que foram três anos maravilhosos, durante os quais fiz amigos eternos e aprendi muito, inclusive a estudar.
04) Prestou vestibular para qual curso, para qual faculdade? Fiz vestibular sempre para Medicina, pois tinha um sonho de ser médico desde os seis anos. Fiz vestibular por quatro anos, dos 17 aos 20 anos.
05) Como foi receber, na época, a notícia de aprovação para um curso tão concorrido? Foi maravilhoso. O início de um sonho a ser realizado.
06)Por que Medicina? Simples, devido a ter nascido com lábio leporino, vivi minha vida inteira em consultórios médicos e odontológicos. Minha mãe sempre fazia questão de me levar em profissionais maravilhosos, portanto, fiz minha primeira consulta com o prof. Ivo Pitanguy aos dois anos e meio, sendo operado por ele em sua clínica algumas vezes. Numa das consultas, aos seis anos, disse ao professor Pitanguy que seria médico, cirurgião e seu aluno na escola.
07) Sobre sua trajetória profissional, sabemos que passou por uma experiência profissional ao lado do cirurgião plástico Ivo Pitanguy. Conte-nos um pouco sobre esta experiência e a importância dela na sua carreira. Era a realização de um sonho. Pra começar a falar da carreira, vamos um pouco no início. Quando eu estudei, tanto no primeiro grau como no segundo grau, nunca fui o primeiro aluno da turma e, sinceramente, somente eu e minha mãe acreditávamos que eu poderia realizar o sonho de ser médico e cirurgião, pois devo a ela, dentre muitos, o ensinamento de sonhar e buscar o sonho. Quando passei no vestibular ainda estava muito distante a realização de tudo o que eu queria, pois são seis anos de curso de Medicina mais a residência médica e alguma especialização. No meu caso, foram seis anos de faculdade, dois anos de cirurgia geral e um ano de cirurgia de trauma e vídeo e mais três anos de cirurgia plástica, completando um total de doze anos.
Busquei a residência médica em cirurgia geral no Rio de Janeiro, pois era a cidade na qual eu gostaria de morar, e queria ser cirurgião de trauma formado no Rio. Fui para o Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), e não foi fácil. Foram dois anos muito complicados, pois havia deixado em Vitória minha família, namorada, amigos. Acho que uma das partes mais difíceis pela qual passei foi ter que ficar no Rio por dois, três meses quase sem vir a Vitória, ficou um pouco pior. Acho que pelas dificuldades, distância dos amigos e família e o término do namoro, e, pelo trabalho que era intenso, pois naquela época o HFB era referência em cirurgia no Rio, pensei em desistir da residência e voltar pra Vitória. Acho que todos nós passamos por isso, principalmente na época da residência. Mas com a ajuda do meu chefe do HFB, Dr. Roberto Jamil Muharre, e do staff do serviço, comecei a operar e a estudar muito. Consegui realizar muitas cirurgias de trauma, vídeo, e me preparei para uma prova como a do Pitanguy. Quando passei na prova do Instituto Pitanguy, recebi o resultado pelo telefone, estava tão nervoso que não fui à reunião da cirurgia geral naquele dia, e só quem sabia que eu faria a prova era meu chefe, minha família e alguns poucos amigos. Recebi a notícia e saí gritando pelo hospital. Pode acreditar, abracei todo mundo que eu encontrava, e quando cheguei à sala do meu chefe, não precisei falar nada, ele me abraçou apertado e disse para todos os residentes presentes e internos (alunos do último ano de Medicina) “ ...gostaria de informar a todos que meu residente passou na prova do Pitanguy, vai fazer plástica na melhor escola de cirurgia plástica do mundo...”. Desde este dia, minha vida mudou. Fui até a clínica do professor Pitanguy agradecer tudo que ele representou para mim. Enquanto esperava para ser atendido por ele, via minha vida passar, lembrava de Vitória e dos meus amigos, lembrava de todos que diziam que eu não conseguiria, e lembrei da minha mãe me falando quando subi no ônibus indo para o Rio para fazer Cirurgia Geral, ela disse “... meu filho, não olhe para trás, siga seu caminho e só volte pra cá se for melhor pra você...”, mas, na frente do professor, eu não consegui falar nada, eu só chorei, pois foram anos de sonhos e naquele momento eu estava na frente do mestre da cirurgia plástica no mundo e, voltava a ser um menino.
Com sua equipe e com ele aprendi a postura de um cirurgião, a delicadeza do toque e a firmeza e a certeza nas palavras perante o paciente. Aprendi a simplicidade das suturas e a beleza nas cirurgias. Conseguia visualizar a arte e os vários artistas, seus toques pessoais nas diversas obras. Em sua clínica existe várias delas, livros de várias personalidades. Nós realizávamos atendimentos na Santa Casa do Rio de pacientes de diversas classes sociais e na Clínica da Dona Mariana, desde personalidades a pacientes que sonhavam em uma consulta ou uma avaliação pelo professor. Participávamos de diversos planos cirúrgicos, desde com o próprio professor nas quartas-feiras e pela equipe nas sextas. Ter a possibilidade de participar e dividir o campo cirúrgico com o professor Pitanguy e sua equipe, pra qualquer cirurgião é um momento único.
