No decorrer de três anos letivos (a partir de 2012), a Escola adotará como tema transversal (nas atividades pedagógicas e culturais, e nos projetos institucionais) as etnias de maior influência na formação do povo capixaba. Já estamos a pleno vapor trabalhando a cultura italiana com toda a nossa comunidade, inclusive como mote das agendas do professor e dos diferentes segmentos de alunos.
Na última edição da Veja, a escritora Lya Luft publicou um instigante ensaio sobre o assunto, o que motivou a Diretora Pedagógica da Escola a se posicionar sobre o tema, dando um retorno à autora e ao portador do texto. Compartilhamos, no site da Escola, tanto o texto gerador quanto a manifestação de nossa Diretora Pedagógica, para que se amplie o debate ou se multipliquem as inquietações.
Nosso compromisso, ao escolher a imigração como tema transversal, não está apenas em abordar a questão sob a perspectiva histórica ou informativa, mas sim em tratá-la filosoficamente como um tema de vida, pois ela está impregnada no nosso cotidiano e muito revela sobre a alma desta nação.
Texto de Lya Luft:
Manifestação da Diretora Pedagógica do Da Vinci:Leio Lya Luft toda semana e convivo com a clareza e lucidez de alguns de seus artigos e com outras abordagens que não aprecio tanto, talvez porque preparadas para atender a uma demanda imediatista, sem tempo para elaborações.
O ensaio publicado em 11/04/2012 agradou-me sobremodo, revelando o potencial de superação da autora ao lidar com o desafio de escrever semanalmente para uma revista de grande circulação.
Trabalho em escola há 30 anos. Ao longo desse tempo, assisto a algumas comemorações caricatas em torno de povos indígenas e, menos comumente, afrodescendentes, sem falar nas leis ou artigos “criativos” que o tema suscita.
Como descendente de italianos (maioria da população de minha cidade natal), dou-me o trabalho de refletir sobre costumes, cultura e trabalho dessa etnia que tanto contribuiu (juntamente com outras) para o desenvolvimento do nosso estado/país. Nesses estudos, convivo com profissionais da educação envolvidos e envolvendo-se, grande parte deles com ascendência europeia (no Espírito Santo a regra é a diversidade, exceção feita aos asiáticos).
Não temos os “dias de” nem pleiteamos que sejam instituídos, pois todos os dias do ano estão impregnados de traços culturais e evidências trazidas dessas nações de origem. E assim é porque esses povos/povoações, como escreveu Lya, saíram de países que não os suportavam em busca de possibilidades de vida/sobrevida, optando por acolher nosso país como seu lugar. Aqui trabalharam, venceram e, junto com os negros e índios tão cultuados, construíram muito da nossa história, o que se perpetua por seus descendentes. De mãos quase vazias, contando com poucas ferramentas, os imigrantes rumaram ao desconhecido, numa analogia com a Arca de Noé. Teriam que pagar por algo que sequer haviam produzido, perderam muitos entes queridos, enfrentaram revezes ... mas sobreviveram.
O privilégio concedido aos “povos sofridos” (por questões de politicagem, não de política) cria preconceitos em relação a algumas etnias muito representativas de nossa formação. E por isso, desemboca num “folclore” às avessas, que traz mais curiosidades do que conhecimentos sobre as reais raízes da formação do povo brasileiro. Nesse sentido, a abordagem de Lya Luft lança luzes sobre um tema ora tratado superficialmente, ora objeto da omissão de muitos.
Se esta carta chegar às mãos de Lya Luft, ainda que somente, terá cumprido seu objetivo.
Atenciosamente,
Maria Helena Salviato Biasutti Pignaton
Diretora Pedagógica do Centro Educacional Leonardo da Vinci
Vitória (ES)