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A descoberta do silêncio: polifonia de leituras
10/07/2012 · por Paulo de Tarso Rezende Ayub · Tags: Disciplinas Diversificadas


As disciplinas diversificadas do Ensino Médio, além de se ocuparem de centros de interesse dos alunos a partir de temas instigantes, assumem o compromisso de trabalhar um livro com os participantes, potencializando sua competência leitora e o estabelecimento de relações entre o objeto de estudo e a realidade que o circunda.

A diversificada de Sexualidade agrega as percepções individuais e a dimensão sociocultural do tema, com ênfase à questão dos gêneros e à compreensão de mitos, tabus, preconceitos, disfunções e perversões sexuais. 

Para propiciar um olhar ampliado frente a essas inquietações que transpassam o tempo, foi escolhida para um trabalho de leitura/pesquisa/ampliação a obra “Kitty aos 22: divertimento”, do autor capixaba Reinaldo Santos Neves. O livro já fora trabalhado no Da Vinci sob a perspectiva literária, por se tratar de leitura obrigatória para candidatos a cursos de Ciências Humanas na UFES, mas é a primeira vez que é adotado como leitura obrigatória na diversificada de Sexualidade.

Classificado pelo próprio autor como uma fábula de amor contemporânea, o livro traz como fonte inspiradora as redes de relacionamento virtuais/reais que tanto atraem as atuais gerações, desnuda a linguagem de blogs e outros aplicativos e leva a depreender como a exposição de intimidades/privacidades na era digital assume contornos inesperados.

Os alunos da diversificada de Sexualidade, por se aprofundarem na reflexão crítica sobre a exposição da sexualidade na Mìdia e no ambiente virtual, interessaram-se pelo enredo da obra e, em conjunto com o professor da disciplina, optaram por montar uma exposição temática para socializar suas aprendizagens e impressões com outros alunos do Ensino Médio, criando um ambiente de compartilhamento e reflexão.

A exposição foi pensada sob três focos particularizados, mas complementares: ensaios fotográficos feitos nos cenários da obra para recriar vivências de Kitty e de seus pares; ensaios artísticos para exercitar potencialidades dos alunos na elaboração de desenhos ilustrativos ou instalações; apresentação de impressões leitoras com diferentes perspectivas. A melhor estratégia encontrada para viabilizar o projeto entre alunos que estudam integralmente na Escola foi montar grupos com diferentes atribuições e fóruns de discussão extraescolares, sob coordenação dos mais envolvidos.









No dia de culminância da diversificada, foi apresentada à comunidade a exposição temática “A descoberta do silêncio”, restrita ao corpo docente e a alunos do Ensino Médio, a fim de evitar distorções de leitura por falta de maturidade dos visitantes para lidar com os temas/focos da abordagem.

Tal exposição foi separada em dois eixos, para desvelar a trajetória de Kitty: de ser interpessoal para intrapessoal. Na seção mais preenchida/produtiva, manifestações da Kitty exibicionista, blogueira, mascarada, vazia de si mesma, dada às relações e indisposta para as reflexões. Em outra ala mais silenciosa, a Kitty filosófica, inquieta, amadurecida, sem resposta para muitos de seus dilemas. As Kittys da vida real e do apelo ao consumo postas em contato com outras formas de estar no mundo, com maior reserva e reconsideração de atitudes inconsequentes.

Rica em detalhes, a exposição era composta por um mosaico de fotografias, desenhos, cartazes, legendas, instalações e recursos digitais, tudo disposto de maneira aparentemente caótica, porém bem articulada. Como trilha sonora, as canções ouvidas por Kitty durante a semana de férias que se transforma em sua jornada existencial e como pano de fundo, um blog criado especialmente para a ocasião e um vídeo com rompantes de subjetividade, de encontro da personagem consigo mesma.
Os visitantes, conduzidos pelos idealizadores, compreenderam de modo abrangente a configuração e o propósito da exposição, as nuances das instalações e os jogos de sentidos entre imagens/palavras. Não ficaram a ”ver navios”, como às vezes ocorre em eventos dessa natureza que carecem de uma contextualização precisa aos apreciadores.











No último dia da exposição, contamos com a visita do autor da obra que, igualmente conduzido pelos idealizadores, interagiu com eles e apreciou a forma ousada dos leitores se apropriarem da criação estética. Mesmo marcada pela tendência utilitária e por um tom de denúncia quanto ao exibicionismo e superficialidade que grassa em tempos atuais, a exposição cumpriu seu papel de comprovar que, quanto mais o leitor se apropria das dimensões literária e científica da obra de arte, mais ganhos alcança em sua autoformação e interação sociocultural.





Desmontada com a mesma rapidez com que fora erguida, a exposição “Kitty aos 22” teve vida efêmera, mas um efeito permanente de fazer pensar, sem se submeter acriticamente a tudo que a revolução dos costumes nos tenta impor. Que o digam os depoimentos dos leitores que participaram do processo, deixados anônimos por representarem as vozes de tantos:

“Após a leitura do livro “Kitty aos 22: divertimento”, percebi que, apesar dela ser uma mulher atraente e sensual, seus atos a tornaram incompreensível e vulgar. O que compõe uma pessoa não é só a aparência.”

“Em sua jornada de uma semana, Kitty foi levada a repensar sua vida e se indagar: ‘quem sou eu?’. Ao acompanhá-la nesse dilema, pude partilhar suas perguntas e fazê-las a mim mesmo, ou seja, a viagem de autodescobrimento de Kitty leva o leitor ao próprio autoconhecimento e questionamento de sua personalidade.”

“Ao ler o livro da Kitty, pude refletir sobre a sociedade em que vivemos. Os jovens estão cada vez mais banalizando certas coisas a que antes era dada grande importância, como o sexo, o valor da família e de amigos. Devemos tomar muito cuidado com o nosso corpo e lembrar que nossas atitudes de hoje trarão sérias consequências em nosso futuro.”

“Kitty aos 22 me ‘pegou’ pela palavra. Nunca imaginei que a linguagem divisora de opiniões da rede pudesse virar material estético dessa dimensão. Mas Kitty também me fez olhar para a realidade com preocupação, com as Kittys que cruzam por nós, com as que se mascaram, com as que se constroem por ditames do grupo. Das Kittys e Kittys que se multiplicam em tempos de banalização...”

“Kitty me levou com ela nessa jornada de autoconhecimento e amor próprio. Em meio a essa vida fútil, a bela exibicionista ganha densidade.”

“Kitty aos 22: Divertimento” de certa forma se aproxima de nossa realidade. Uma realidade na qual a linguagem chula é completamente normal no dia-a-dia, e os relacionamentos se tornam cada vez mais banais. Kitty é o produto deste meio de banalização afetiva: não é atenciosa quanto aos seus relacionamentos e, embora seja o que muitas garotas desejam ser (bonita, com dinheiro do pai e desejada pelos homens), torna-se uma garota vazia e incompleta.”

“Kitty me mostrou uma visão de mundo que eu jamais vira igual. Uma realidade que está tão próxima de mim e ao mesmo tempo tão distante. Uma realidade que eu preferiria não enfrentar mas que, ao mesmo tempo, serve de exemplo sobre como lidar com o mundo em minha volta.”



VICTOR HUMBERTO SALVIATO BIASUTTI · 10/07/2012 10h29
Excelente trabalho e excelente matéria.
Parabéns a todos!

LUIZ HENRIQUE DA SILVA MENEZES · 11/07/2012 16h38
A boa literatura sempre mexe com o leitor. Parabéns pela iniciativa de trazer para a reflexão dos nossos alunos textos e temas tão importantes.



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