Enfim a cada dia era um passo a mais e o sonho a mais uma conquista, porém nunca deixei de fazer brincadeiras e palhaçadas, mesmo perto do meu staff e do professor. E, hoje, olhando para trás e em umas das nossas reuniões dos amigos de turma do Leonardo da Vinci (reuniões que geralmente fazemos duas vezes ao ano), fiquei feliz quando uma das amigas me disse, que da nossa turma, eu era o único que realmente fazia aquilo que sempre disse que faria, e mais feliz ainda com o telefonema de sua mãe marcando uma consulta comigo para realização de uma cirurgia plástica.
08) Qual seu maior sonho como médico?Poder realizar a Medicina com dignidade, respeito, dedicação e poder realizar uma cirurgia gratuita por semana, sonho esse que tento conquistar a cada dia e a cada instante que me visto e me sinto como médico.
09) E na sua vida pessoal? Casou? Teve filhos?Ainda não casei e não tenho filhos. Gosto de sair pra jantar, geralmente acompanhado de um bom vinho, pois sou enófilo, isso também devo um pouco ao Leonardo da Vinci devido aos professores Juarez e Paulo Gaudio. Eles, junto também com minha mãe, me apresentaram tanto a gastronomia, como depois já na faculdade, frequentava tanto o Oriundi como o La Cave e aprendi um pouco sobre vinhos. Morando no Rio e em São Paulo, fiz vários cursos sobre vinhos e junto aos amigos, adoro degustar um bom vinho, tocar violão, etc. Adoro ir ao cinema, e, agora, com a vida um pouco mais estabilizada, estou namorando e espero construir uma família sólida. Espero que ela entenda que a Medicina é um casamento profissional, e que em alguns momentos vou me ausentar, mas sempre para o trabalho, para meus pacientes e para minha família. Sempre namorei muito, mas casamento é uma coisa séria e acredito que possa ser para a vida toda. Por isso, tentei priorizar sempre minha vida profissional, pois essa é eterna. Minha “mulher” será além de tudo uma companheira.
10) Quais as principais lembranças da época em que estudava no Leonardo da Vinci?Como eu já falei, meus melhores amigos ainda são da época do Leonardo. Esses são realmente amigos de verdade. Nós nos separamos por cerca de quase 15 anos, cada um se formou em uma profissão diferente, mas nunca perdemos totalmente o contato. Há cerca de uns cinco anos, resolvemos começar a nos encontrar, e fazemos isso juntamente com toda a família. Na verdade, nós somos uma grande família. Nós nos envolvemos com os problemas uns dos outros, vamos às festas das crianças. Eu também vou, apesar de não ter filhos, sou tipo o tiozão das crianças. (riso) Não posso deixar de lembrar os ensinamentos, as conversas e os exemplos que tive com professores como Mário Broetto e Valéria, acho que foi importante para toda a nossa turma. Paulo Cesar (falecido) e sua peça de teatro do 2º ano I, que ganhamos. As viagens eram sensacionais, e conselhos de estudo de Pignaton. Uma vez ele me disse que eu era bom, mas eu como um atleta olímpico de salto em distância, só pulava 2m... E, pra passar no vestibular, tinha que pular pelo menos 3m. Essa distância de 1m era meu objetivo vencer, e acho que estou vencendo até hoje. Pignaton e Maria Helena pra mim são exemplos de vitória e de conquista. Falo muito isso com meus amigos e conhecidos.
11) Acha que o ensino que teve no Leonardo da Vinci contribuiu para sua vida, tanto pessoal quanto profissional? Como já disse, o Leonardo pra mim foi uma barreira. Aprendi várias coisas, os conselhos do Pignaton e dos professores, com isso pulei mais um metro, o que faltava. Passei no vestibular e segui estudando até hoje. Na vida profissional, foi o estudo e o exemplo do casal Maria Helena e Pignaton, valores de família e do trabalho. Na vida pessoal, são meus amigos. Esses serão eternos e verdadeiros. As brincadeiras que fazíamos e fazemos um com os outros e as palhaçadas. Em todas as nossas reuniões são as mesmas histórias e brincadeiras, sempre com a mesma alegria de um primeiro encontro.
12) Qual conselho daria aos nossos alunos? Algum conselho especial para os que sonham, um dia, tornarem-se médicos? Aos alunos de um modo em geral,... acreditem em seus sonhos, nunca deixem de sonhar e de buscar o sonho, pois eles podem e se tornarão realidade, basta querer. Aos que querem ser médicos, para isso necessita de muita dedicação, paciência e carinho com o próximo. O estudo hoje em qualquer meio é fundamental, mas primeiro você tem que aliar um bom estudo ao talento pessoal para determinada profissão. Um bom profissional médico, engenheiro ou advogado é aquele que alia o talento ao estudo, o sucesso profissional não vem por acaso, ele é um conjunto de todos esses fatores, aliados à paciência e ao tempo.
VALÉRIA MERÇON ASSAD · 14/05/2013 13h15É muito emocionante ler o depoimento de um sempre aluno tão querido e que lutou muito para chegar onde chegou. Continuo torcendo sempre por você!
Valéria