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Fernando Pessoa no cotidiano
02/05/2013 · por Paulo de Tarso Rezende Ayub · Tags: Da Vinci


FERNANDO PESSOA NO COTIDIANO


 
    Como parte dos preparativos para o recital "Mãe Pessoa Poético", a ser realizado em tributo às mães no próximo dia 03 de maio de 2013, tendo os alunos de oitavos anos como protagonistas, o professor Paulo de Tarso (do Ensino Médio) esteve com as turmas envolvidas no processo, para apresentar um monólogo por ele elaborado,  representativo de uma  viagem a Portugal e de suas impressões sobre os heterônimos de Fernando Pessoa.  
 
    Fernando Pessoa foi uma das referências selecionadas pela Escola para ilustrar as contribuições da etnia portuguesa sobre a formação da identidade capixaba. O texto em questão (simulação de um minirrecital) trouxe uma sugestão de apropriação da poesia como um bem cotidiano e a observação do entorno com olhar observador.
 
    Os alunos acolheram o professor-visitante com atenção e estiveram atentos às palavras e versos proferidos, percebendo que o recital pode ser um gênero mais presente em nosso cotidiano, bastando que exercitemos nossa descontração para falar em público e resgatemos a prática de memorização e declamação de poemas, para os compartilharmos com pessoas de nosso círculo de relações.
 
    Atendendo sugestão da Diretora Pedagógica Maria Helena, o professor compartilha com os alunos interessados a íntegra do texto, esperando que o releiam para perceber suas linhas/entrelinhas e até se aventurem a memorizar alguns de seus fragmentos, pois isso pode auxiliá-los no treino para o recital, em que acolherão suas mães e outros convidados para um momento  cultural impregnado de afeto, despertando para a vocação/habilidade de ser guardiões e semeadores de palavras.
 
 
 
VIAGEM A PORTUGAL
 
As cidades transpiram seus homens de letras:
Taubaté transpira Monteiro Lobato
Ilhéus é sinônimo de Jorge Amado
Cordisburgo irradia Guimarães Rosa
Recife transpira Manuel Bandeira;
Rio de Janeiro, Carlos Drummon de Andrade
E Lisboa exala Fernando Pessoa por todos os poros.
O poeta do desassossego
Que na autopsicografia
Poetizou a gênese dos heterônimos,
Mais genial que os pseudônimos
Recorrentes em tantos artesãos da palavra
Foi minha motivação para uma viagem a Portugal
Com uma pontinha de inveja
Por não poder experienciar
Aquilo que Saramago ousou
Ao percorrer seu país com olhos de lince
Como se o nativo estrangeiro fosse.


AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
 




Minha viagem a Portugal não foi um caminhar turístico pré-planejado, nem uma obrigação de percorrer a cidade pelos quatro cantos, nem uma sequência de fotografias para compartilhar com outros. Lá aportei querendo sentir e viver Fernando Pessoa. Vim embora com o desejo de retornar outras vezes, para dedicar mais tempo a essa empreitada.



Vi muitas manifestações de magnitude em Portugal:

•     No Palácio da Pena, em Sintra, encarapitado no alto do morro, a se projetar por sobre a planície.
•       No mosteiro de Alcobaça, onde repousam lado a lado os trágicos amantes Inês de Castro e seu Dom Pedro, da história imortalizada por Camões em “Os Lusíadas”.
•       No Convento de Mafra, palco da obra “Memorial do Convento”, de José Saramago, onde me deparei com um jesuíta em escultura que exalava vida.
•       No Santuário de Fátima, cenário de recolhimentos e romarias, promessas e milagres.
•    Na Capela dos Ossos, em Évora, onde um epitáfio inquieta o viajante: “Nós, que aqui estamos, por vós esperamos”.
•       No monumento ao descobrimento, marco das Grandes Navegações.

Mas deparei-me também com a simplicidade de Fernando Pessoa
•       Fazendo companhia aos fregueses do Café A Brasileira
•       Enquanto Camões domina a cena do alto de uma imponente estátua
•      Com os restos mortais depositados no Mosteiro dos Jerônimos em uma edificação despojada
•      Enquanto,a curta distância,  Camões repousa num túmulo suntuoso
•     E o historiador Alexandre Herculano é homenageado com uma sala de exposição permanente.

E então descobri que a grandeza de Pessoa
•       não está na sua vida, mas na sua obra;
•       não transparece em suas marcas espalhadas pela cidade, mas nos versos inigualáveis que nos legou;
•       não está nos roteiros que exploram sua figura, mas na inspiração que nos deixou, para buscar os heterônimos alojados dentro de todos nós. 

Senti-me em Lisboa ora contemplativo como Caeiro, ora frenético como Álvaro de Campos, ora taciturno como Ricardo Reis. Um pouco de Caeiro ao contemplar o Tejo e sua coloração em metamorfose; um pouco de Álvaro de Campos ao sentir a metrópole pulsante e a Modernidade se alternando à Tradição; um pouco de Ricardo Reis, ao percorrer ruas congeladas no tempo e inspirar a melancolia que paira no ar.

Em Lisboa pude dar vazão, internamente,
Ao Álvaro de Campos que clama e questiona:

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,                             
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Ao Caeiro que nos ensina a apreciar e a exercer o sentidos:
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
 
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…
 
Ou ao Ricardo Reis que nos instiga a incorporar o “Carpe Diem”, tema da “Sociedade dos Poetas Mortos”.
Uns, com os olhos postos no passado,
Veem o que não veem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, veem
O que não pode ver-se.
 
Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa?
Este é o dia,
Esta é a hora,
este o momento,
Isto é quem somos - e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos.
No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos.
Colhe o dia, porque és ele.
 
O texto que retrata minha viagem-descoberta fala por si. Não quis lê-lo neste contato com vocês porque sei que já o conhecem e até proclamarão alguns de seus fragmentos no Recital “Mãe Pessoa Poético”.

Mas eu queria compartilhar com vocês as sensações de alguém que incorpora a poesia à sua vida e que nunca a sentiu tão intensamente como quando percorreu os recantos de Lisboa, tendo Pessoa no coração e na memória.

É uma experiência que vivi e que recomendo. (...)          Para vocês, que estão estudando e recitando Pessoa, e mergulhando nele e em seus heterônimos, vale a pena projetar uma viagem à cidade das sete colinas. Se não agora, quando adultos forem. Se não sozinhos, na companhia de familiares, amigos ou amantes. Com o coração aberto para descobrir que a cidade da qual brotou o criador dos heterônimos é um daqueles místicos lugares “para se conhecer antes de morrer”.
 



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